sábado, 24 de janeiro de 2015

“A GRÉCIA VAI LEVANTAR-SE E DIZER À EUROPA: NÃO SOMOS VOSSOS ESCRAVOS”




Em entrevista ao Expresso, Vassilis Vassilikos, um dos mais conhecidos e respeitados escritores gregos da atualidade, considera "inaceitáveis" as pressões que vários líderes europeus têm feito para "condicionar" as eleições de domingo no país.

Joana Pereira Bastos (texto) e António Pedro Ferreira (fotos), enviados à Grécia - Expresso

Na Grécia, Vassilis Vassilikos é visto por muitos como uma referência moral. Aos 77 anos, um dos mais respeitados escritores gregos da atualidade, traduzido em mais de 30 línguas, não se conforma com a situação a que chegou o país. O autor da obra Z, que deu origem ao filme homónimo distinguido com o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1970, diz que chegou a altura de o povo grego se erguer e enfrentar a União Europeia.

"Nos últimos cinco anos a Grécia tem sido uma cobaia nas mãos da UE, numa experiência que desgraçou o país. Economicamente, a situação tem piorado a cada dia que passa. Agora chega. A Grécia vai levantar-se e dizer à Europa: Não somos vossos escravos", diz o escritor, que combateu a ditadura militar dos Coronéis, entre 1967 e 1974, e viveu exilado em Roma, Paris e Berlim.

Apesar de concorrer por outro partido da esquerda - que teve 7% nas eleições de 2012 mas que agora deverá ficar abaixo do patamar mínimo de 3% para conseguir um lugar no Parlamento -, o escritor espera que o Syriza vença as legislativas. E acredita que isso "trará uma nova esperança para todo o Sul da Europa".  

Em declarações ao Expresso, lamenta a forma como a Grécia e outros países do Sul foram tratados pelo Norte da Europa, nomeadamente pela Alemanha, no início da crise, "retratados como povos preguiçosos que querem viver bem sem trabalhar" e referidos como P.I.G.S (sigla em inglês para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, que significa porcos). "Fomos tratados como lixo. A Grécia é o berço da Europa. Foi aqui que foi criada a política, a democracia, a filosofia ou o teatro. E não tiveram respeito por nós".

Apesar do fantasma pairar sobre estas eleições, Vassilis não acredita que haja um risco real de a Grécia sair do euro: "Os gregos não querem isso e a União Europeia também não. Seria um mau precedente". E garante que o país vai vencer a crise. "Sobrevivemos a 450 anos de ocupação turca, sobrevivemos à II Guerra Mundial, a uma guerra civil e a uma ditadura. O povo grego sobrevive há três mil anos e não vai sucumbir por uma simples crise económica".

Para o escritor, os gregos, no entanto, não sairão iguais desta crise. "Sairão melhores", garante. "Redescobrimos alguns valores que tínhamos esquecido como a importância da solidariedade e da união da família. E agora amamos a Grécia, mais do que nas últimas décadas". 

Na foto: Vassilis Vassilikos. Conceituado escritor grego é particularmente crítico da situação atual e do comportamento da Europa em relação à Grécia

*AMANHÃ, DOMINGO, PÁGINA GLOBAL VAI DISPENSAR ATENÇÃO ESPECIAL À GRÉCIA E ÀS ELEIÇÕES QUE OCORRERÃO NAQUELE PAÍS

NO FIO DA NAVALHA



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Um conjunto de acontecimentos, no plano nacional, europeu e mundial estão a marcar este início de 2015: encontramo-nos a participar, pela nossa ação ou inação, em grandes transformações e mudanças. Novos tempos estão emergindo. As nuvens negras adensam-se e podem dar origem a tempestade. A agitação moral e a de espírito já são fortes.

Coloco em relevo duas situações no plano nacional - urgências hospitalares e venda da PT - e outras duas no plano europeu - decisões do Banco Central Europeu (BCE) e eleições na Grécia.

O Serviço Nacional de Saúde está no limite das condições para ainda poder ser salvo. Esta semana, o secretário de Estado da Saúde disse que é preciso retirar da "conflitualidade política" as notícias sobre situações de caos nas urgências hospitalares e o aumento significativo da média mensal de mortes, porque são alarmismos.

O que é alarmista e intolerável não são as notícias sobre aqueles factos mais que provados, mas sim o encobrimento que o Governo faz da realidade, a não tomada de medidas de curto prazo a tempo e a horas, a não adoção, em tempo útil, de soluções sistémicas de longo prazo.

Se os cuidados de saúde estão mais distantes das pessoas, se em muitos casos o número de médicos, enfermeiros e outros profissionais está abaixo de mínimos exigidos, se aumentaram as dificuldades económicas e financeiras das pessoas e das famílias, inevitavelmente existe um crescendo de riscos. As precariedades e inseguranças dos profissionais da saúde são criminosas. Uma boa equipa de saúde exige conhecimentos partilhados, rotinas trabalhadas, construção de mecânicas de relacionamento e ação conjunta que levam tempo a adquirir. Não podemos aceitar a trapaça de que se resolve o problema das urgências com médicos e enfermeiros contratados nas novas praças de jorna.

A PT foi vendida à Altice. Ninguém sabe com segurança qual o seu futuro. Mas é uma evidência que a sujeição às imposições da troika e a ânsia neoliberal do Governo PSD/CDS contribuíram fortemente para colocar na mão de capital estrangeiro mais uma grande empresa e podem-na ter afetado irremediavelmente.

A PT foi criada ao longo de décadas, e bem, pelo Estado português. O enfeudamento desta grande empresa da economia real aos interesses estratégicos de um grupo financeiro (o GES/BES) e a ação de gestores predadores a sacarem para os acionistas o maior lucro possível no mais curto espaço de tempo, constituíram os fatores determinantes para o desastre.

É preciso continuar a questionar o rumo adotado e responsabilizar os culpados pelos danos materiais causados. Os prémios de gestão pagos desde 2010 devem ser devolvidos. Um projeto de telecomunicações com qualidade, capacidade inovadora e centro de decisão em Portugal é indispensável.

