Pedro Rainho e
Susete Francisco – Jornal i
Líder socialista
inicia hoje ronda de reuniões com os restantes partidos, com o emprego e o
crescimento económico na agenda. Encontros para apresentar as conclusões do
último congresso não se estendem a Cavaco Silva
O PS vai reunir-se
esta semana com todos os partidos com assento parlamentar, para apresentar as
conclusões do último congresso. De fora dos encontros dos socialistas fica
Cavaco Silva. "Não está agendado nem solicitado qualquer encontro do
secretário-geral do PS com o Presidente da República", respondeu ao i o
gabinete do líder socialista.
Há cerca de um mês,
na sequência do conclave que reelegeu António José Seguro, o secretário
nacional do PS António Galamba afirmou ao semanário SOL: "Há um novo
mandato do secretário-geral do PS. É da praxe que peça uma audiência e vá a
Belém". Uma praxe que Seguro não parece disposto a repetir.
Tradicionalmente,
os líderes partidários vão ao Palácio de Belém após os congressos, apresentar
cumprimentos ao Presidente da República. Mas no XIX conclave socialista, no
final de Abril, já as relações do maior partido da oposição com o chefe do
Estado estavam azedas. O PS não gostou da mensagem de apoio de Cavaco Silva ao
governo, na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional a várias normas do
Orçamento do Estado para este ano. E gostou menos ainda das palavras do
Presidente da República na cerimónia do 25 de Abril, que mereceu duros reparos
entre os socialistas. No discurso de abertura do congresso, o Presidente da
República mereceu, aliás, críticas de António José Seguro - e à menção de
Cavaco o congresso não poupou uma vaia ao chefe do Estado. Curioso é que o PS
quer levar para os encontros com os restantes partidos o tema do emprego e do
crescimento - questões que Cavaco Silva também tem levantado.
Ronda de reuniões
Para
a mesa dos vários encontros com os partidos, o PS recusa que se trate de
liderar qualquer processo de entendimento e garante que "não há uma agenda
fechada". Na senda do que resultou do último congresso, os socialistas
querem aproveitar aquilo a que o porta-voz do partido se refere como um
"diálogo inédito" para falar de emprego e de relançamento da economia
nacional com os restantes partidos. Sem outros objectivos no horizonte
imediato. "O PS quer uma maioria absoluta e quer conquistá-la sozinho,
porque é preciso estabilidade governativa" para enfrentar o actual momento
do país, diz João Ribeiro. Mas esse mesmo momento "exige grandes
consensos" e é nisso que o partido está apostado. Mesmo quando da esquerda
chovem exigências de "clareza".
Esta tarde, os
socialistas começam por reunir-se com o PCP - que ontem emitiu uma nota de
agenda sobre o encontro, fazendo questão de sublinhar que este acontece a
pedido do PS "para transmitir as conclusões do seu congresso". A
delegação socialista - sempre com a presença de António José Seguro, que só não
estará na reunião com o PSD - desloca-se depois ao Largo do Caldas para um
encontro com uma comitiva do CDS. Do lado dos centristas, fonte do partido
disse ao i que o encontro está a ser encarado com "naturalidade" e
que há "disponibilidade para abordar os temas que o PS queira trazer a
discussão".
Na quarta-feira
será a vez do Bloco de Esquerda. O líder dos bloquistas, João Semedo, diz que
espera para ouvir o que o PS tem para dizer. O também deputado - que, a
propósito das convergências à esquerda tem protagonizado uma troca de críticas
com a direcção do PS nos últimos dias - vai sublinhando que esta é a altura
para os partidos tornarem clara a sua posição quanto ao futuro. "Essa
clarificação é necessária. Não há discurso, por muito imaginativo que seja, que
dispense os partidos de esquerda de clarificar a sua posição", diz Semedo,
para quem o PS regista "algum progresso na oposição à política do governo",
mas sem explicar ainda os planos para o futuro. "O que pode acontecer na
sequência da demissão deste governo ninguém sabe ao certo. E não sei se o
próprio PS sabe", acrescenta o líder bloquista, apontando a pluralidade de
vozes no PS que defendem diferentes soluções de coligação. Semedo vai alertando
que consensos com todos "é uma impossibilidade". E diz também que
"não dar uma resposta clara é já estar a responder" - "Sempre
que se ouviu o PS dizer que tanto se pode aliar à esquerda como à direita,
todos sabem o que aconteceu: foi sempre à direita".
A ronda de
encontros fecha com o PSD, na quinta-feira, mas sem a presença dos dois
líderes.
Com Luís Claro
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