Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
É isso mesmo! As
políticas seguidas pelo Governo PSD/CDS situam-se entre a cartilha neoliberal
de Margaret Thatcher e a persistente aplicação de determinações do Fundo
Monetário Internacional (FMI) já reconhecidas como "erros
grosseiros".
O ministro Álvaro
Santos Pereira, que por vezes comentadores políticos consideram na ala menos
contaminada do Governo, usou um fórum intitulado "Como o Planeamento Pode
Dinamizar a Economia e Criar Emprego", para proclamar que "Portugal
implementou nos últimos dois anos o programa de reformas mais ambicioso na
Europa desde a era Thatcher".
O Ministro Álvaro
assumiu, com toda a clareza, uma referência ideológica para o programa de
"reformas" do Governo. É interessante, pois o Governo não gosta que
as suas políticas sejam identificadas ideologicamente. O primeiro-ministro e os
membros do Governo costumam insistir na ideia de que as medidas adotadas são
puro pragmatismo, que não são de Esquerda, nem de Direita, não são liberais nem
de outro cariz, são, dizem eles, simplesmente inevitáveis. Também nisto seguem
Thatcher que, antes deles todos, usou a expressão "There is no
alternative" (não há alternativa).
Para o ministro
Álvaro, o desemprego, o empobrecimento, os impactos dos autênticos roubos
feitos a reformados e pensionistas, as falências de empresas, o agravamento da
dívida, o descontrolo do défice, pouco importam. O que importa mesmo é mercado
em todo o lado! Mercado na finança. Mercado na saúde e na educação, mercado nas
pensões. Mercado no trabalho, de preferência com sindicatos ausentes,
domesticados ou de espinha partida.
Margaret Thatcher,
amiga do general Pinochet, a "dama de ferro", parceira europeia de
Ronald Reagan - formando com ele a dupla que mais impulsionou as políticas que
estão na base da "crise" que hoje estamos a sofrer -, conduziu há
três décadas um programa intenso de engenharia social com três objetivos.
Em primeiro lugar,
desagregar o movimento sindical, a começar pelas suas alas mais combativas,
como os mineiros, estendendo uma economia de medo a toda a sociedade, mas
oferecendo também a contrapartida de um "capitalismo popular" de
pequenos acionistas empenhando as suas poupanças nos jogos financeiros que
enriqueceram os grandes capitalistas da City.
Em segundo lugar,
alargar a base de acumulação empresarial entregando os caminhos de ferro, os
hospitais e outros serviços públicos ao capital, reduzindo assim a democracia à
obediência a um Estado cobrador e autoritário.
Em terceiro lugar,
demonstrar que esse Estado era ainda um Império, e por isso conduziu a guerra
das Malvinas para mostrar como a Marinha inglesa tinha o braço longo.
De todas estas
políticas, ficou a lição do autoritarismo social, do jogo financeiro
especulativo e sujo, da facilitação dos negócios e de conspirações
internacionais, que Tony Blair viria a seguir vergonhosamente. Os tempos que
vivemos vão comprovando que afinal Thatcher não impediu a degradação do poder
do Reino Unido entre os Estados mais poderosos. Sobretudo mostram que daquele período
de governação ficou uma herança de sociedade dividida, enfraquecida, com défice
democrático acentuado e ainda uma economia muito fragilizada que só não coloca
o país em rutura porque Londres é um dos principais centros de especulação
financeira e isso dá para esconder as debilidades.
Entretanto, chegou
a notícia através do documento interno "estritamente confidencial" do
FMI, citado pelo "The Wall Street Journal", de que as políticas
impostas à Grécia constituíram "erros grosseiros" e que a Grécia foi
sacrificada conscientemente para servir os interesses estratégicos da Alemanha
e seu núcleo, bem como dos grandes interesses da finança e da economia global.
Foi sacrificada a
Grécia e somos sacrificados nós portugueses e outros povos, nesta União Europeia
onde impera uma divisão dicotómica reacionária, irracional, profundamente
perigosa que é preciso denunciar e combater.
Para ganhar o
combate e construir um rumo de progresso temos de arredar do poder, com
urgência, os Álvaros, os Gaspares, os Portas e os Passos que nos desgovernam.
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