Correio do Brasil -
com RBA - de São Paulo
A avaliação
ótima/boa do governo da presidenteDilma Rousseff caiu para 55% em junho,
ante 63% em março, em meio à uma forte piora na percepção da população sobre o
combate à inflação, mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira. A
proporção da população que desaprova as políticas e ações de combate à inflação
cresceu para 57%, ante 47% três meses atrás. Os que aprovam a maneira como o
governo vem enfrentando a alta dos preços caiu iguais 10 pontos percentuais,
para 38%.
O levantamento –
feito pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) –
foi realizado entre os dias 8 e 11 deste mês, antes da intensificação das
manifestações populares em várias das principais cidades do país. Os que veem o
governo como regular aumentaram para 32%, em comparação a 29% em março,
enquanto subiu para 13% os que o classificam como péssimo ou ruim, ante 7%.
A aprovação pessoal
de Dilma também sofreu forte queda, passando para 71%, contra 79% em
março. E a proporção dos que confiam na presidente caiu para 67%, ante 75%. Ao
perguntar como comparavam os governos Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, diminuiu a taxa dos que acham a atual administração melhor, passando
para 16%, ante 20%.
Os que veem o atual
governo como pior aumentaram para 25%, em comparação aos 18% de março. E 57%
veem agora o governo Dilma igual ao de Lula, ante 61% há três meses. O Ibope
ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2
pontos percentuais.
Novo ciclo
Embora não tenha
comentado a pesquisa, o professor André Singer, do Departamento de Ciências
Políticas da Universidade de São Paulo (USP), que chegou a ser porta-voz do
Palácio do Planalto no governo Lula, o país pode estar à beira de um novo ciclo
de conflito relacionado à distribuição de renda no país. Segundo ele, quem tem
ido para as ruas é de fato a classe média, mas as manifestações contam também
com uma nova classe trabalhadora, incorporada recentemente ao mercado, mas
ainda em empregos precários, de baixa remuneração, e sujeitos à rotatividade.
Pessoas que querem
mais investimentos sociais, observa, enquanto o Estado, sob impacto da crise
internacional, recebe pressões para cortar gastos.
– Éramos até pouco
tempo atrás o país mais desigual do mundo. Houve avanços, mas ainda estamos no
final da lista. O reflexo disso está nas ruas – disse Singer, que participou
nesta quarta-feira de plenária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da
CUT.
O analista acredita
que o Brasil presencia o movimento de massas mais importante desde o
impeachment de Fernando Collor, em 1992, e que caminha para se tornar o mais
significativo desde a campanha das Diretas Já, em 1984. O que acontece agora
também pode ser interpretado como uma reação ao que ele chama de processo de
burocratização das organizações. Nesse sentido, ele dirigiu-se aos metalúrgicos
para alertar sobre os riscos de uma possível excessiva institucionalização que
poderia atingir o movimento sindical. “A base precisar estar sempre atenta.”
Singer avalia que o
período de “milagre do lulismo” acabou em 2008, mas isso não foi percebido
imediatamente. “O que não se viu é que a crise ia se estender no tempo, sem
horizonte claro para terminar. Ao não terminar, está batendo na economia
brasileira e nas condições que propiciaram o milagre. Esses movimentos são de
fato heterogêneos, mas acho que há uma direção: querem mais gasto público, mais
gasto social.”
E o que foi esse
milagre? Segundo o professor, consistiu em realizar mudanças no país sem
ruptura nem confronto com o capital, mantendo uma política econômica
“neoliberal” e ao mesmo tempo promovendo aumentos expressivos do salário mínimo
e uma transferência de renda a níveis nunca vistos, além de aumentar o crédito,
melhorando de forma expressiva as condições da “camada de baixo” da pirâmide
social. “O problema brasileiro é que até pouco atrás metade da população não
estava incluída nas condições mínimas, com carteira assinada, por exemplo.
Estava fora da luta de classes.”
O Brasil também foi
favorecido por uma conjuntura econômica mundial que mudou, para melhor,
exatamente em 2003, incluindo valorização das commodities, o que fez dobrar o
valor das exportações brasileiras. “Um elemento de sorte, complementado pelo
que Maquiavel chamou de virtú”, observou Singer. “O presidente Lula soube muito
bem aproveitar as circunstâncias.” Ele acredita que a presidenta Dilma Rousseff
tomou medidas corajosas, como estimular uma política de redução de juros,
comprar uma briga com os bancos pela diminuição do spread e alterar as regras
de remuneração da poupança, no que ele chama de “ensaio de desenvolvimento”.
Mas a falta de investimento atual pode indicar, segundo o professor, “os
limites do pacto de classes” promovido no início do governo Lula.
Agora, ouve-se o
“apito da panela de pressão”, expressão usada há tempos nos protestos
estudantis.
– É possível que a
gente esteja na beirada de um novo ciclo de conflito distributivo – afirmou.
Ele não vê risco de
golpe, como um metalúrgico chegou a perguntar, mas observou que as pessoas têm
de se manter atentas para defender a democracia.
– Foi uma conquista
muito árdua e intensa sobretudo para a classe trabalhadora – concluiu.
Na foto: Dilma tirou
direitos do cidadão ao mudar texto do Código de Processo Civil
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