Victória Jamba
Sequesseque está triste, mas tem orgulho no seu filho. Emiliano Catumbela, de
22 anos, está detido desde o dia 27 de Maio por ter participado numa tentativa
da vigília, no Largo da Independência, abortada à bastonada pela Polícia
Nacional.
A vigília,
convocada pelo Movimento Revolucionário Juvenil, visava assinalar, de forma
pacífica, o primeiro aniversário do desaparecimento dos activistas Alves Kamulingue
e Isaías Cassule, raptados em Luanda.
Actualmente
encarcerado na Comarca de Viana, o jovem revelou hoje, à mãe e ao deputado
Leonel Gomes que o visitaram, como o torturaram. “Foi a própria comandante
provincial da Polícia Nacional, Comissária Elizabeth “Bety” Rank Frank, quem
pessoalmente ordenava, no local, aos agentes para espancarem os jovens e
atingi-los na cabeça, como nos confirmou o Emiliano”, transmitiu o deputado da
CASA-CE.
Por sua vez,
Victória Sequesseque reproduziu o depoimento do filho segundo o qual “os
indivíduos da Polícia Militar, no local, tentaram arrancar-lhe a unha de um
dedo da mão direita, com um alicate, ainda no local. Nota-se ainda o ferimento
no dedo”.
Em cinco dias de
detenção Emiliano Catumbela sofreu também actos de tortura nas 1ª e 2ª
Esquadras policiais e experimentou também as celas da Direcção Provincial de
Investigação Criminal (DPIC), bem como da 19ª Esquadra do Cantinton, no Rocha
Pinto, município da Maianga.
“Eu vi um olho do
Emiliano ainda com uma coroa de sangue, por causa da tortura, e as escoriações
da pancadaria que levou nas costelas e lhe causam dores até agora. Só lhe deram
uma injecção. Nem sequer lhe prestaram assistência médica”, lamenta a mãe.
O advogado e
presidente da Associação Mãos Livres, Salvador Freire, manifesta o seu
desagrado por a Polícia Nacional ainda não lhe ter permitido contactar com o
seu cliente Emiliano Catumbela.
“A DPIC instaurou,
inicialmente, um processo crime contra o jovem, por tentativa de ofensas
corporais e remeteu-o à Procuradoria-Geral da República. Esta devolveu o
Processo n° 516/013-02 e nova queixa foi formulada contra o arguido”, explicou
Salvador Freire.
De acordo com o
advogado, o comandante de divisão da Polícia Nacional na Maianga,
superintendente-chefe Eduardo Diogo foi quem apresentou as duas queixas.
“Primeiro, o comandante queixou-se contra o Emiliano acusando-o de o ter
tentado agredir. Depois formulou nova queixa afirmando que o jovem o tentou
matar e assim lhe foi instaurado o segundo processo (Nº2176/2013) por tentativa
de homicídio”, explica Salvador Freire.
Para o presidente
das Mãos Livres, as queixas são um absurdo: “No local estava um forte aparato
policial e de segurança, com a polícia montada, a brigada canina, a Polícia de
Intervenção Rápida, a Polícia Militar e os serviços de segurança”.
Salvador Freire
interroga-se sobre “como pode um jovem, que estava a ser torturado no local,
ter tido tempo de atentar contra a vida do comandante da polícia no mesmo
local?”
Para si, o caso
contra Emiliano Catumbela “é a fabricação de um processo e a invenção de factos
que embaraçam até a própria Procuradoria-Geral da República”.
Confrontada com a
situação actual do seu filho, Victória Sequesseque afirma: “Não acho que o meu
filho fez mal em se manifestar. O meu filho não foi roubar, nem foi à rua
violar a lei deste governo. Ele foi cumprir uma missão, de defender o povo”.
A mãe lamenta
apenas o facto do filho estar a perder as aulas e faltar ao trabalho. Emiliano
Catumbela frequenta a 9ª classe, no período nocturno, e durante o dia trabalha
como mecânico de motorizadas para uma grande empresa em Viana.
“Ele paga as suas
propinas num colégio privado, alugou um quarto no bairro, para ter a sua vida
independente, e cumpre com as suas tarefas. Estou triste porque estão a maltratá-lo.
Sou mãe e sinto a dor dele”.
A tenacidade de
Emiliano Catumbela é extraordinária. Agentes policiais detiveram-no, pela
primeira vez, por volta das 20h00 de 27 de Maio, em companhia de Nito Alves e
Albano Bringo. Os efectivos policiais agrediram-nos à bastonada e a pontapés,
no local.
Na 3ª Esquadra, na
Vila Alice, os representantes da lei e da ordem despiram e torturaram os
prisioneiros, segundo depoimentos de Nito Alves ao Maka Angola. De seguida
transportaram-nos para o município do Cazenga, na periferia da cidade, onde os
libertaram.
Os jovens
retornaram ao Largo da Independência para retomar a vigília e, por volta das
22h00, agentes policiais detiveram Emiliano Catumbela pela segunda vez.
Textos
relacionados:
Sem comentários:
Enviar um comentário