Deutsche Welle
O Parque Nacional
Krüger, na África do Sul, que deveria ser um santuário para rinocerontes,
tornou-se num ponto de abate e, na maioria dos casos, os caçadores ilegais são
moçambicanos, revela um estudo da WWF.
Na África do Sul,
vivem cerca de75% dos rinocerontes do mundo. O animal, um dos símbolos do
continente africano, é uma das maiores atrações para os turistas que visitam o
Parque Nacional Krüger, na fronteira com Moçambique.
Só nos primeiros
seis meses deste ano, 461 rinocerontes foram caçados ilegalmente na África do
Sul. Destes, 288 foram mortos dentro do Krüger, onde deveriam estar protegidos.
O local tem uma extensa fronteira aberta com Moçambique. Segundo os dados da
organização de conservação da natureza WWF, a maior parte dos caçadores de
rinocerontes no local é proveniente de Moçambique.
“Moçambique é simplesmente um país muito mais pobre e por isso caçadores
vêm com frequência de Moçambique. Eles são atraídos por grupos criminosos do
Extremo Oriente, porque há menos oportunidade de ganhar dinheiro nesta parte do
país”, revela a porta-voz da WWF de Berlim. Segundo Sylvia Ratzlaff, “barões da
caça furtiva asiáticos aproximam-se da população e pedem dicas sobre como
poderão encontrar rinocerontes.”
Punição mais severa
Desde 2008, 280 moçambicanos foram apanhados em flagrante e das 36 prisões
realizadas este ano no Parque Krüger, 30 eram cidadãos moçambicanos. Para
tentar colocar um ponto final nesta situação, a segurança foi reforçada no
Parque Nacional Krüger e o governo da África do Sul tem vindo a pôr em prática
medidas de punição mais severas.
Recentemente, dois
cidadãos moçambicanos foram sentenciados a 15 anos de prisão. “Através de penas
tão duras, a África do Sul tenta criar uma ameaça para que as pessoas realmente
tenham medo de ser presas”, explica Sylvia Ratzlaff.
Não é apenas o turismo na África do Sul que pode ficar prejudicado pela caça
furtiva ao rinoceronte, um dos cinco animais africanos que mais atraem
visitantes ao continente. Segundo a porta-voz da WWF, também Moçambique pode
sair prejudicado. “Uma vez que em países com muita caça furtiva há uma situação
económica e politicamente instável, simplesmente porque são poderes criminosos
e a disseminação da criminalidade é um fator desestabilizador”, afirma.
Medidas do Governo moçambicano
Também por isso,
espera-se que o Governo moçambicano tome providências. Além de medidas
educativas, como a consciencialização da população sobre os riscos e as
consequências desta ação criminosa, a WWF refere ainda à necessidade de
implantar medidas que impulsionem a economia local.
“As pessoas que apoiam os caçadores em Moçambique, fazem-no porque têm muito
poucas perspectivas económicas”, justifica Ratzlaff, que defende a criação de
empregos na região. Ao mesmo tempo, acrescenta, é preciso “aumentar e pôr em
prática as penas para a caça furtiva e ainda formar os políicas adequadamente.”
Por isso, a porta-voz da WWF de Berlim adverte que o problema pode criar uma
tensão política entre os dois países. Ainda assim, Sylvia Ratzlaff acredita que
os governos da África do Sul e de Moçambique certamente já estão a conversar
sobre o tema. “Este é naturalmente um processo longo, como em muitos temas
políticos. Acredito que a pressão irá aumentar cada vez mais, enquanto os
números da caça furtiva não diminuírem”, conclui.
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