Pedro d'Anunciação –
Sol, opinião
Os apoiantes deste
Governo andam num terror irracional de eleições antecipadas. Esquecem (Sá
Carneiro e Lucas Pires, nos seus tempos, bem lutaram para incutir este
princípio) que os movimentos da Sociedade Civil fazem parte das democracias
formais. E que a própria formalidade das democracias prevê que os mandatos
normais dos Executivos sejam interrompidos, quando se percebe que a situação
politica já não corresponde de maneira nenhuma à vontade dos eleitores.
Eu sei que seria
irracional governar a golpe de sondagens, acatando qualquer mudança conjuntural
de opiniões. Mas às vezes as mudanças mostram-se menos conjunturais, e a
vontade dos eleitores expressa-se contundentemente, em sondagens ou através dos
mecanismos próprios da Sociedade Civil.
Curiosamente, muitos dos que agora contestam a legitimidade democrática de eleições antecipadas, defendiam-na no caso de Sócrates. Pessoalmente, defendo-as agora, como as defendi no tempo de Sócrates. Reconheço que não gostava de Sócrates, mais por razões de carácter (o que em democracia é muito importante), do que pelos actos de governo. Hoje, em relação à equipa Passos-Gaspar, acumulo as relutâncias: pelo carácter das pessoas, e pelos seus actos governativos, não me inspiram confiança.
O único limite que me parece legítimo à convocação de eleições antecipadas, em democracia e seguindo as regras democráticas, seria a inexistência de uma alternativa política. Talvez por isso privilegie as alternativas aos consensos.
Mas não há nada menos democrático do que querer impor cegamente os mandatos legislativos de 4 anos, e recusar qualquer movimento da Sociedade Civil. Talvez faça falta, neste aspecto, alguma pedagogia. Talvez fosse importante repegar no que sobre o tema clamaram Sá Carneiro e Lucas Pires, com base na teorização de António Gramsci.
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