Margarida Bon de Sousa – Jornal i
Foi um diálogo de
surdos. Lall, do FMI, não sabe o que o antecessor negociou com o governo e
Berrigan mantém a posição da Comissão
O encontro de ontem
entre a troika e os parceiros sociais foi mais o cumprimento de uma obrigação e
um ritual do que uma troca aberta de posições entre os dois lados. Para já
ficou claro que o representante da Comissão Europeia, o irlandês John Berrigan,
reiterou por diversas vezes a necessidade de Portugal prosseguir com o programa
negociado com os credores internacionais, não dando qualquer sinal de
flexibilização nem ao nível do défice nem ao nível do corte na despesa pública.
Já o indiano Subir
Lall, a nova cara do Fundo Monetário Internacional, foi mais lacónico,
limitando-se a dizer que esta é a sua primeira visita a Portugal e a sua
primeira missão na troika, pelo que qualquer pergunta sobre uma eventual nova
proposta que tenha sido feita pelo governo português deve ser colocada ao seu
antecessor. O presidente da CIP, António Saraiva, chegou mesmo a apelidar esta
atitude de "desresponsabilização".
Em termos gerais,
todos os parceiros falaram dos fracos sinais de retoma da economia, da
necessidade de o mercado interno começar a crescer e do fenómeno do desemprego.
A reposta do lado de lá até foi simpática - reconhecimento dos sacrifícios que
os portugueses têm feito e o papel desempenhado pela concertação na minimização
do impacto social de algumas medidas já aprovadas - mas os sinais mantiveram-se
sombrios.
Aparentemente, vai
ser difícil para o governo conseguir uma nova flexibilização do défice dos 4%
para os 4,5% e escapar aos corte de 4,7 mil milhões de euros na despesa
pública.
Segundo resgate
Uma
nota de research do Citi Bank divulgada ontem defende que Portugal continua a
estar numa situação muito mais frágil do que a Irlanda e poderá precisar de um
segundo resgate em meados de 2014.
"Consideramos
a posição de Portugal muito mais fraca do que a da Irlanda, dado o estado menos
desenvolvido das reformas estruturais, a contracção do PIB, o elevado rácio de
dívida pública sobre o PIB e uma situação política mais incerta", lê-se na
nota do banco, que questiona também a capacidade do país regressar aos mercados
na data prevista. "Duvidamos que Portugal seja capaz de regressar
plenamente aos mercados nos próximos meses, pelo que consideramos ser
necessário um programa de assistência financeira mais abrangente a partir de
meados de 2014", refere a nota.
Programa cautelar
A
posição do Citi contraria a de Paulo Portas. Na segunda, dia do início da
oitava e nona avaliações da troika, o vice-primeiro-ministro reiterou que uma
avaliação positiva da troika ao programa não significa o fim das obrigações
para com os credores internacionais, mas traduz-se no fim do programa de
assistência económica e financeira e o fim "do tempo do
protectorado".
Nessa altura, Paulo
Portas voltou a realçar que existe uma grande diferença entre um programa
cautelar e um segundo resgate, lembrando que a Grécia está neste último caso e
a Irlanda no primeiro.
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