quinta-feira, 6 de junho de 2013

De Istambul para Lisboa. O protesto turco chegou ao sexto dia e não vai ficar por aqui

 

Diogo Pombo – Jornal i
 
Cartazes, bandeiras e gritos, envoltos nos sons de batuques de tambor. Era este o reflexo que a embaixada da Turquia, em Lisboa, enfrentou ontem durante várias horas, ao final da tarde. Cerca de uma centena de manifestantes, entre portugueses, turcos, argentinos ou espanhóis, juntaram-se numa faixa de passeio sob a mesma mensagem: “Somos todos Turquia”, ou “Hepimiz Türküs”, na versão original. Ao sexto dia, alastrou a Portugal o protesto germinado em Istambul, contra a demolição de um espaço verde em prol da construção de mais um centro comercial. Um protesto que virou um “grito contra a tirania” e não vai ficar por aqui, avisam os manifestantes.
 
Ridvan Sevinc, 28 anos
O protesto aponta à embaixada, não contra ela. “É um símbolo do governo turco”, explica Ridvan, com três anos já passados a trabalhar em Portugal. “Estamos orgulhosos dos portugueses, que nos apoiam”, confessa. Gesto importante, diz, pois “o fascismo está hoje na Turquia”, com o “ditador Erdogan”, mas amanhã pode estar em Portugal”. A sua preocupação está com os “familiares e amigos”. Nas ruas “a polícia ataca sem olhar a quem”.
 
Leyla Timuroglu, 25 anos
Envolta num vestido vermelho, em tudo igual a uma bandeira turca, Leyla dá nas vistas. Está à beira da estrada, a instigar os condutores que vão passando. “Apitem por Istambul”, lê-se no seu cartaz. “A minha família é turca, por isso há essa afinidade, mas estaria aqui na mesma caso não houvesse essa ligação”, conta, lamentando que “o maior problema da Turquia é conseguir que a informação saia”.
 
Marcos FarÍas, 36 anos
“Turcos não estão sozinhos, estamos cá convosco, ao vosso lado”. A mensagem que Marcos carrega no cartaz é comum a todos. Em Portugal há 12 anos, o argentino e professor de espanhol na Universidade Nova ficou chocado quando viu “as imagens da violência policial”. Sinais, explica, de que “tudo isto já não é a defesa do parque” de Gezi, no bairro de Taksim. “É a defesa da democracia e do direito das pessoas se manifestarem”.
 
Sezen Tonguz, 31 anos
Segue “o facebook e os blogues de amigos” para acompanhar o que se passa no seu país. “Os jornais não estão em todo o lado, apenas mostram Ankara ou Istambul”, lamenta, ao lembrar que os protestos “já estão em mais de 80 cidades da Turquia”. Sezen tem amigos nas ruas, e deles recebe notícias de “união” e uma mensagem “sem grupos ou partidos políticos” envolvidos. “São apenas milhões de pessoas unidas, a resistir contra um abuso”, defende.
 
Beste Ozcan, 31 anos
A sua camisola denuncia-a. O amarelo e grená do Galatasaray, um dos clubes de Istambul, é o símbolo que Beste, estudante de intercâmbio em Lisboa, escolheu para a representar. “Estou a apoiar o nosso país, o nosso povo e mostrar ao mundo que estamos sempre contra a violência policial e actos contra a democracia”, explica, à medida que acaba de pintar o cartaz que, minutos depois, levanta com orgulho.
 
Marcos Ramalho, 24 anos
Foi a amizade a puxar o estudante para o protesto de Belém. “E por solidariedade também”, acrescenta, antes de lembrar a recente viagem feita a Istambul e “os vários amigos turcos”. É a eles que recorre para obter informação, pois “sem dúvida” que os jornais portugueses “dão pouca atenção” ao que “se está a passar na Turquia”, que retrata como um ataque contra a democracia”. “Nós temos que nos preocupar”.
 
David Santos, 30 anos
O representante da Plataforma 15 de Outubro, que convocou o protesto insistiu na “solidariedade com os manifestantes turcos, que saem à rua contra um governo autoritário”. David elogiou a atitude dos turcos que, “apesar da terrível repressão policial, continuam a lutar contra a tirania” de um “Reccip Químico”, alcunha que deu a Erdogan, ao tocar na forma como o primeiro-ministro turco lida com “a discordância dos seus cidadãos”.
 
Hande Ayanoglu, 29 anos
Ao pedido de um gesto para simbolizar o que sentia com este protesto, Hande responde à câmara com um sorriso. “Estou com a bandeira do meu país”, justifica. “Não podemos apoiar lá, por isso apoiamos aqui hoje”, resume, alargando o manifesto “cidadãos de todo o mundo”. Porquê? A resposta sai rápida. “Todos temos que proteger o nosso futuro”. E ainda deixou um apelo: “Aos media internacionais, que falem mais na Turquia”.
 

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