Jovens israelenses
pagam com prisão a recusa de ingressar no exército atuar além das fronteiras de
1967, reconhecidas pela ONU como legítimas
Natan Blanc* (tradução
de Katarina Peixoto), no Diário Liberdade, em Outras Palavras, 23
de novembro de 2012
Palestina - O
movimento surgiu em meio aos bombardeiros entre Israel e o Líbano, em 1982,
quando pilotos da Força Aérea Israelense decidiram não bombardear civis e não
tomar parte em operações militares fora de Israel.
De 1982 para cá, os
refuseniks cresceram e criaram uma rede internacional de solidariedade, que
hoje em dia conta com uma rede de financiamento para ajudar às famílias dos
“refuseniks” que, além de enviados a prisões militares, perdem o direito ao
soldo.
A primeira geração
de “refusenik” é fundadora do estado de Israel e tem dentre os seus mais
ilustres membros o escritor, falecido em novembro do ano passado, Peretz
Kidron. Kidron, de origem austríaca e militante de toda a vida da esquerda
sionista, era membro da Força Aérea e protagonizou o movimento de recusa de
tomar parte nos ataques que “cruzaram a linha vermelha”, na linguagem deles,
contra as populações civis no Líbano.
Desde meados dos
anos 1980, ele e os seus companheiros de resistência criaram o movimento Yesh
Gvul (“Há um limite”), e inspiraram muitos outros militares a não ultrapassarem
a linha que é de direito israelense.
A segunda onda de
“refuseniks” surgiu, não por acaso, por ocasião da Segunda Intifada, que
irrompeu durante o governo de Ariel Sharon. Também em 2006, na operação que
resultou num ataque ao sul do Líbano, uma nova geração de refuseniks se
organizou e, agora, seis anos depois, novos refuseniks, mais jovens, manifestam
sua disposição de ir para a prisão militar, mas não combater e não tomar parte
nos combates além da linha verde.
O jovem Natan
Blanc, de 19 anos, seguiu para a prisão neste domingo (18) porque se recusou a
tomar parte neste novo ataque a Gaza. “Como cidadãos e seres humanos, temos um
dever moral de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi
recusar entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012″‘, diz o
jovem em uma carta que denuncia a “onda de militarismo agressivo” em Israel.
A carta de Natan
Blanc foi publicada pelo blog Blog The Leftern Wall do escritor e poeta
israelense e estadunidense, Moriel Rothman, que mora em Jerusalém e saiu há
pouco da prisão militar por ser um “refusenik”.
Moriel tem 23 anos
e já cumpriu sua pena por ter se recusado a servir, em outubro deste ano. Os
“refuseniks” são os cidadãos israelenses que se recusam a ingressar nas Forças
de Defesa de Israel para atuar além da fronteira da linha verde, que é a
fronteira reconhecida pelas Nações Unidas como legitimamente pertencente ao Estado
de Israel, e que datam de 1967.
No blog de Moriel
Rothman, está a carta de Natan Blanc, 19 anos, que neste domingo (18), segue
para a prisão, porque se recusou a tomar parte neste ataque a Gaza.
Segue a carta de
Natan:
“Eu comecei a
pensar em recusar a tomar parte no exército israelense durante a operação
‘Chumbo Fundido’ em 2008. A onda de militarismo agressivo que varreu o país,
então, as expressões de ódio mútuo e o vácuo de conversas a respeito do caráter
de nosso terror e da criação de um efeito de dissuasão, sobretudo,
impulsionaram minha recusa.
Hoje, depois de
anos cheios de terror, sem um processo político [por meio de conversações de
paz], e sem tranquilidade em Gaza e em Sderot, está claro que o governo
Netanyahu, assim como o de seu antecessor, Olmert, não estavam interessados em
encontrar uma solução para a situação existente, mas, antes, em preservá-la.
Do ponto de vista
deles, não há nada errado em iniciarmos a “Operação Chumbo Fundido 2″ a cada
três ou quatro anos (e então a operação chumbo fundido 3, 4, 5 e 6): nós
falaremos em dissuasão, nós vamos matar algum terrorista, nós perderemos alguns
civis em ambos os lados, e nós prepararemos o terreno para uma nova geração
cheia de ódio de ambos os lados.
Como representantes
do povo, os membros do gabinete não têm qualquer dever de apresentarem sua
visão para o futuro do país, e podem continuar com esse círculo sangrento, sem
fim à vista. Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de
recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar
para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012″.
*Natan pode ser
contatado neste email nathanbl@walla.com
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