sexta-feira, 7 de março de 2014

O PODER ESTÁ SEMPRE NA RUA



Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião

O PREC que envolve toda a Europa obriga-nos a aceitar a máxima austeridade

O poder está sempre na rua, para o bem e para o mal. É a rua que exerce o seu direito de voto - elegendo governos - e é a rua que pode ou não pressionar os governos para mudarem a sua política ou, inclusivamente, é a rua que os pode fazer cair, por demissão voluntária ou golpe de Estado. Foi sempre assim em todo o lado (nos últimos dias, com a questão da Ucrânia, tanto os Estados Unidos como a União Europeia se transformaram em subscritores activos desta teoria).

Depois dos acontecimentos na última manifestação de polícias em São Bento, a dúvida era se seria repetido o que até então tinha sido inédito, a subida das escadarias dos manifestantes perante a passividade dos camaradas de armas do Corpo de Intervenção. Desta vez, os manifestantes ficaram a meio da escada e da acção política: seria insustentável para o governo permitir pela segunda vez aos manifestantes polícias aquilo que não permite aos outros manifestantes. Mas também seria insustentável o confronto entre polícias de serviço e polícias manifestantes - a manifestação do secos e molhados contribuiu violentamente para a má imagem do governo de Cavaco Silva.

O problema é que, de todos os prismas de que se olhar esta história, tudo é insustentável: polícias a violarem a lei, polícias a cumprirem a lei e "varrerem" outros polícias e um governo que trata as suas forças de segurança como trata o resto dos funcionários públicos e pensionistas do país - abaixo de cão, depois dos cortes salariais e aumentos de impostos.

Há um processo revolucionário em curso e ele não é desencadeado pelos "comunistas" - o partido que ficou culpado pelo chamado PREC, embora os comunistas nunca estivessem estado sozinhos nesses acontecimentos. Este novo PREC é desencadeado pelas instituições europeias, com a bênção de todos os governos europeus, incluindo o nosso. Este PREC não se restringe à "comuna de Lisboa" (como era conhecida a zona de maior influência vermelha, a capital e o distrito de Setúbal), é um PREC que envolve toda a Europa e que nos obriga a nós, portugueses, a aceitar condições de austeridade inenarrável em nome de continuar a pertencer ao "clube dos ricos". Qualquer partido que vá para o governo se confrontará com isto - as regras da Europa, onde manda a Alemanha, impõem-nos um caminho de sentido único, o do empobrecimento generalizado. A situação é explosiva e o que aconteceu ontem pode repetir-se em versões mais negras.

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