sexta-feira, 21 de junho de 2013

Brasil: Prestígio de Dilma segue em queda diante um novo ciclo de conflitos sociais




Correio do Brasil - com RBA - de São Paulo

A avaliação ótima/boa do governo da presidenteDilma Rousseff caiu para 55% em junho, ante 63% em março, em meio à uma forte piora na percepção da população sobre o combate à inflação, mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira. A proporção da população que desaprova as políticas e ações de combate à inflação cresceu para 57%, ante 47% três meses atrás. Os que aprovam a maneira como o governo vem enfrentando a alta dos preços caiu iguais 10 pontos percentuais, para 38%.

O levantamento – feito pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) – foi realizado entre os dias 8 e 11 deste mês, antes da intensificação das manifestações populares em várias das principais cidades do país. Os que veem o governo como regular aumentaram para 32%, em comparação a 29% em março, enquanto subiu para 13% os que o classificam como péssimo ou ruim, ante 7%.

A aprovação pessoal de Dilma também sofreu forte queda, passando para 71%, contra 79% em março. E a proporção dos que confiam na presidente caiu para 67%, ante 75%. Ao perguntar como comparavam os governos Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diminuiu a taxa dos que acham a atual administração melhor, passando para 16%, ante 20%.

Os que veem o atual governo como pior aumentaram para 25%, em comparação aos 18% de março. E 57% veem agora o governo Dilma igual ao de Lula, ante 61% há três meses. O Ibope ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.

Novo ciclo

Embora não tenha comentado a pesquisa, o professor André Singer, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), que chegou a ser porta-voz do Palácio do Planalto no governo Lula, o país pode estar à beira de um novo ciclo de conflito relacionado à distribuição de renda no país. Segundo ele, quem tem ido para as ruas é de fato a classe média, mas as manifestações contam também com uma nova classe trabalhadora, incorporada recentemente ao mercado, mas ainda em empregos precários, de baixa remuneração, e sujeitos à rotatividade.

Pessoas que querem mais investimentos sociais, observa, enquanto o Estado, sob impacto da crise internacional, recebe pressões para cortar gastos.

– Éramos até pouco tempo atrás o país mais desigual do mundo. Houve avanços, mas ainda estamos no final da lista. O reflexo disso está nas ruas – disse Singer, que participou nesta quarta-feira de plenária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.

O analista acredita que o Brasil presencia o movimento de massas mais importante desde o impeachment de Fernando Collor, em 1992, e que caminha para se tornar o mais significativo desde a campanha das Diretas Já, em 1984. O que acontece agora também pode ser interpretado como uma reação ao que ele chama de processo de burocratização das organizações. Nesse sentido, ele dirigiu-se aos metalúrgicos para alertar sobre os riscos de uma possível excessiva institucionalização que poderia atingir o movimento sindical. “A base precisar estar sempre atenta.”

Singer avalia que o período de “milagre do lulismo” acabou em 2008, mas isso não foi percebido imediatamente. “O que não se viu é que a crise ia se estender no tempo, sem horizonte claro para terminar. Ao não terminar, está batendo na economia brasileira e nas condições que propiciaram o milagre. Esses movimentos são de fato heterogêneos, mas acho que há uma direção: querem mais gasto público, mais gasto social.”

E o que foi esse milagre? Segundo o professor, consistiu em realizar mudanças no país sem ruptura nem confronto com o capital, mantendo uma política econômica “neoliberal” e ao mesmo tempo promovendo aumentos expressivos do salário mínimo e uma transferência de renda a níveis nunca vistos, além de aumentar o crédito, melhorando de forma expressiva as condições da “camada de baixo” da pirâmide social. “O problema brasileiro é que até pouco atrás metade da população não estava incluída nas condições mínimas, com carteira assinada, por exemplo. Estava fora da luta de classes.”

O Brasil também foi favorecido por uma conjuntura econômica mundial que mudou, para melhor, exatamente em 2003, incluindo valorização das commodities, o que fez dobrar o valor das exportações brasileiras. “Um elemento de sorte, complementado pelo que Maquiavel chamou de virtú”, observou Singer. “O presidente Lula soube muito bem aproveitar as circunstâncias.” Ele acredita que a presidenta Dilma Rousseff tomou medidas corajosas, como estimular uma política de redução de juros, comprar uma briga com os bancos pela diminuição do spread e alterar as regras de remuneração da poupança, no que ele chama de “ensaio de desenvolvimento”. Mas a falta de investimento atual pode indicar, segundo o professor, “os limites do pacto de classes” promovido no início do governo Lula.

Agora, ouve-se o “apito da panela de pressão”, expressão usada há tempos nos protestos estudantis.

– É possível que a gente esteja na beirada de um novo ciclo de conflito distributivo – afirmou.

Ele não vê risco de golpe, como um metalúrgico chegou a perguntar, mas observou que as pessoas têm de se manter atentas para defender a democracia.

– Foi uma conquista muito árdua e intensa sobretudo para a classe trabalhadora – concluiu.

Na foto: Dilma tirou direitos do cidadão ao mudar texto do Código de Processo Civil

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