O BCE decidiu pôr mais dinheiro a circular, em nome do combate à deflação e do apoio ao investimento. Aparentemente é uma medida positiva que já devia ter sido adotada há mais tempo e que ao nosso país pode permitir, no imediato, algum controlo sobre o custo da dívida pública. Mas quando todo o processo se conhecer, talvez se conclua que os estados (em particular os mais débeis, como Portugal) "compraram" um novo encargo e que se deu mais um passo no sentido da desagregação do projeto europeu solidário do nosso imaginário. Por agora, sabemos que o BCE vai comprar dívida pública aos Bancos para que estes possam disponibilizar capitais para o investimento. Quanto desse dinheiro vai chegar à economia real? Quanto se vai esgueirar para a especulação? E vai haver aumento de salários e de pensões por forma a gerar procura?

Os gregos vão a eleições amanhã, depois de terem sido pressionados, insultados e chantageados. Parecem não abdicar de fazer escolhas livres. Emociono-me pela sua coragem. O povo grego resistiu corajosamente a Mussolini, sofreu horrores na II Guerra Mundial e após a guerra apoiou a ação de solidariedade com o povo alemão. É curioso que hoje uma das "reivindicações esquerdistas" de que acusam o Syriza seja o facto de este partido querer que os alemães tratem a dívida grega, como os gregos trataram a dívida alemã à saída da guerra. Vai ser muito difícil existir um governo grego que consiga governar contra o Banco Central Europeu e contra toda a corja de especuladores. E vão surgir contradições.

Sobre o fio da navalha, não desarmemos. Há sinais de esperança. Não há rumos pré-definidos e podemos construir caminhos novos.

Portugal: 700 mortos em urgências "nada tem de assustador", diz ministro da Saúde




O ministro da Saúde recusou, este sábado, considerar assustador o registo da Direção-Geral da Saúde (DGS) de ocorrência de 700 mortos nos primeiros 20 dias de janeiro nas urgências dos hospitais públicos.

"Nada tem nada de assustador", declarou Paulo Macedo, depois das visitas a unidades de saúde em Linda-a-Velha e Alcântara (Lisboa) com alargamento de horário de atendimento aos dias de semana e ao sábado, por causa do surto da gripe.

O governante disse que "esse número foi dado pelo Ministério da Saúde" à DGS e explicou que, "em todo o mundo", o registo de mais óbitos em hospitais "é na urgência".

"Todos os anos, temos um grande número de óbitos nas urgências. A seguir à área dos cuidados intensivos, em todos os hospitais de todo o mundo, a área em que há mais óbitos é na urgência", frisou.

No entender do responsável pela pasta da saúde, "há uma alteração de hábitos culturais", porque se constata que "há mais pessoas que vão falecer hoje em dia aos hospitais, não é só uma questão dos cuidados de saúde serem melhores e haver uma maior oferta".

"Há um conjunto de pessoas que, antes, quando as suas condições clínicas não justificavam, queriam estar em casa e, hoje em dia, mesmo que as suas condições não indiquem grande necessidade de um recurso ao hospital, prefere a sua família ter um enquadramento de âmbito clínico. Esse padrão acontece em todos os hospitais", afirmou.

Sem elementos sobre as causas dos óbitos, os dados da DGS, que não permitem saber se os doentes morreram antes ou depois de serem observados por um médico, indicam que, em 2014, morreram 9.429 pessoas nas urgências dos hospitais públicos, quando registo de 2013 foi de 9.213.

Expresso

Portugal: PAULO PORTAS METE GIRL NO BANCO DE FOMENTO




Militante centrista na gestão do banco de Fomento é casada com o autor da reforma fiscal.

Abílio Ferreira - Expresso

A nomeação de uma dedicada militante centrista para a comissão executiva do banco de Fomento está a gerar polémica e a levantar suspeitas de favorecimento partidário. Maria João Nunes, vogal da Comissão Concelhia do Porto do CDS e técnica do departamento de Turismo da Câmara Municipal do Porto (CMP), não tem experiência de gestão bancária nem ligação a empresas.

Nos últimos 10 anos, a sua carreira repartiu-se pelo gabinete municipal de turismo e cargos autárquicos em juntas de freguesia. Licenciada em Direito, Maria João tem a particularidade de ser casada com Rui Morais, autor da reforma fiscal tão elogiada pelo CDS e Paulo Portas. Rui Morais não cobrou dinheiro pelo documento.

A nomeação é "um rude golpe na dignidade da política e do banco de Fomento", reagiu ao Expresso um militante do CDS,  sob anonimato. Outras fontes classificam de "escandalosa" a  "fulgurante ascensão". Maria João nunca esteve contactável e não respondeu às mensagens do Expresso.

A escolha foi validada pela Comissão de Recrutamento e Seleção para Administração Pública (CRESAP) que reconhece "formação adequada" e valoriza a "experiência  na área do marketing". No currículo, cita passagens como diretora das agências Ava - Marketing e Publicidade (1994/95) e McCann Erickson Porto (1995/2003).

BANCO ESTATAL DE TIMOR-LESTE REFORÇARÁ EMPRÉSTIMOS EM 2015




O Governo timorense vai reforçar a liquidez do Banco Nacional de Comércio de Timor-Leste (BNCTL), estatal, o que permitirá aumentar o valor e o número dos empréstimos em 2015, anunciou o porta-voz do executivo.

"Com o crescimento dos ativos bancários em 2014, o reforço da liquidez vai permitir aumentar o valor dos créditos e o número de empréstimos de longo prazo", refere em comunicado, Agio Pereira, ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros e porta-voz oficial do Governo.

"Em 2015 e nos anos seguintes, o BNCTL planeia reduzir ainda mais as taxas de juro dos empréstimos e, ao mesmo tempo, cobrir os custos operacionais e o cumprimento de todas as normas do Banco Central", sublinha.

Agio Pereira destaca o facto de o BNCTL ter vindo a reduzir as taxas de juro dos empréstimos de 18% para entre 8 e 14%, com o crédito à habitação este ano a ter taxas de juro entre os 5% e 6%.

"Até 2017 será dada prioridade a empréstimos para empresas, projetos, investimentos, fundos para serviços e para pequenas e médias empresas de microfinanças", sublinha.

