António Aly Silva, jornalista –
Ditadura do Consenso - 12-02.12
1 . A situação
político-militar na Guiné-Bissau apresenta sinais de anuviamento descrito num
intelligence memo como “extremado”.
A saber:
- O alferes Júlio Mambali, comandante da guarda do CEMGFA, General António
Indjai, foi coercivamente afastado; vários outros oficiais e efectivos
subalternos da força foram também afastados e/ou presos.
- O relacionamento de per se tenso entre o Presidente de transição, Serifo
Nhamadjo, e o CEMGFa, António Indjai, passou por novos episódios demonstrativos
do seu carácter precário.
- O PM, Rui Barros, e o Governo em geral denotam estar “alinhados” com António
Indjai no conflito que opõe este ao Presidente.
- Proliferam notícias de casos de corrupção, abusos de poder e de impreparação
geral de vários governantes.
- As condições de vida nos quartéis, em especial nos aspectos da alimentação e
acomodação, atingiram níveis considerados “insuportáveis”.
O cenário de uma ruptura violenta da situação não é, porém, admitido em meios
que acompanham a sua evolução. O factor tido em conta na estimativa é o de que
o poder militar da CEDEAO/Ecomig, instalado e mobilizável, tem capacidade de
dissuasão suficiente para desencorajar um “putsch” – embaraçoso para a
organização.
2 . A cumplicidade existente
entre o Governo e o CEMG é especialmente fomentada por percepções dos próprios
de que a evolução em que a situação entrou, tende a marginalizá-los. Entre os
factores determinantes da referida evolução é especialmente valorizado o
interesse da CEDEAO, em “alijar um ónus a que se expôs”.
A CEDEAO precisa, por razões políticas e financeiras, que a comunidade
internacional atenue ou levante o isolamento em que mantém a Guiné-Bissau desde
o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012. Foi com essa intenção que “encorajou”
desenvolvimentos como a reposição da Assembleia Nacional e a vinculação do
PAIGC ao processo transição.
De acordo com o leitmotiv da CEDEAO, que enquanto tal e/ou através de membros
influentes, teve um papel instigador no golpe de Estado, a sua intervenção na
Guiné-Bissau deve ter um “fim honroso”. Na sua perspectiva, tal desígnio será
alcançado com a realização de eleições credíveis com o início do processo de
reforma das FA.
António Indjai está ele próprio ciente de que se converteu num “embaraço” para
a CEDEAO, devido a traços/tendências de personalidade e conduta, assim como
impreparação técnica. Entre os próprios governantes, em geral, há igualmente a
percepção de que tenderão a ser preteridos, de modo a remover obstáculos como a
sua má reputação.
O descrédito de António Indjai junto da CEDEAO tornou-se irreversível por
efeito directo da de um motim interno que “montou” com o fim inferido de se
apresentar como vítima e como garante da coesão das FA. A “montagem” foi
geralmente considerada “inábil”.
3 . O afastamento e prisão de Júlio Mambali (presentemente em greve de fome)
ocorreu em circunstâncias consideradas elucidativas das extremas preocupações
de segurança que dominam António Indjai – em larga escala alimentadas pela
noção que o próprio tem de tensões internas, nas FA e no país, que fazem dele
“um alvo”.
O ex-comandante, por uma razão a que terá atribuído urgência, apresentou-se a
António Indjai sem se sujeitar a normas/procedimentos que implicariam a sua
passagem por um núcleo próximo da segurança interna do mesmo. António Indjai
associou instintivamente a atitude a intenções menos claras em relação à
integridade da sua pessoa e agiu em conformidade.
A guarda de António Indjai, internamente conhecida por “pretoriana”, monta
guarda permanente a todos os locais que o mesmo frequenta, por rotina ou
ocasionalmente. Residências de pernoita, quartéis e locais públicos. Manobra
apoiada pela chamada Contra Inteligência (TenCor Tchipa), cuja função primacial
é vigiar suspeitos.
4 . António Indjai revela desde há muito uma atitude de menosprezo e/ou de
falta de respeito em relação a Serifo Nhamadjo. O fenómeno é atribuído à sua
diminuta ilustração, a uma ideia onírica que tem de si próprio, assim como a
tendências inatas que revela para a prepotência.
Os novos episódios:
- António Indjai mandou um emissário convocar Serifo Nhamadjo para um encontro
urgente com ele, na sua casa em Jugudul. Nhamadjo, que se encontrava então de
visita a Bafatá, recusou a convocatória – a que António Indjai reagiu com
truculência pública.
- Tratou de forma furibunda Serifo Nhamadjo num momento em que este se
preparava para embarcar para uma viagem a Abidjan, cimeira da CEDEAO; episódio
notado pelos circunstantes em geral. Al
Sem comentários:
Enviar um comentário