Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
O PREC que envolve
toda a Europa obriga-nos a aceitar a máxima austeridade
O poder está sempre
na rua, para o bem e para o mal. É a rua que exerce o seu direito de voto -
elegendo governos - e é a rua que pode ou não pressionar os governos para
mudarem a sua política ou, inclusivamente, é a rua que os pode fazer cair, por
demissão voluntária ou golpe de Estado. Foi sempre assim em todo o lado (nos
últimos dias, com a questão da Ucrânia, tanto os Estados Unidos como a União
Europeia se transformaram em subscritores activos desta teoria).
Depois dos
acontecimentos na última manifestação de polícias em São Bento, a dúvida era se
seria repetido o que até então tinha sido inédito, a subida das escadarias dos
manifestantes perante a passividade dos camaradas de armas do Corpo de
Intervenção. Desta vez, os manifestantes ficaram a meio da escada e da acção
política: seria insustentável para o governo permitir pela segunda vez aos
manifestantes polícias aquilo que não permite aos outros manifestantes. Mas
também seria insustentável o confronto entre polícias de serviço e polícias
manifestantes - a manifestação do secos e molhados contribuiu violentamente
para a má imagem do governo de Cavaco Silva.
O problema é que,
de todos os prismas de que se olhar esta história, tudo é insustentável:
polícias a violarem a lei, polícias a cumprirem a lei e "varrerem"
outros polícias e um governo que trata as suas forças de segurança como trata o
resto dos funcionários públicos e pensionistas do país - abaixo de cão, depois
dos cortes salariais e aumentos de impostos.
Há um processo
revolucionário em curso e ele não é desencadeado pelos "comunistas" -
o partido que ficou culpado pelo chamado PREC, embora os comunistas nunca
estivessem estado sozinhos nesses acontecimentos. Este novo PREC é desencadeado
pelas instituições europeias, com a bênção de todos os governos europeus,
incluindo o nosso. Este PREC não se restringe à "comuna de Lisboa"
(como era conhecida a zona de maior influência vermelha, a capital e o distrito
de Setúbal), é um PREC que envolve toda a Europa e que nos obriga a nós,
portugueses, a aceitar condições de austeridade inenarrável em nome de
continuar a pertencer ao "clube dos ricos". Qualquer partido que vá
para o governo se confrontará com isto - as regras da Europa, onde manda a
Alemanha, impõem-nos um caminho de sentido único, o do empobrecimento
generalizado. A situação é explosiva e o que aconteceu ontem pode repetir-se em
versões mais negras.
Sem comentários:
Enviar um comentário