Criado em julho de 2011, a partir do antigo Instituto de Microfinanças de Timor-Leste (IMfTL) - por sua vez criado em 2001) o BNCTL nasceu com um capital inicial de apenas dois milhões de dólares (1,7 milhões de euros) do "Trust Fund for East Timor" (TFET), uma iniciativa do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD).

Além do BNCTL, o Estado timorense está a trabalhar no projeto de criação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BND) que "terá um papel complementar" apostando "em médias e grandes empresas de setores escolhidos cujas necessidades não estão atualmente contempladas pelas instituições financeiras existentes".

No comunicado, o ministro destaca os resultados positivos do BNCTL no ano passado, com um "crescimento significativo em ativos, depósitos e empréstimos".

Entre os números do relatório financeiro correspondente a 2014, ainda por auditar, o Governo destaca o aumento de 88% nos ativos, que cresceram para 90 milhões de dólares (77,3 milhões de euros).

A carteira de empréstimos para o setor público cresceu 24% para os 26 milhões dólares (22,9 milhões de euros), e os depósitos de clientes aumentaram 105% para 64 milhões de dólares (55,5 milhões de euros).

"O número de clientes a quem foi emprestado dinheiro alcançou 17.076 e o número de clientes que fizeram depósitos no BNCTL atingiu 160.446. O aumento dos depósitos e dos clientes que fazem depósitos é considerado uma tendência positiva na economia em desenvolvimento de Timor-Leste", refere o comunicado.

Lusa 

China: Centenas nas ruas de Macau contra violência doméstica e deputados nomeados




Macau, China, 24 jan (Lusa) - Centenas de pessoas saíram hoje à rua num protesto contra a violência doméstica e, em particular, contra as declarações do deputado Fong Chi Keong, que este mês fez a apologia destas agressões na Assembleia Legislativa.

O protesto "Love me. Don't beat me" (Ama-me. Não me batas"), convocado pelo grupo Consciência de Macau, pretendeu também criticar a existência de deputados nomeados pelo chefe do Executivo, como é o caso de Fong Chi Keong - atualmente, há sete nomeados no total de 33 deputados.

No passado dia 13, durante o debate sobre a lei contra a violência doméstica, que viria a ser aprovada na generalidade, Fong Chi Keong defendeu que "há quem goste de apanhar" e sugeriu que, em caso de conflito, a mulher deve "não refilar" para "não sofrer consequências".

A manifestação atraiu muitos jovens e simpatizantes do campo pró-democrático, mas também famílias e até idosos.

Rebecca Chen acompanhou toda a marcha empurrando o carrinho de bebé da sua filha. "Temos de lutar pela nova geração", justificou, defendendo a importância de um pedido de desculpas "a todas as pessoas de Macau".

A professora Kam Sut Leng foi mais longe: além de pedir desculpas, Fong Chi Keong deve demitir-se, disse. "Ele apelou à violência dentro da Assembleia Legislativa, é inaceitável. Deve pedir desculpa e demitir-se do cargo. Mas não o podem obrigar a sair. O problema é do sistema político, devemos acabar com os lugares nomeados para que todos os deputados sejam responsáveis perante o público", afirmou.

Kam garante que a violência doméstica é um problema significativo em Macau, tendo conhecimento de vários casos entre os seus vizinhos, amigos e familiares. Mesmo quando estas situações são reportadas, a polícia desvaloriza-as, "pensa que são coisas que as pessoas podem resolver sozinhas" e que "não são graves", relatou.

A mancha humana atingiu o ponto máximo em frente ao escritório de Fon Chi Keong, onde a organização estima terem estado cerca de 850 pessoas e a polícia aponta para 230, além de 60 agentes. Aqui a palavra de ordem era "demissão", com alguns manifestantes a envergarem lençóis com manchas de tinta vermelhas, invocando o sangue das vítimas de violência doméstica.

A marcha dirigiu-se em seguida à Associação das Mulheres, onde os manifestantes criticaram a deputada Wong Kit Cheng, vice-presidente da instituição, por não se ter oposto a Fong.

O assunto não mobilizou só mulheres. Wilson Hong, professor universitário, juntou-se à marcha por considerar que "Fong Chi Keong chocou a sociedade de Macau", numa cidade onde "a violência doméstica é um problema sério".

Já o deputado Ng Kuok Cheong aproveitou a ocasião para fazer 'mea culpa' por não ter respondido a Fong Chi Keong no hemiciclo. "Naquele dia não fiz qualquer comentário ao que disse Fong, não estive bem e devo melhorar no futuro. Temos a liberdade de falar do que quisermos na Assembleia mas também temos o fardo da influência social", comentou.

Entre a multidão, maioritariamente composta de chineses, estava também o pintor português Joaquim Franco, para quem Fong Chi Keong "devia ser posto de lado".

"Temos de proteger a integridade física dos mais fracos. Acho que aquele senhor não devia estar na assembleia. Por outro lado também acho que é necessário que haja uma votação democrática e universal para os deputados", afirmou.

A representar a comunidade portuguesa esteve também a professora universitária Isabel Morais, residente no território há mais de 20 anos, que se manifestou "solidária com todos os pontos defendidos pela manifestação".

"Não é a primeira vez que ele [Fong Chi Keong] tem intervenções deste tipo, só que desta vez foram muito excessivas e de uma certa forma considero que é um boicote a uma legislação que é tão necessária para Macau", lamentou.

ISG//GC

China – Hong Kong: LIDERES DO “OCCUPY CENTRAL” DETIDOS E LIBERTADOS HOJE




Hong Kong, China, 24 jan (Lusa) -- Os fundadores do movimento 'Occupy Central' foram detidos e libertados hoje, tendo o chefe da polícia defendido que a investigação aos protestos de Hong Kong não era "um espetáculo".

Vários líderes dos protestos têm sido detidos e libertados sem acusação, com alguns a queixarem-se da investigação.

O cofundador do 'Occupy Central" Benny Tai disse que ele e os outros dois cofundadores Chan Kin-man e Chu Yiu-ming foram formalmente detidos sob a acusação de organizarem e participarem em assembleias ilegais, mas que não foram acusados. Os três foram libertados três horas depois da detenção, escreve a agência francesa AFP.

"Mostrámos alguns vídeos e artigos... Fomos libertados incondicionalmente", disse.

Os protestos que ocuparam as ruas de Hong Kong durante mais de dois meses terminaram em dezembro mediante a ação das autoridades, tendo a polícia prometido investigar os "principais instigadores" do movimento.

O chefe de polícia de Hong Kong, Andy Tsang, defendeu hoje a investigação. "A polícia tomou as diligências (para as detenções) em privado e nunca as tornou públicas. Como é que podem dizer que (isto) é um espetáculo? Quem é que vos disse que eles iriam para a esquadra da polícia? Devemos ser claros sobre quem é que está a fazer espetáculo", disse aos jornalistas.

Andy Tsang confirmou que os líderes do 'Occupy Central' podem ser convocados novamente a apresentar-se às autoridades durante a investigação em curso.

Enquanto outros líderes dos protestos questionaram os motivos da polícia, Benny Tai disse que "confiava" no primado da lei.

"Eu continuo a acreditar que a polícia e a procuradoria... vão seguir rigorosamente as leis de Hong Kong em qualquer investigação".

Dezenas de apoiantes, incluindo deputados, concentraram-se no exterior da esquadra com faixas e guarda-chuvas amarelos, o símbolo do movimento pró-democracia em Hong Kong.

"Acredito firmemente que os residentes de Hong Kong não vão desistir", disse Benny Tai num discurso para as pessoas no local antes de entrar na esquadra.

A tensão continua na região administrativa especial de Hong Kong, depois de meses de protestos desencadeados com a decisão tomada por Pequim em agosto de aceitar o sufrágio universal para o chefe do Executivo em 2017, mas só depois de os candidatos serem pré-selecionados por um comité eleitoral.

O empresário dos media Jimmy Lai e os líderes estudantis do movimento 'Scholarism" e Federação dos Estudantes, Joshua Wong e Alex Chow, respetivamente, foram recentemente detidos e libertados no âmbito da investigação.

Ambos os líderes estudantis questionaram o processo, dizendo que a polícia os devia acusar no caso de haver provas.

Benny Tai confirmou hoje que vai participar numa manifestação pró-democracia agendada para dia 01 de fevereiro -- a primeira após o fim da ocupação das ruas -- com uma adesão estimada pela organização em cerca de 50.000 pessoas.

FV //GC

Mais de 400 crianças soldado libertadas pelo exército de Myanmar em 2014




Banguecoque, 24 jan (Lusa) - Mais de 400 crianças soldado foram libertadas no ano passado pelos militares de Myanmar, confirmaram hoje as Nações Unidas, um número recorde desde que o exército "Tatmadaw" assinou um pacto com a ONU sobre este tema em 2012.

Não existem dados que possam ser verificados sobre quantas crianças estão atualmente ao serviço dos militares de Myanmar, que têm sido acusados de abuso de direito, incluindo o recrutamento forçado de menores para detetar minas humanas.

Desde que o pacto foi assinado, um total de 595 crianças foram libertadas, com 70% das libertações - 418 - a terem lugar nos últimos 12 meses, incluindo 42 na sexta-feira, adianta as Nações Unidas.

"No período de um ano, este é um número recorde de crianças que saíram das Forças Armadas, refletindo os esforços acelerados do governo de Myanmar e do Tadmadaw para acabar com a prática de recrutamento e uso de crianças", disse a coordenadora das Nações Unidas em Myanmar, Renata Lok-Dessallien.

Todos os que foram libertados pelos militares tinham menos de 18 anos.

Em outubro, o Presidente norte-americano, Barack Obamaa, decidiu manter Myanmar na lista dos países sujeitos a sanções das Nações unidas pelo seu uso de crianças soldado.

ALU//GC

Moçambique: Nyusi deve assumir liderança da FRELIMO, diz veterano Sérgio Vieira




O veterano e membro da FRELIMO Sérgio Vieira diz não entender por que motivo o Presidente Filipe Nyusi não é também o líder do partido no poder em Moçambique. Critica também o Governo de gestão proposto pela RENAMO.

O presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) é Armando Guebuza e tem poderes supremos em relação ao atual Presidente da República, Filipe Nyusi. Os estatutos da FRELIMO mostram que o poder está no partido e não no Governo. Exemplo disso é que cabe ao presidente do partido apreciar os relatórios sobre a ação do Governo.

Daí que Sérgio Vieira não perceba por que razão Filipe Nyusi não é o presidente do partido no poder. O membro sénior da FRELIMO lembra que em Moçambique normalmente é o líder do partido que chefia o Governo.

“Temos um chefe de Estado que é em simultâneo chefe do Governo. Podemos reflectir sobre se devemos manter este figurino ou avançar com um figurino no modelo francês, por exemplo, que é um semi-presidencialismo, sem fazer do chefe de Estado um corta fitas”, propôs em entrevista ao canal de televisão STV.

Guebuza deve deixar o cargo

Ainda segundo os estatutos da FRELIMO, cabe ao presidente do partido convocar e orientar reuniões ordinárias e extraordinárias da comissão política e tomar decisões.

Por isso, Sérgio Vieira espera que um dia o antigo chefe de Estado Armando Guebuza compreenda este cenário e deixe o cargo. Até porque “sendo o chefe do Governo, neste caso, um não dirigente do partido, pode surgir algum problema”, sublinha.

O veterano da FRELIMO lembra que “o Presidente Joaquim Chissano soube compreender isso e com muita elegância retirou-se e tornou-se maior.”

Sérgio Vieira acredita “que o Presidente Guebuza também terá essa sensibilidade.”

Discurso da RENAMO não é novo

Segundo Sérgio Vieira, os atuais discursos de fraude do líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, não são novidade e justificam apenas a derrota do partido nas eleições.

“Em 1994 havia aqui um tribunal internacional que não respondia perante o Governo da FRELIMO, que não respondia perante o Governo moçambicano, que foi designado pelas Nações Unidas, com juízes profissionais do Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia, e não apresentou nada”, recorda. “Constantemente o discurso de justificação das derrotas da RENAMO é fraude”.

Em Moçambique tem-se assistido no seio dos partidos da oposição a divisões e falta de organização. Por isso, o veterano Sérgio Vieira não tem dúvidas sobre o que é a RENAMO: “Não é realmente um partido, é uma organização à volta de uma pessoa.”

Dhlakama insiste em Governo de gestão

Nas últimas semanas, o líder da RENAMO tem-se desdobrado em esforços para explicar à população as razões por que não aceita os resultados das eleições gerais de 15 de outubro de 2014.

Afonso Dhlakama ameaçou recentemente criar uma república autónoma no centro e norte de Moçambique, presidida por ele próprio, caso a FRELIMO persista em não acatar a sua exigência de um Governo de gestão, envolvendo figuras da oposição, como forma de ultrapassar o que alega ter sido uma fraude eleitoral.

O líder da RENAMO admitiu a possibilidade de o Presidente da República vir a demitir alguns quadros do novo Governo para incorporar membros da oposição, com vista a uma alegada inclusão governativa. A FRELIMO persiste na recusa desta reivindicação.

Romeu da Silva (Maputo) – Deutsche Welle

GOVERNO MOÇAMBICANO NÃO QUER DIALOGAR SOBRE GOVERNO DE GESTÃO




Para a FRELIMO dialogar sobre Governo de gestão está fora de questão. Depois de ter anunciado essa vontade há algum tempo, a RENAMO insiste agora que pretende um frente-a-frente com o novo executivo moçambicano.

O maior partido da oposição, a RENAMO, pretende ainda envolver diplomatas no caso, mas o Governo minimiza a pressão. A decisão de uma conversação com o Governo surgiu depois de um encontro de alto nível da RENAMO, em Caia, província central de Sofala na última terça-feira (20.01).

A reunião, que juntou também os 89 deputados que boicotaram a investidura do novo Parlamento, visava discutir a estratégia futura do maior partido da oposição em Moçambique, que continua a exigir a formação de um Governo de gestão, sob ameaça de criar uma república autónoma no centro e norte do país.

Sobre o finca-pé relativo ao Governo de gestão, a DW África entrevistou o porta-voz da FRELIMO, Damião José, que começou por definir os limites de abertura do diálogo.

DW África: O Governo da FRELIMO está aberto a iniciar esse diálogo?

Damião José (DJ): O Governo de Moçambique e a FRELIMO sempre estiveram abertos ao diálogo, não só com a RENAMO, mas também com todas as forças vivas da sociedade, porque para a FRELIMO o diálogo é o caminho ideal para a inclusão dos moçambicanos no projeto de desenvolvimento do nosso país. Agora, em relação ao dito Governo de gestão, o nosso Governo e a FRELIMO não encorajam que se promovam encontros para discutir questões que ponham em causa a Constituição da República e as demais leis. Portanto, a FRELIMO e o Governo de Moçambique defendem e estão abertos ao diálogo, mas um diálogo para tratar de assuntos que tem a ver com o bem estar do povo moçambicano e não para falar de assuntos que possam pôr em causa o cumprimento e o respeito da Constituição da República e não obedecer as leis que nós mesmo aprovámos. Só para dizer que para a FRELIMO o Governo de gestão está fora de hipótese.

DW África: Então quer dizer que o Governo da FRELIMO não vai aceitar um diálogo com a RENAMO se o tema for Governo de gestão?

DJ: Exatamente isso. E as razões, como dizia anteriormente, são muito claras. Falar de Governo de gestão é falar de anarquia do Estado.

DW África: A oposição queixa-se da falta de inclusão neste Governo, algo que o Presiente Filipe Nyusi tinha prometido na sua tomada de posse. Como o Governo pensa fazer essa inclusão de forma a satisfazer os anseios da oposição?

DJ: Quando a oposição se queixa da inclusão no novo Governo, se calhar percebe o sentido de inclusão numa visão muito pequena, que seria, por exemplo, convidar membros da oposição a fazerem parte do Governo. Mas a visão da FRELIMO e do Governo de Moçambique sobre a questão da inclusão não é nesse sentido. Nós como moçambicanos, partido FRELIMO e Governo de Moçambique, precisamos de ouvir e, nalguns momentos, acolher as ideias construtivas de todos os moçambicanos. Não corresponde a verdade quando se diz que não está a ser posta em prática a ideia da inclusão defendida pelo camarada Presidente Filipe Nyusi. Ela está a ser posta em prática, só que para nós não teria nenhum sentido que um membro da oposição, que tem um programa e filosofia de trabalho diferente da FRELIMO, viesse a aceitar todas orientações e decisões da direção máxima da FRELIMO. Não sabemos se isso seria possível.

DW África: Voltando à questão do Governo de gestão. A RENAMO pretende envolver diplomatas neste assunto. O Governo da FRELIMO resisitiria a essa pressão?

DJ: Aqui não se trata de resistir ou não às pressões. O que existe é o comprometimento e a responsabilidade que a FRELIMO tem em cumprir com as leis existentes no nosso país. Se tudo estiver em consonância com as leis, a FRELIMO está sempre aberta ao diálogo. Agora, aquilo que vier a contradizer a Constituição da República, naturalmente isso não é acolhido. A FRELIMO não encoraja e naturalmente o Governo de Moçambique também não acolherá qualquer ideia do género.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

Angola: ALERTA DO REGIME CONTRA A INSATISFAÇÃO FACE À EXPLORAÇÃO E ASSASSINATOS



MILITARES EM PRONTIDÃO

Folha 8 Digital (ao), 24 janeiro 2015

O longevo Comandan­te em Chefe das Forças Armadas Angolanas, mesmo sem nunca ter dirigido, uma companhia de 10 milita­res, mas, talvez por isso mesmo, também, general de Exército, José Eduar­do dos Santos, temeroso face a uma provável, nova guerra, ordenou e o co­mandante da Força Aérea Nacional (FAN), gene­ral Francisco Gonçalves Afonso, veio a terreiro ga­rantir aos seus pupilos, e não só, que o ramo vai ser equipado nos próximos meses com novos radares, material de defesa antiaé­rea e aeronaves, apesar da crise económica e finan­ceira derivada da má ges­tão do erário público.

