sábado, 8 de junho de 2013

ENTRE THATCHER E ERROS GRAVES DO FMI

 


Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião
 
É isso mesmo! As políticas seguidas pelo Governo PSD/CDS situam-se entre a cartilha neoliberal de Margaret Thatcher e a persistente aplicação de determinações do Fundo Monetário Internacional (FMI) já reconhecidas como "erros grosseiros".
 
O ministro Álvaro Santos Pereira, que por vezes comentadores políticos consideram na ala menos contaminada do Governo, usou um fórum intitulado "Como o Planeamento Pode Dinamizar a Economia e Criar Emprego", para proclamar que "Portugal implementou nos últimos dois anos o programa de reformas mais ambicioso na Europa desde a era Thatcher".
 
O Ministro Álvaro assumiu, com toda a clareza, uma referência ideológica para o programa de "reformas" do Governo. É interessante, pois o Governo não gosta que as suas políticas sejam identificadas ideologicamente. O primeiro-ministro e os membros do Governo costumam insistir na ideia de que as medidas adotadas são puro pragmatismo, que não são de Esquerda, nem de Direita, não são liberais nem de outro cariz, são, dizem eles, simplesmente inevitáveis. Também nisto seguem Thatcher que, antes deles todos, usou a expressão "There is no alternative" (não há alternativa).
 
Para o ministro Álvaro, o desemprego, o empobrecimento, os impactos dos autênticos roubos feitos a reformados e pensionistas, as falências de empresas, o agravamento da dívida, o descontrolo do défice, pouco importam. O que importa mesmo é mercado em todo o lado! Mercado na finança. Mercado na saúde e na educação, mercado nas pensões. Mercado no trabalho, de preferência com sindicatos ausentes, domesticados ou de espinha partida.
 
Margaret Thatcher, amiga do general Pinochet, a "dama de ferro", parceira europeia de Ronald Reagan - formando com ele a dupla que mais impulsionou as políticas que estão na base da "crise" que hoje estamos a sofrer -, conduziu há três décadas um programa intenso de engenharia social com três objetivos.
 
Em primeiro lugar, desagregar o movimento sindical, a começar pelas suas alas mais combativas, como os mineiros, estendendo uma economia de medo a toda a sociedade, mas oferecendo também a contrapartida de um "capitalismo popular" de pequenos acionistas empenhando as suas poupanças nos jogos financeiros que enriqueceram os grandes capitalistas da City.
 
Em segundo lugar, alargar a base de acumulação empresarial entregando os caminhos de ferro, os hospitais e outros serviços públicos ao capital, reduzindo assim a democracia à obediência a um Estado cobrador e autoritário.
 
Em terceiro lugar, demonstrar que esse Estado era ainda um Império, e por isso conduziu a guerra das Malvinas para mostrar como a Marinha inglesa tinha o braço longo.
 
De todas estas políticas, ficou a lição do autoritarismo social, do jogo financeiro especulativo e sujo, da facilitação dos negócios e de conspirações internacionais, que Tony Blair viria a seguir vergonhosamente. Os tempos que vivemos vão comprovando que afinal Thatcher não impediu a degradação do poder do Reino Unido entre os Estados mais poderosos. Sobretudo mostram que daquele período de governação ficou uma herança de sociedade dividida, enfraquecida, com défice democrático acentuado e ainda uma economia muito fragilizada que só não coloca o país em rutura porque Londres é um dos principais centros de especulação financeira e isso dá para esconder as debilidades.
 
Entretanto, chegou a notícia através do documento interno "estritamente confidencial" do FMI, citado pelo "The Wall Street Journal", de que as políticas impostas à Grécia constituíram "erros grosseiros" e que a Grécia foi sacrificada conscientemente para servir os interesses estratégicos da Alemanha e seu núcleo, bem como dos grandes interesses da finança e da economia global.
 
Foi sacrificada a Grécia e somos sacrificados nós portugueses e outros povos, nesta União Europeia onde impera uma divisão dicotómica reacionária, irracional, profundamente perigosa que é preciso denunciar e combater.
 
Para ganhar o combate e construir um rumo de progresso temos de arredar do poder, com urgência, os Álvaros, os Gaspares, os Portas e os Passos que nos desgovernam.
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana