Paulo Nogueira,
Londres – Correio do Brasil
Paulo Nogueira, no
blog Diário do Centro do Mundo: Segundo Mônica
Bergamo, da Folha, Dilma se queixou do Jornal Nacional numa
conversa que teve com João Roberto, o segundo dos três filhos de Roberto
Marinho e responsável pelo conteúdo editorial das Organizações Globo.
Faz sentido, é
claro.
O Jornal
Nacional, absurdamente governista na ditadura militar, foi para a direção
oposta quando o PT chegou ao poder.
Se o JN existisse
sob Jango, é provável que ele seria mais ou menos como é hoje: uma ênfase extraordinária
nas más notícias, reais ou imaginárias.
O que não faz
sentido é a atitude de Dilma, e do PT no poder, diante da Globo. A Globo faz
o que sempre fez: sabota governos populares e intimida o mundo político para
que seus privilégios imensos sejam preservados.
E o que tem feito o
governo em resposta? Nada. Repito: nada.
A evidência mais
notável disso está nas verbas publicitárias que o governo destina à Globo.
Em dez anos, foram R$ 6 bilhões, isso mesmo com a queda notável da audiência da
emissora. (A Globoperdeu cerca de um terço do público na última década.)
Este dinheiro
alimenta a máquina da Globo destinada à sabotagem de medidas
favoráveis ao “Zé do Povo”, como o patriarca da Globo, Irineu Marinho, se
referia aos cidadãos comuns.
A Secom, que administra
a verba governamental, afirmava sob Helena Chagas que esse paradoxo – um
dinheiro brutal para uma empresa que faz campanha contra – se devia a uma coisa
chamada “mídia técnica”.
Pausa para rir. Ou
chorar.
Nada justifica você
premiar quem sabota você, ou numa visão mais ampla, a sociedade.
As mensagens
oficiais veiculadas na Globo chegariam a um número maior de pessoas.
Era mais ou menos o que dizia Helena Chagas.
Mas um momento. Que
pessoas são mesmo estas? Elas verão – ou zapearão para fugir – comerciais que
promove um governo que nas reportagens é brutalmente atacado sempre.
Pela lavagem
cerebral a que é submetido, o típico admirador da Globo – ou da Veja –
abomina o governo petista e estatais como Petrobras e Banco do Brasil.
Há lógica em gastar
bilhões de reais para levar a este grupo publicidade de estatais que ele
detesta?
Não. Não há.
Outro dia, vi uma
publicidade da Petrobras na página de Reinaldo de Azevedo na Veja. Alguém
já viu o que Azevedo e seus leitores dizem a respeito da Petrobras?
Um dos maiores
erros do governo é exatamente a “mídia técnica”, que favorece quem age para
corroê-lo ou mesmo, como se viu no julgamento do Mensalão, para destruí-lo.
Helena Chagas saiu
e Thomas Trauman entrou. Haverá alguma mudança numa estratégia não apenas
errada como suicida?
Os fatos dirão.
A recente pesquisa
da Secom sobre consumo de notícias mostrou o avanço extraordinário da internet.
Testemunhamos isso
de um lugar privilegiado. O DCM, em um ano de vida, saiu de pouco mais 100
mil visualizações mensais para 2,5 milhões. Passamos a barreira de 1 milhão de
visitantes únicos por mês.
O fato de Lula ter
escolhido blogueiros para dar uma entrevista é também revelador de que o PT
parece ter acordado para a realidade: a internet é cada vez mais influente e a
mídia tradicional cada vez menos. Fora tudo, é na internet que você encontra
vozes alternativas à velha visão de mundo pró 1% defendida agressivamente pelas
grandes corporações jornalísticas.
No caso da
alardeada queixa de Dilma a João Roberto Marinho, muito mais efetivo
que palavras seria um ajuste imediato e profundo na distribuição das verbas
oficiais.
Quem ganharia com
isso, na verdade, seria a sociedade – e com ela o projeto de um Brasil justo,
algo que a Globo e as grandes empresas de mídia sempre combateram ferozmente.
Paulo Nogueira é
jornalista, editor do blog Diário do Centro do Mundo, editado a
partir de Londres.
Na foto: João
Roberto Marinho é responsável pela linha editorial das Organizações Globo
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