O perigo espreita e é pre­ciso estar atento. Eduardo dos Santos sabe que para negociar a paz, seja interna ou externamente, é preci­so estar preparado para a guerra. Jonas Savimbi já não é o bode expiató­rio ideal, mas há outros. Se não há… inventam-se. Além disso, o Presidente do MPLA, da República e Chefe do Governo sabe que com os militares não se brinca.

E tanto assim é que não foi inocente, a realização do 39.º aniversário da Força Aérea, assinalado no dia 21 de Janeiro de 2015, na Base Aérea de Saurimo, na pro­víncia da Lunda Sul.

Primeiro para uma clara demonstração de força, junto daqueles que mais reclamam, a miséria que grassa numa das regiões mais ricas diamantifera­mente, como os intelec­tuais, as forças da oposição e o Movimento do Protec­torado Lunda-Tchokwe.

A exploração das minas de diamantes nas Lundas, por parte de um grupo restrito e identificado de generais, de dirigentes do MPLA, de filhos (Isabel tem a mina com o maior e melhor filão) e familiares do Comandante em Che­fe das Forças Armadas, ao invés de constituir uma mola de desenvolvimento económico e social, vem significando má utilização dos solos, forte agressão ao ambiente, aliada a uma nova forma de opressão político-colonial, por parte do regime, onde no afã de espoliar as populações das suas terras, não se coíbe de prender, deslocar e as­sassinar populares.

O projecto Catoca, dirigi­do por Ganga Júnior, na fronteira entre a Lunda Norte e Lunda Sul, é disso um exemplo, com despe­dimentos sem justa causa e até mesmo carcere pri­vado a trabalhadores que queiram recorrer, com justa causa, aos artigos 50.º (Liberdade Sindical) ou ainda o 51.º (Direito à greve e proibição do lock out) da Constituição. Re­centemente, quando um grupo de trabalhadores, pretendeu filiar-se num novo sindicato, Ganga Jú­nior chamou a Polícia do MPLA, que deveria ser Nacional, para impedir o direito à greve, proceden­do ao cárcere privado e aos despedimentos sem justa causa.

Como se vê, diante deste clima a demonstração da força é, para o regime, uma das suas armas de eleição. Daí movimentar a máqui­na bélica e repressiva, para o teatro das Lundas, onde cresce o clima de opressão às suas populações.

E num voo rasante, o ge­neral Francisco Gonçal­ves Afonso no seu Mig 27 garantiu a arquitectura da força: “está desenhada, neste ano e no próximo, a aquisição de equipamen­tos para nos irmos adap­tando ao novo cenário. Com novos radares, equi­pamento de defesa antiaé­rea e aeronaves”.

Embora sem adiantar o montante deste investi­mento, disse tratar-se de um plano de moderniza­ção que começou a ser es­tudado há vários meses. E, neste caso, o Orçamento Geral do Estado tem di­nheiro. Pode não ter para matar a fome a quem tem fome, e são milhões, mas com os militares a coisa pia mais fino. Pia mesmo...

Angola: A INCÓGNITA SOBRE A CORRIDA ARMAMENTISTA DO REGIME DE DOS SANTOS




GENERAL NUNDA CONFIRMA

Folha 8 Digital (ao), 24 janeiro 2015

O chefe do Es­tado Maior General das FAA, General de Exército Geraldo Sa­chipengo Nunda, garantia, no dia 09 de Outubro de 2014, recordemo-nos, para que não digamos, amanhã, não termos sido avisados, que os três ramos das For­ças Armadas Angolanas (Exército, Força Aérea e Marinha de Guerra) iriam beneficiar, a partir de 2015, de equipamentos mais modernos e concordantes com os actuais desafios (textos nas páginas 03 e 04, confirmam).

O general deu a conhecer o plano por ocasião do 23º aniversário da constitui­ção das Forças Armadas Angolanas em Exército Nacional Único que se comemorou no dia 09 de Outubro de 2014.

De acordo com o general Nunda, os novos meios militares serão manusea­dos por efectivos capacita­dos. Neste quadro afirmou que a Força Aérea vai re­ceber novos helicópteros que serão utilizados por pilotos formados duran­te seis anos na Federação Russa.

Deu a conhecer igualmen­te que a Marinha de Guer­ra Angolana beneficiará de novos navios, os quais serão também dirigidos por pessoal navegante for­mado na Rússia, Brasil e Portugal.

O Exército que vai benefi­ciar de novo equipamento contará também com mili­tares formados na Rússia e em Cuba.

“A formação dos efecti­vos das Forças Armadas Angolanas tem de ser um processo bem harmoni­zado para que a mesma e o equipamento se conju­guem”, salientou o gene­ral Nunda, acrescentando que estes procedimentos são abrangentes no âmbi­to da operacionalidade e da manutenção dos equi­pamentos que constitui um “grande desafio”.

Segundo o oficial gene­ral, este processo vai fa­zer com que as FAA nos próximos anos se tornem mais modernizadas e bem equipadas, capazes de cumprir as missões que a direcção do Estado definir tendo como prioridade a defesa da independência, soberania nacional e das instituições do País.

O chefe do EMG das FAA destacou que existe uma orientação principal no que se refere à realização do reequipamento das FAA e uma restruturação que esteja adequada aos desafios do momento e do futuro, uma directiva do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas An­golanas, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Ainda no quadro da imple­mentação do processo de reestruturação das FAA, sublinhou os avanços já dados nas unidades e sub­-unidades do Exército Nacional no que concer­ne às condições de aco­modamento da tropa, sua alimentação e assistência médico-medicamentosa, factores que vêm contri­buindo para a prontidão no cumprimento de mis­sões, no quadro dos prin­cípios da Defesa Nacional.

Destacou de igual modo a criação de instituições de formação superior militar, como o Instituto Superior Técnico Militar, construí­do em 2008, onde foram formados já os primeiros 120 engenheiros nas espe­cialidades de informática, construção e fortificações, engenharia mecânica e electrotecnia.

