sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A HUMILDADE QUE SE PRECISA

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Cada um de nós necessita cada vez mais interrogar-se em relação à vida e aos múltiplos factores que culminaram na substância humana que nos distingue, nos põe de pé, nos impulsiona e nos responsabiliza; entre outras coisas:
 
- Sobre a trajectória humilde e efémera de nossa passagem vital pelo mundo, com capacidade de apreender-nos a nós próprios e àquilo que nos rodeia;
 
- Sobre o passado para além da história, sobretudo o passado da formação do que se considera universo e planeta, na perspectiva de sua evolução e dialéctica, até à formação hominídea e daí até ao que somos hoje;
 
- Sobre a responsabilidade humana para connosco mesmos, individual e colectivamente, inter-relacionando-a com o insubstituível acervo que constitui a Mãe Terra;
 
- Sobre as nossas possibilidades humanas de luta no âmbito da lógica com sentido de vida, avaliando ainda o grau de ignorância em que nos encontramos, tal como os desafios e os riscos que nos avassalam;
 
- Sobre as sínteses de equilíbrio que há que encontrar em função dos resgates, muitos dos quais são heranças do passado, resgates esses que, sob o ponto de vista ético, estético, moral e humano, tanto nos impelem e à nossa vontade, a nos mobilizar hoje com os olhos no futuro e nos possibilitam enfrentar tantos obstáculos, vicissitudes e manipulações!
 
Para tal, é preciso nunca o esquecer, a experiência que alcançarmos na trajectória individual e colectiva, integrará nosso conhecimento e não deixará de corresponder aos nossos limites, aos nossos sonhos e às nossas emoções!
 
A humildade que se precisa faz parte da cultura daquele amor rigoroso que recentemente tive a oportunidade de evocar… um pouco como El Che!
 
2 – Tudo isso, ao fim e ao cabo, constato, tem feito parte das preocupações de Fidel, que a si próprio se observa e se interroga, observando e interrogando a vida, muito par além das preocupações próprias da consciência dum Comandante rebelde, dum líder vanguardista, esclarecido e carismático, durante décadas, dum resistente que procura com rigor socialismo e paz, como um dos mais preocupados filósofos contemporâneos.
 
Aos 87 anos é por isso ainda um Fidel que pedagogicamente nos surpreende e nos avisa, quando reflecte sobre a história da humanidade e alguns dos desafios contemporâneos que teve de enfrentar:
 
…“Las ciencias deben enseñarnos a todos a ser sobre todo humildes, dada nuestra autosuficiencia congénita. Estaríamos así más preparados para enfrentar e incluso disfrutar el raro privilegio de existir”…
 
3 – Assinalar o 87º aniversario de Fidel de Castro foi pois um acto de coerência e de humildade no Centro Cultural Dr. Agostinho Neto ao Bairro Operário de Luanda, precisamente na modesta residência um dia habitada pela familia Neto em plena época colonial.
 
Naquela altura, alguém teve o cuidado de o referir, quão difícil era aos angolanos terem acesso à habitação, à saúde, ao ensino, e à dignidade?!
 
Só muito poucos então, entre eles Agostinho Neto, tiveram a possibilidade de vencer muitas barreiras e, com isso, avaliar tal como Fidel, os imensos resgates que havia que realizar…
 
A maioria vegetava oprimida, com uma sobrevivencia em pesadelo!
 
A independencia de Angola, se respeitarmos esses ensinamentos, não é apenas um simples acto do içar duma bandeira: é um ponto de partida identitário, singular e colectivo, em que toda uma sociedade reflexivamente tem a oportunidade de se mover para fazer frente aos obstáculos herdados do passado, antes de mais na saúde, na educação, nos equilibrios humanos que há que encontrar, no respeito que o planeta nos merece, na coerência que há que cultivar conforme à lógica com sentido de vida e à paz!
 
4 – Esse espírito respirou-se, essa atmosfera bebeu-se no dia 13 de Agosto de 2013, para além do ambiente local simples e respeitoso que está na origen do próprio Centro: ela foi transmitida também pelas intervenções que sintetizaram quanto angolanos e cubanos se têm empenhado em Angola e em África (esteve também presente o “caimanero” que é o actual embaixador da Guiné Conacry em Angola), em prol duma melhor saúde e educação para todos, num paciente e persistente proceso de luta que persegue alcançar na próxima década os objectivos do milénio que não se poderão alcançar até 2015!
 
Os desafíos mantêm-se, os regates impõem-se e dão sequência ao movimiento de libertação quando ele, assumindo os desafíos dos resgates, teve de lutar de armas na mão contra o colonialismo, o “apartheid” e as suas séquelas!
 
Essa saga começou praticamente desde os alvores da revolução cubana, quando as primeiras equipas médicas internacionalistas foram destacadas para o Chile e para a Argélia, quando o movimiento de libertação em África beneficiou desde logo desses destacamentos, quando as escolas cubanas se abriram a milhares e milhares de estudantes provenientes dos países mais explorados da Terra!
 
5 – Hoje pode-se avaliar quanto os procesos de capitalismo neo liberal têm avassalado a vida em Angola e por isso há todo um manancial de vontade humilde que nos deve orientar, apegando-nos à nossa própria essência e à nossa passagem pela vida: de facto o movimiento de libertação em África, de resgate em resgate, só se poderá asumir quando os beneficios forem efectivamente para todos!
 
Esse é o segredo da nossa identidade, da nossa coerência, da nossa resistência e da paz que chegou, a paz só possível com solidariedade, internacionalismo e justiça social!
 
Essa humildade que se precisa, é o que nos ensinam os nossos maiores, como Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Samora Machel, Che Guevara e Fidel!
 
Isso percebeu-se no Centro Dr. Agostinho Nero, ao bairro Operário de Luanda, a 13 de Agosto de 2013, por ocasião do acto que assinalou os 87 anos de Fidel!
 
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