Eugénio
Costa Almeida* - Pululu
Parece
que o Ocidente ainda não percebeu que quem manda na Praça Vermelha, não se
chama Boris Yeltsin ou Dimitri Medvedev, e não (sobre)vive do vodka como
o primeiro.
Actualmente
o inquilino da Krasnaya ploshchad (Praça Vermelha, em português),
mais concretamente, do Kremlim, chama-se VladimirVladimirovitch Putin; que, por
acaso, foi membro superior do KGB e da, posterior, FSB.
É
um indivíduo que conhece, como poucos, na Rússia, a mentalidade ocidental e
como os ocidentais se (não) comportam perante factos para os quais, apesar de
estarem preparados, in book, nunca o estão mental e psicologicamente. Esperam
sempre que, fazendo ameaças, os opositores se acobardam.
Nada
mais errado quando o opositor conhece bem quem o afronta, como é o caso de
Putin! Como actual inquilino da Praça Vermelha – é a segunda vez que lá está
com um mandato como teórico primeiro-ministro – além de ter vindo da antiga
escola do KGB, ou por isso, mesmo, sabe que o Ocidente não possuiu, nesta
altura, de um JFK além da União Europeia ser, cada vez mais, uma manta de
retalhos nada solidária onde os problemas sociais, políticos e, principalmente,
económicos prevalecem sobre qualquer tipo de redefinição de fronteiras que não
sejam as suas.
Por
isso torna-se ridículo quando a NATO (ou OTAN) vem dizer que está
disponível paraabrir
portas à Ucrânia, com o próprio Primeiro-ministro ucraniano afirmar que vai
pedir ao parlamento que aprove pedido de adesão à Aliança Atlântica.
Questiona-se, que verdadeira legitimidade política tem o actual primeiro-ministro
ucraniano para fazer afirmações destas que só colocam a NATO em cheque?
Acresce,
que se saiba, um dos primeiros requisitos da NATO passa pelos Estados terem
ideias políticas defensoras da Liberdade e dos Direitos Humanos. Os actuais
inquilinos de Kiev, como se sabe, estão no poder após uma enorme e sangrenta
actividade contestatária e encabeçada por movimentos claramente nada democratas
(para não chamar os nomes correctos…).
Por
outro lado foi sempre teorizado pela NATO – e muito bem – que a Ucrânia deveria
ser um país de charneira entre um Ocidente – às vezes, e muitas vezes, – quase
decrépito mas onde persiste a melhor das ditaduras e uma Rússia onde o czarismo
está muito implantado e onde existe um Chefe de Estado que deseja recuperar um
esplendor político-militar – mesmo que fictícios – que já lhe permitiu se
exibir como superpotência.
Ora,
nem o Ocidente (Europa e EUA) está capaz de afrontar um “urso” a despertar, com
a particularidade dos russos serem os principais fornecedores do gás consumido
na Europa central e leste, onde predomina uma potência económica que parece estar
a estagnar, a Alemanha – também ela com atitudes muito dúbias, historicamente
reconhecidas, no que toca a Moscovo – nem os EUA conseguirão manter diversos
“conflitos” latentes em várias frentes – com os russos, com os radicais
islâmicos e… com os outros –; nem os russos – leia-se, Putin –, poderão
sustentar a peregrina ideia que vão conseguir recuperar o antigo esplendor
glamouroso da defunta URSS.
Face
a estes condicionalismos talvez não fosse despiciente que as duas potências,
sem prévia agenda, apresentassem numa távola (redonda ou quadricular ou o que
quiserem) as suas preocupações e depois disso debatessem a melhor solução para
resolverem a questão ucraniana.
De
uma coisa os ucranianos deverão ter a certeza, se os alemães, principalmente,
sentirem que a sua economia irá claudicar ainda mais por causa da causa
ucraniana, serão, indiscutivelmente – ameaçando, as vezes que o fizerem, de
aumentarem as sanções à Rússia –, os primeiros a deixarem cair aquela causa!
Não tenham a menor dúvida!
Por
outro lado o Ocidente tem de compreender que não pode sustentar uma raposa
disfarçada no seu galinheiro sem que daí não venham nefastas consequências. Ao
Ocidente, agrade-lhe ou não, tem que reconhecer que apoiou um movimento onde
persistiam, e persistem, indivíduos cuja linha política nada tem de democrata e
onde certos autocratas actuais, nomeadamente em África, conseguem passar por
cordeiros, comparados com aqueles políticos ucranianos.
Como
também não deixa de ser ridículo que o quase “demissionário” presidente da
Comissão Europeia, Durão Barroso, diga que embora reconheça uma situação ou “um
ponto de não retorno”, onde os insurrectos separatistas estão a avançar na
região sul ucraniana a determinação europeia terá o seu impacto na Rússia. Qual
determinação? As sanções que todos subscrevem mas onde sobre as quais cada um
dos Estados da UE impõe derrogações conforme os seus interesses económicos e
financeiros?
Às
vezes a Europa – e alguns, muitos, dos seus políticos – faz recordar aquele
patético ministro de Saddam Hussein que afirmava, peremptoriamente, que os
norte-americanos nunca entrariam em Bagdad, precisamente quando estes já
estavam a abrir a porta do seu gabinete…
*Eugénio
Costa Almeida* – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em
Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.
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