Na entrevista, o Chefe de Estado Maior General das FAA considerou a si­tuação no País, do ponto de vista militar, “estável”, facto que não implica que as Forças Armadas Ango­lanas não estejam prepa­radas, “porque os desafios da segurança nacional são externos e internos”.

“A Constituição da Re­pública de Angola esta­belece que no quadro do sistema de segurança na­cional, as Forças Armadas Angolanas devem ter a capacidade de responder os desafios internos e ex­ternos”, salientou.

No concernente às de­mais missões das FAA, o General Nunda frisou que existe um total empe­nho por parte das Forças Armadas Angolanas no processo de desminagem, factor importante para o programa de reconstru­ção nacional do Executi­vo, assim como no apoio as questões de calamida­des naturais (enxurradas ou cheias) e casos de epi­demias.

No quadro das missões de apoio à paz e estabilidade em alguns países afri­canos, o general Nunda esclareceu que as Forças Armadas continuam pre­paradas para o efeito.

A título de exemplo refe­riu a solicitação por parte das Nações Unidas para que Angola possa integrar um contingente de tropas na República Centro Afri­cana na missão da ONU.

“Estamos a criar as con­dições para integração do efectivo na missão em tempo que for definido pelas Nações Unidas“, precisou, na ocasião, re­cordando a participação de forças angolanas em operações de paz que ocorreram na República Democrática do Congo, República do Congo em 1997/1998 e na Guiné-Bis­sau (2010).


PENA DE MORTE NA INDONÉSIA. NATURALIDADE DE UM REGIME PSICOPATA E CRIMINOSO


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Sabemos que para certos regimes a vida dos cidadãos naturais ou estrangeiros quase nada vale. Tal qual os psicopatas que assassinam friamente suas vítimas também existem regimes com tendências similares que reivindicam por diferença a “legalidade”. Pergunte-se-lhes desde quando a legalidade se coaduna com o assassinato de alguém que não está pondo a nossa vida em risco. Só em legitima defesa de nossa vida a legalidade deve reconhecer o direito de aniquilar alguém, mesmo assim procurando evitar tirar a vida mas simplesmente imobilizar o agressor.

Aquele tipo de “legalidade” que os países que incluem pena de morte nas suas leis reivindicam é um verdadeiro ato de assassínio, condenado pelos Direitos Humanos na Carta das Nações Unidas, e fruto de regimes psicopatas gravemente doentes e de valores deformados sobre o que julgam ser o seu direito a decretar a morte de alguém.

A nação que dizem ser referência global da democracia (pura ilusão e publicidade enganosa), os EUA, têm por “legalidade” em muitos dos Estados que a constituem o reconhecimento da pena de morte. Por notícias quase quotidianas sabemos que não faltam nos EUA doentes de psicopatia que assassinam de modo retumbante jovens em escolas ou outros quaisquer que na sua doença psíquica vejam como adversários ou por que “vozes do além” lhes ordenam os assassinatos. Mas não são só esses os criminosos à solta nos EUA, também governadores, senadores, congressistas e até presidentes da República estadunidense são enfermos de psicopatia. A história assim o confirma, a atualidade também.

O mau exemplo daquele “grande irmão” da falsa democracia, da liberdade e da justiça, os EUA, impele a que regimes o secundem e encontrem na “legalidade” estadunidense a ordem para matar nos países em que desempenham cargos de poder. A Indonésia é um desses maus exemplos. O ocidente sabe agora com maior pendor que assim acontece. E não pretendam ilibar os EUA e outros países de (falsa) referência civilizacional das tendências psicopatas sobre a “legalidade” da pena de morte.

A semana passada Marco Archer, um cidadão brasileiro, foi assassinado por fuzilamento por ter cometido o crime de narcotraficante. Quase generalizadamente é essa a punição para tal crime nos países asiáticos. Um outro brasileiro, Rodrigo Gularte, está em vias de ser assassinado pelo mesmo método criminoso. Outros dois cidadãos australianos, Myuran Sukumaran e Andrew Naan, também estão em vias de ser assassinados pelo regime indonésio, enfermo de psicopatia em alta escala. A vida dos cidadãos  indonésios pouco ou nada vale para os detentores dos poderes. A dos cidadãos estrangeiros ainda menos vale. O ocidente já devia ter aprendido isso. Na Indonésia a democracia é ainda mais palavra vã que nos países do ocidente. Temos por exemplo os crimes praticados no regime de Sukarno, depois no regime de Suharto, na própria Indonésia. Mais flagrante ainda foi a intolerável psicopatia generalizada do regime Suharto no genocídio timorense, com a cumplicidade dos EUA – representados pelo presidente Ford e o secretário de estado Henry Kissinger, autênticos criminosos de guerra que nos mostra a história. Os EUA, a Austrália e outros países europeus, assistiram ao genocídio psicopata do regime indonésio em Timor-Leste fornecendo-lhes armamento e apoio militar. Países europeus, incluindo a Inglaterra, não estão igualmente impunes de seu conluio naquela matança. O resultado da impunidade daquele genocídio está à vista. Nem a ONU mexeu uma efetiva palhinha de responsabilização e condenação-castigo daquele crime. Quase 300 mil timorenses foram assassinados pelo regime psicopata indonésio. Crime impune que até nos dirigentes timorenses encontrou aliados – saliente-se Xanana Gusmão - que se estiveram borrifando para que o mundo fizesse justiça e punisse adequadamente os criminosos.

Não é de admirar na atualidade que a Indonésia continue a manifestar as suas tendências de regime psicopata. Ainda mais, agora, com um novo presidente. Joko Widodo, um militar radical suhartista, anteriormente presidente da região de Surakarta e governador de Jakarta, para quem a democracia é uma palavra cujo significado só consta em dicionário próprio adulterado. O direito à vida e à morte é ele que o decide. Como chefe de um regime psicopata a condenação à morte de outros é uma purificação e por isso é-lhe indiferente que quem comete uma falta mereça outra punição que não seja a morte por fuzilamento. Balas santas de um fanático que pode enganar alguns mas não engana todos quando surge como o dito presidente de uma nação democrática. Nada mais falso. O mundo volta a saber que na Indonésia prevalece um regime psicopata chefiado por um psicopata.

