Deutsche Welle
Ucranianos deixaram
claro nos protestos que não aceitam ficar calados. Mas agora não se trata mais
só da aproximação com a UE, como também da própria democracia no país, opina o
chefe da redação ucraniana, Bernd Johann.
A Ucrânia não vivia
uma onda de protestos dessa magnitude desde a chamada Revolução Laranja. Na
época, então inverno europeu de 2004, a população tomou as ruas em nome da
democracia e do futuro do país.
Agora os ucranianos
voltam a se manifestar – novamente por democracia e pelo futuro de sua terra. E
de novo um homem está no centro dos acontecimentos: Viktor Yanukovytch. Assim
como antes, está nas mãos dele decidir se a Ucrânia vai continuar sendo uma
democracia ou se vai se tornar um Estado autoritário.
Em 2004, as pessoas
protestaram contra Yanukovytch porque ele queria ser presidente e, para isso,
mandou fraudar eleições. Hoje ele é presidente da Ucrânia. E os ucranianos
protestam porque perderam a confiança nas intenções dele de levar o país em
direção à Europa. E por temerem que Yanukovytch possa tirar deles não só a
perspectiva europeia, como também a democracia.
Neste domingo
(1º/12), mais de 200 mil ucranianos tomaram as ruas da capital, Kiev, para protestar
contra o governo e o presidente. Os manifestantes eram provenientes de todas as
partes do país. Eram estudantes e trabalhadores, mas também idosos e famílias
com crianças, que foram às ruas apesar dos receios de violência.
De forma
impressionante, eles deixaram claro que não ficarão calados diante de um
governo e um presidente que, inesperadamente, congelou a tão aguardada
associação do país à União Europeia e, em vez dela, anunciou uma cooperação
ainda mais estreita com a Rússia.
Os protestos contra
a decisão já vêm acontecendo há dias. O sonho europeu de democracia e
prosperidade foi momentaneamente frustrado e poderá até acabar em pesadelo: a
repressão estatal nos mesmos moldes de seus vizinhos autoritários, Rússia e
Belarus.
Sinais desse pesadelo
puderam ser vistos nos eventos assustadores da madrugada de sábado em Kiev,
quando forças especiais do Ministério do Interior investiram com extrema
brutalidade e sem aviso prévio contra os manifestantes pacíficos pró-Europa.
Os ucranianos estão
familiarizados, através da imprensa, com os abusos policiais em Moscou e em
Minsk. Mas em seu próprio país nada disso acontecia desde a Revolução Laranja.
Na capital é raro passar uma semana sem que ocorra algum protesto ou
manifestação. Os ucranianos se acostumaram a exercer seu direito de reunião de
um modo criativo e colorido.
Mas justamente
agora que decisões sobre questões tão importantes como a adesão à UE estão por
um fio – decisões que afetam a vida de todos – a polícia os reprime com seu
cassetetes.
Essa poderá ser uma
virada política que a opinião pública pode não estar disposta a aceitar. As
manifestações em Kiev deixaram bem claro que os ucranianos se recusam a se
calar. Até então, os protestos na capital eram principalmente contra a decisão
de congelar as conversações com a UE. Mas, após o aumento da violência contra
as manifestações pacíficas, o movimento ganhou novo ímpeto. O clamor popular
não é mais apenas sobre a política externa, agora é também pela renúncia do
presidente e de seu governo.
A oposição, que há
anos luta em vão por mudanças na política em Kiev, sai fortalecida dos
protestos. E as manifestações deverão continuar. Até o momento ainda não se
sabe como os líderes vão reagir. Yanukovytch enfrenta pressões enormes, e os
protestos contagiam até membros de suas fileiras. Alguns integrantes do seu
partido já abandonaram a legenda. Seu chefe de gabinete também renunciou ao
cargo.
Durante a Revolução
Laranja, em 2004, Yanukovytch acatou a voz das ruas após longo período de
hesitação. Agora ele está novamente diante de uma decisão: o presidente
continuará ou não a respeitar os direitos de liberdade de expressão e de
reunião? Como ele reagirá aos apelos para que renuncie?
Essas são as
perguntas que ele precisa agora responder aos ucranianos. E, com elas,
responderá também se o sonho europeu vai se tornar realidade ou se resultará no
pesadelo de um Estado autoritário que jamais poderá pertencer à Europa.
Autoria: Bernd
Johann (rc) – Edição: Rafael Plaisant
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