Daniel Oliveira –
Expresso, opinião em Blogues
O cemitério da
política está cheio de dons sebastiões. De homens desejados que esperam tanto
pelo momento certo para avançar que, quando finalmente se decidem, o seu tempo
já passou.
António Costa teve
o seu momento: o último congresso do PS, quando o político sem carisma nem
qualquer das qualidades de que um líder precisa foi eleito secretário-geral.
Costa tinha a força, a experiência e o distanciamento de Sócrates necessários
para preparar o eu partido para o regresso ao poder. Preferiu não o fazer e esperar
por melhor momento. Na realidade, a sua situação não é, agora, pior do que era
então. Estamos perante um dos governos mais impopulares da nossa democracia, o
País está desesperado por uma alternativa e Seguro mostrou ser ainda mais fraco
na oposição do que os mais pessimistas previam. O problema de Costa é outro: o
calendário.
A oposição interna
a Seguro quer acelerar a marcação do próximo congresso. Parece existir a
convicção de que este, para apear Seguro da liderança, tem de acontecer antes
das eleições autárquicas, que deverão dar à direção do PS um novo fôlego.
Se o congresso
acontecer antes das autárquicas, não faço ideia como vai António Costa
descalçar esta bota. Se, mais uma vez, não avança, a paciência dos que
esperam por ele esgota-se. Se avança, não deverá ser candidato à Câmara de
Lisboa. Não havendo um candidato óbvio para o substituir e estando já no
terreno Fernando Seara, o PS pode bem conseguir o que parecia ser impossível:
perder a câmara da capital. Ou seja, Costa ganha a liderança do Partido
Socialista e estreia-se, como líder, com uma derrota. Pior: uma derrota que só
a ele pode ser imputada. É que dificilmente os socialistas podem cantar vitória
nas autárquicas perdendo a capital para o PSD. Ou seja, Costa começa o seu
mandato como líder do PS numa posição mais frágil.
Claro que António
Costa pode ganhar a liderança do PS e, ainda assim, concorrer a Lisboa. Mas não
me parece que seja fácil fazer uma campanha em que toda a gente sabe que o
candidato não pretende ocupar por muito tempo o lugar de presidente.
Na realidade, a
única possibilidade que me parece restar a Costa é esperar por um
congresso depois das eleições autárquicas. Uma possibilidade arriscada. Porque
não é certo que o governo de Passos aguente até lá. E porque as autárquicas
podem mesmo dar um novo fôlego a Seguro. Ainda assim, diga-se em abono da
verdade, será um fôlego partilhado. Já que a vitória nas autárquicas, sem que o
PS conquiste a câmara do Porto, terá como principal rosto António Costa.
Resumindo: se
Costa não avança, as pessoas cansam-se de esperar, se avança cedo demais poderá
oferecer uma derrota em Lisboa à sua própria liderança, se avança tarde demais
pode perder a sua oportunidade. António Costa esperou pelo melhor momento. Acabou
num labirinto, onde todos os momentos parecem ser maus.
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