Manuel Carvalho da
Silva – Diário de Notícias, opinião - 29 dezembro 2012
É possível vencer a
crise. Mas as políticas que vêm sendo impostas, com grande injustiça e
sofrimento dos povos, em Portugal e em outros países europeus, são de absoluta
malvadez e loucura.
O futuro próximo
apresenta-se-nos esmagado por um diabólico rolo compressor. Os discursos de
governantes e de outros detentores do poder económico e financeiro surgem-nos
recheados de mentiras, de cinismo político inqualificável, aqui e ali
salpicados de perigosa infantilidade política.
Não se tratam as
causas dos problemas e muito menos caminhos novos que abram horizontes à
sociedade. É evidente que, como escrevi em Vencer o Medo - Ideias para
Portugal, "os velhos consensos e submissões que nos trouxeram até aqui têm
de ser atirados para o caixote do lixo".
O
"Memorando" a que o País está amarrado e as políticas brutais que em
nome dele são postas em prática, as perspetivas tacanhas e limitadas com que os
nossos governantes situam Portugal - enquanto país soberano e livre, enquanto
membro da União Europeia, ou o seu lugar no espaço dos Países de Língua
Portuguesa, da Iberoamérica e no contexto mundial -, fazem parte das velharias
a sacudir, até numa perspetiva reformista séria. O "Memorando" foi o
pretexto e o pontapé de saída. O que está em curso é um processo de brutal
empobrecimento social, económico, cultural e político do País.
Há que encontrar
compromissos novos, convergências geradoras de esperança, de confiança, de mobilização
e responsabilização das pessoas e das suas organizações e instituições.
Não há
determinismos em nenhum sentido, mas há memória histórica que é preciso tomar a
sério, existem capacidades humanas e instrumentos científicos, tecnológicos e
outros, e há valores testados que permitem às sociedades, aos países, mais do
que em qualquer outro tempo, assumir objetivos de harmonização no progresso, de
valorização, dignificação e responsabilização pelo trabalho, de desenvolvimento
social e humano.
Olhando com olhos
de ver o governo que temos, o que nos diz e promete em confronto com a
realidade da vida quotidiana, há que dizer, sem hesitações: o rei vai nu.
É preciso fazermos
de 2013 um Bom Ano.
Isso significará
uma denúncia forte, constante e nas mais diversas áreas, da trapaça que é a
"visão" única, inevitável, só percetível para governantes
politicamente desqualificados, fanáticos do neoliberalismo e ansiosos por
acertos de contas com a história e com a democracia.
Por outro lado, tem
de aumentar a exigência às forças políticas (e não só) com opções à esquerda,
para que se derrubem hesitações e meias-tintas, se identifique o fundamental e
mais imediato na travagem do descalabro, dialoguem e convirjam na formulação de
compromissos mínimos para uma alternativa.
Três temas são
prioritários nestes combates que hão de fazer de 2013 um ano Bom: a defesa do
Estado social; a afirmação da Democracia em todas as suas expressões; a
exigência de compromissos para que se produzam bens e serviços úteis ao desenvolvimento
da sociedade portuguesa.
Tomemos o que de
mais audacioso e melhor fizemos ao longo da nossa história e a canção do Jorge
Palma: "Enquanto houver estrada pra andar/ Enquanto houver ventos e mar/ A
gente não vai parar."
Um desafio
partilhado com excelentes profissionais, numa grande instituição
O convite para ser
"diretor" do DN neste seu aniversário foi uma surpresa e um desafio.
Honrou-me aceitá-lo e, acima de tudo, foi uma grande aprendizagem. O seu
diretor, João Marcelino, a quem saúdo, e elementos da sua equipa
interrogaram-me, propuseram, ouviram as minhas sugestões quanto a grandes temas
e a personalidades a convidar para escrever ou serem entrevistados. Com rapidez
e clareza deram-lhes os acertos necessários. Os/as editores/as tomaram em mãos cada
um dos temas e fizeram um trabalho jornalístico excecional. A todos digo
obrigado e deixo um grande abraço. Aqui no DN também se confirma que temos
excelentes jornalistas, como aliás temos muito bons trabalhadores em todos os
sectores de atividade em Portugal. Que na voragem demolidora desta
"crise" não se destrua ou enfraqueça este jornal, que é claramente
património nacional.
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