Há
quem atribua à subsidiária angolana culpas pelo colapso do Banco Espírito Santo
(BES) em Portugal. Seja
como for, as relações entre ambos azedaram de vez com medidas autónomas tomadas
agora pelos acionistas do BESA.
A
última assembleia geral de acionistas colocou nas mãos de novos donos o destino
do BES Angola, agora designado Banco Económico. Depois da intervenção do Banco
Nacional de Angola, a subsidiária angolana do BES passa também a ter outra
estrutura acionista, com a entrada da petrolífera Sonangol e dos chineses
Lektron Capital.
O
BES considera que todas as decisões tomadas na referida reunião, realizada na
capital angolana no final de outubro último, são “inválidas e ineficazes”, uma
vez que o seu representante foi impedido de participar. Sem dar mais detalhes,
o BES assegura que vai agir “em conformidade” pelo facto de não ter sido ouvido
na assembleia geral do BES Angola (BESA), da última semana de Outubro. A
entidade portuguesa, que se considera detentora de 55,7 por cento do capital do
BES Angola – ou Banco Económico –, fala de ilegalidades e está a preparar um
plano de contestação.
O
BESA é um tema complexo
O
Novo Banco português, o chamado “banco bom” que nasceu com a crise no BES,
também é acionista do Banco Económico. Para Rute Sousa Vasco, a criação do novo
instituto financeiro foi uma decisão tardia mas acertada. A autora do recém
lançado livro “Banco Bom, Banco Mau” considera importante a separação do lixo
tóxico dos ativos bons: “A preocupação de separar o lixo tóxico foi portuguesa
e angolana. O tema de Angola é um bocadinho mais complexo, no sentido que todos
os processos que estão associados agora ao BESA, e aos fundos que supostamente
foram retirados ao BESA, e que ninguém consegue perceber qual foi a
transferência que foi feita, já pressupunham um procedimento – vamos usar um
adjetivo comum na banca – irregular, nas contas do BES”. Mas se Sousa Vasco
considera que a separação era imprescindível, e que “mais vale tarde do que
nunca”, também diz: “A ter que intervir, acho que a esta altura faz todo o
sentido. Mas não sei se controla danos. Tenho muitas dúvidas”.
Analistas
criticam procedimento do BES e do BESA
De
acordo com o Banco de Portugal, o crédito de cerca de cinco mil milhões de
dólares norte-americanos que o BES tinha concedido ao BESA, foi transferido
para o Novo Banco. O que quer dizer que o BES, confrontado com uma profunda crise
no mercado, também perdeu a posição que tinha na instituição angolana. É o que
defende a ex-jornalista Sousa Vasco: “No dia 3 de Agosto, o BES como nós o
conhecíamos, acabou. Para trás dessa data estão longas semanas de negociação,
que envolveram Angola e que envolveram o BESA, e que poderiam, eventualmente, a
certa altura, ter interrompido a queda abrupta que o banco teve. Depois do
Banco de Portugal ter anunciado a separação (do BES) num banco bom e de um
banco mau, e, no fundo, é a primeira vez em Portugal que nós temos uma
experiência com essas caraterísticas, a partir daí, o que nós temos por certo,
é que o BES como nós o conhecemos, desapareceu”.
Benefícios
das relações bilaterais são muitos e mútuos
Segundo
o semanário português Sol, o mercado angolano ajudou os bancos portugueses a
baixarem os prejuízos nos primeiros três trimestres deste ano. Beneficiaram,
nomeadamente, o BPI (Banco Português do Investimento) e o Millennium BCP, que
têm a empresária Isabel dos Santos e a Sonangol como acionistas de referência.
Para
o analista Sérgio Figueiredo, Angola continua a ser importante não apenas para
a banca portuguesa: “No sistema financeiro há uma conjugação de duas
necessidades: a necessidade de “know-how” e de sofisticação que a banca
angolana tem, e a necessidade de capital, que Angola possui, e que Portugal não
tem. Isto não é uma especulação, é uma evidência. A banca angolana tem
beneficiado muito com a experiência pela qual Portugal passou, o caminho das
pedras difíceis que fez para que os angolanos evitem os erros que os
portugueses cometeram na sua democracia. Mas também tem havido muita
contribuição de investidores angolanos para evitar o colapso da banca
portuguesa. Os casos são conhecidos e históricos”.
E
isso, diz o ex-jornalista de economia, deve ser visto como uma esperança para o
futuro das relações bilaterais luso-angolanas.
João
Carlos, Lisboa – Deutsche Welle
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