Altamiro Borges,
Brasília – Correio do Brasil, opinião
Nem a ombudswoman
da Folha, Suzana Singer, aguentou tantas futricas e intrigas para jogar DilmaRousseff
contra Lula. Nos últimos dias, vários “calunistas” de aluguel do tucanato
destilaram veneno para inventar uma grave crise entre a presidenta e o ex-presidente.
Talvez movidos pelas recentes pesquisas, que apontam a possibilidade de
reeleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno em outubro próximo, eles
resolveram jogar na divisão do campo governista. A Folha tucana liderou a
campanha de fofocas, o que levou sua ombudswoman a criticar a cobertura. Para
ela, o jornal abusou de declarações “off the record”, com base no anonimato e
no sigilo da fonte, para instigar a cizânia. Vale conferir o seu artigo:
Na segunda-feira, a
Folha informava na capa que o ex-presidente Lula anda criticando o governo
Dilma em conversas com políticos e empresários. Lula teria dito que confia na
reeleição de sua ex-ministra, mas que ela precisa mudar em 2015. A atual equipe
econômica estaria com o “prazo de validade vencido”.
A reportagem foi
toda construída com declarações “off the record” (“fora dos registros”), feitas
em condição de anonimato a pedido dos entrevistados. São citados
“interlocutores do mundo político e empresarial”, pessoas da “equipe de Lula” e
um “amigo próximo do ex-presidente” (http://folha.com/no1416735).
O segundo destaque
de política, nesse mesmo dia, eram as preocupações de empresários com o
intervencionismo na economia e com a formação do ministério de um eventual novo
mandato de Dilma. Mais uma vez, tudo “off the record”. Os anônimos eram
“líderes do agronegócio”, “o dirigente de uma grande indústria”, “banqueiros de
peso” e “empreiteiros” (http://folha.com/no1416741).
Declarações
anônimas são um instrumento importante do jornalismo, porque, muitas vezes, não
há outra forma de obter uma informação valiosa. Só que seu uso não pode ser
banalizado, deve ser um último recurso da reportagem.
Quando dá espaço a
vozes sem dono ou crava uma informação baseada em “a Folha apurou…”, o jornal
está exigindo um voto de confiança do leitor. É como se dissesse: “Não posso
contar quem afirmou isso nem como consegui o dado, mas está correto, acredite”.
A informação “off
the record” costuma ser negada no dia seguinte e aí o jornal garante que as
fontes são “seguras”. No caso das críticas de Lula a Dilma, na própria
segunda-feira, a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca:
“Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito,
barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir”.
O ideal é que a
declaração anônima seja o ponto de partida de uma apuração maior, que o
repórter busque documentos e entrevistas que comprovem o que foi dito. Nas
reportagens sobre as ressalvas à gestão Dilma, dá para entender a dificuldade
de convencer o entrevistado a mostrar a cara, mas é inegável que textos assim,
sem nenhum nome citado, parecem intriga.
Para diminuir essa
má sensação, o jornal deveria explicar por que aceita reproduzir declarações de
gente invisível. Algo na linha “a Folha aceitou o anonimato porque os
empresários temem represálias do governo” ou “a Folha ouviu quatro petistas e
dois banqueiros, que não revelaram seus nomes porque Lula pediu sigilo nas
conversas”.
Aposto que, se
exigir que o “off” seja justificado, o jornal constatará que ele é, muitas
vezes, dispensável. A presença de anônimos deveria reduzir-se ao mínimo
necessário.
Apesar das
ponderadas críticas da ombudswoman, a Folha não fez qualquer autocrítica e
manteve sua linha de “intrigas”. O mesmo ocorreu em outros veículos.
A coluna de
futricas de Felipe Patury, na revista Época, chegou a afirmar que “quase metade
dos deputados do PT defende ‘Volta Lula”, sem apresentar provas.
Até Nelson Motta,
que deixou de lado suas críticas musicais para virar um franco-atirador da
oposição, escreveu no jornal O Globo, na sexta-feira (28), que “alguns
oposicionistas já preferem até a volta de Lula aos riscos da continuação de
Dilma. Aceitam abrir mão de um candidato de oposição em favor de Lula só para
se livrar de Dilma e de sua equipe, seu estilo e sua gestão econômica”.
O tucaninho
disfarçado de colunista global afirma, no maior cinismo, que “os mais cínicos
dizem que teria saído mais barato ao país ter dado um terceiro mandato a Lula”.
Na sua visão tacanha – que beira o machismo –, Dilma “tem ideias próprias
[sobre a economia], é ‘desenvolvimentista’ com DNA marxista/brizolista”. Para
ele, a proposta do “volta Lula” decorre dos erros da atual presidenta. “A
tragédia anunciada da Venezuela e o avanço da Argentina para o abismo confirmam
a falência do modelo bolivariano e o desastre do kirchnerismo, que têm em
comum, além do esquerdismo e da incompetência na gestão econômica, a
perseguição à imprensa e aos adversários políticos”.
Diante da onda de
intrigas da mídia, a própria presidente Dilma Rousseff fez questão de rechaçar
os boatos. Direto de Bruxelas, onde participou da Cúpula Brasil-União Europeia,
ela afirmou em entrevista aos jornalistas brasileiros: “Eu acho que vocês podem
tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e
o presidente Lula. Mas vocês não vão conseguir… A imprensa é livre e tem
direito de expressão e eu e o presidente Lula não temos divergências a não ser
as normais”. Apesar do desmentido categórico, a Folha tucana estampou o título
canalha na matéria: “Dilma minimiza divergências com Lula”. Ela não minimizou,
mas negou. Os conselhos de Suzana Singer não servem mesmo para nada!
*Altamiro Borges é
jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB
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