Ana Rute Silva - Público
Comissão Europeia
quer registo de resultados comprovados nos processos abertos em território
nacional. Corrupção custa cerca de 120 mil milhões de euros por ano à economia
europeia.
Nem as iniciativas
de luta contra a corrupção, nem as novas leis tiveram resultados práticos: em
Portugal “não existe uma estratégia nacional de luta contra a corrupção em
vigor”. Esta é a opinião da Comissão Europeia que, no primeiro relatório sobre
o tema – divulgado nesta segunda-feira - incita o país a apresentar um registo
de resultados comprovados nos processos de corrupção.
De acordo com o
documento, apenas 8,5% dos casos relacionados com este crime e investigados
durante 2004 e 2008 (um total de 838) foram concluídos nos tribunais até 2010.
Bruxelas defende que Portugal tem de preparar os tribunais, o Ministério
Público e as “autoridades coercivas” para lidarem com estes casos. E diz que o
“exercício efectivo da acção penal nos casos de corrupção de alto nível
continua a ser um desafio”.
“Devem ser tomadas
mais medidas preventivas contra as práticas de corrupção no financiamento dos
partidos e estabelecidos códigos de conduta aplicáveis aos funcionários
públicos eleitos”, lê-se no relatório. A Comissão sugere também “que sejam
realizados esforços suplementares para responder adequadamente aos conflitos de
interesses e para divulgar o património dos funcionários a nível local”.
“A transparência e
os mecanismos de controlo dos procedimentos de adjudicação de contratos
públicos devem ser reforçados. Além disso, Portugal deve identificar os
factores de risco de corrupção nas decisões de planeamento urbano local”,
defende Bruxelas.
Corrupção
generalizada para 90% dos portugueses
Dados recentes do Eurobarómetro, citados no relatório, o mostram que para 90% dos portugueses a corrupção é generalizada no seu país (a média europeia é 76%). Mas quando são questionados sobre as suas experiências directas, 1% afirmam que lhes foi solicitado o pagamento de um suborno em 2013 (a média europeia é de 4%). Cerca de 36% dos cidadãos nacionais consideram que são afectados pela corrupção no seu dia-a-dia.
Na Europa, quatro
em cada dez empresas consideram que este é um obstáculo à sua actividade
empresarial, valor que sobe em Portugal: 68% dos inquiridos dizem que a
corrupção é um "problema sério ou muito sério". Quando questionados
sobre se políticas de clientelismo ou compadrio são problemas para as empresas,
57% dos portugueses responderam que sim, acima da média europeia (41%).
Os dados do
Eurobarómetro mostram ainda que apenas 15% defendem que o Governo faz um
esforço efectivo no combate à corrupção (23% na média da UE).
Pelas contas de
Bruxelas, a corrupção custa à União Europeia cerca de 120 mil milhões de euros
por ano e o problema está longe de se resolver. “Tanto a natureza como o nível
de corrupção, assim como a eficácia das medidas tomadas para a combater, variam
consoante o Estado-Membro”, lê-se no relatório.
Reagindo ao
documento, a associação cívica TIAC - Transparência e Integridade diz que o
problema do país são as "reformas para inglês ver que não trouxeram mais
eficácia ao combate à corrupção". "Portugal gosta de mudar leis e
criar organismos em resposta a avaliações internacionais, mas na prática pouco
muda. Infelizmente, as autoridades portuguesas são muito lestas no plano formal
mas muito ineficazes em termos de resultados", diz a direcção da TIAC, em
comunciado.
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