Por isso não esperem perdão algum que venha a preservar a vida de condenados, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Nos manuais de psicologia, sobre os psicopatas, o sentido da palavra perdão não existe.

Ficamos todos a a saber o que está reservado aos condenados à pena de morte na Indonésia: o fuzilamento. E assim continuará a ser enquanto estados minimamente decentes mão pugnarem na ONU pelo respeito devido à vida e aos Direitos Humanos que ratificaram mas não cumprem com rigor. A solução seria isolar esses países, esses regimes. Infelizmente os cifrões falam mais alto. Que se lixem os Direitos Humanos. Isso mesmo foi o que aconteceu no genocídio em Timor-Leste. Isso mesmo é o que ainda na atualidade acontece. Os regimes psicopatas prevalecem. A Indonésia é disso exemplo. Logo ao lado, numa pequena ilha, Timor-Leste, algo se desenha semelhante e campeia a impunidade de um regime corrupto que guarda no seu cardápio assassinatos a gozar de impunidade. Curiosamente, em tempos anteriores, até com a cumplicidade de representantes da ONU - caso de Alfredo Reinado, de seu homem de confiança e guarda-costas e a tentativa de assassinato de José Ramos Horta.

Na imagem: Joko Widodo, atual presidente da Indonésia

AO PEDIR PENA DE MORTE POR TRÁFICO DE DROGAS, MATAMOS JUNTO A CIVILIZAÇÃO



Leonardo Sakamoto

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira foi fuzilado, na manhã de domingo, na Indonésia, 15h30 deste sábado (17), no Brasil, por ter sido condenado por tráfico de drogas. Ele tentou entrar no país, em 2003, com 13,4 kg de cocaína em tubos de uma asa-delta.

Muita gente nas redes sociais está louvando a atitude do governo indonésio, tuitando e postando que o traficante brasileiro teve o que mereceu e pedindo para que a lei mude no Brasil a fim de que a pena de morte passe a valer para casos penais comuns (ela persiste apenas em tempos de guerra) e salvar as “pessoas de bem'' do caos.

Há ainda os que exigem que a polícia daqui faça o mesmo: chega de julgamentos longos e com chances dos canalhas se safarem ou de “alimentar bandido'' em casas de detenção. Execute-os com um tiro, de preferência na nuca para não gastar muita bala, e resolve-se tudo por ali mesmo. Limpem a urbe.

E vamos indo da barbárie para a decadência sem passar pela civilização.

“Ah, lá vem o japa idiota defender bandido''. Não, não estou. Mas, para muita gente, isso não importa. Já formaram um conceito em sua cabeça e, a partir daqui, tudo o que eu escreva para fomentar um debate será desconsiderado em nome da saída mais fácil.

Primeiro, mais cedo ou mais tarde, e gostem vocês ou não, haverá uma paulatina descriminalização e regulamentação do comércio e do uso de psicoativos, com, é claro, a necessária e prévia introdução de um sistema de informação e conscientização sobre o seu uso. Por uma razão simples: o negócio formal também dá dinheiro. E muito. Nos Estados do Colorado e na capital Washington DC, por exemplo, os Estados Unidos já regularizaram a maconha – tal como nosso vizinho Uruguai. Outros países discutem o mesmo, incluindo substâncias mais fortes, em uma discussão de longo prazo. Sabem que a Guerra às Drogas falhou, servindo apenas para controle geopolítico e para fortalecer grupos de poder locais e o tráfico de armas. E, a propósito, se vocês soubessem como historicamente foi definido o que é droga e o que não é, não levariam isso muito a sério.

Mas este não é o tema. Marco desrespeitou a legislação de outro país e, por conta disso, é natural que fosse punido. Mas pagar com a própria vida foi um custo demasiadamente alto.

“Ah, japonês, mas e as vidas que ele tirar com essas drogas?'' Nesse sentido, acidentes com automóvel mataram mais que as drogas no último século. Que tal punir as montadoras? “Ah, mas aí depende do uso que se faz automóvel e de como aprendemos a usa-lo''. Essa relação exagerada que fiz serve para mostrar que o debate não é tão simples como te vendem na TV.

Para muita gente aqui, execuções sumárias são lindas, sejam as feitas legalmente e “informalmente'' pela mão do próprio do próprio Estado (ao caçar traficantes em morros cariocas ou na periferia da capital paulista), sejam as feitas pelas mãos da população (ao linchar suspeitos de crimes por turbas enfurecidas e idiotizadas).

Se com o devido processo legal, inocentes amargam anos de cadeia devido a erros, imagine sem ele? Já trouxe aqui uma miríade de casos de pessoas que foram espancadas pela irracionalidade coletiva, acusadas de serem responsáveis por crimes que, posteriormente, provaram-se não terem relação. Não tiveram direito à defesa ou à recurso, que são fundamentais, uma vez que a decisão tomada através do processo legal – por mais que seja falha – ainda é o melhor que temos.

Ao mesmo tempo que pessoas nas redes sociais estão tendo orgasmos múltiplos com a execução pública do brasileiro na Indonésia, alguns comentaristas na imprensa (e não estou falando dos programas sensacionalistas espreme-que-sai-sangue) parecem vibrar a cada pessoa abatida na periferia, independentemente quem quer que seja.

Jornalistas, cuja opinião respeito, optaram pela saída fácil do “isso é guerra contra as drogas e, na guerra, abre-se exceções aos direitos humanos”, tudo em defesa de uma breve e discutível sensação de segurança.

Vale lembrar que as verdadeiras batalhas do tráfico sempre aconteceram longe dos olhos da mídia, uma vez que a imensa maioria dos corpos contabilizados sempre é de jovens, pardos, negros, pobres, que se matam na conquista de territórios para venda de drogas ou pelas leis do tráfico. No Brasil e fora dele.

Os mais ricos sentem a violência, mas o que chega neles não é nem de perto o que os mais pobres são obrigados a viver no dia a dia. Mesmo no pau que está comendo, sabemos que a maioria dos mortos não é de rico da Lagoa, da Barra ou do Cosme Velho. Ou do Morumbi, do Jardim Europa e de Perdizes.

Considerando que muitos policiais, comunidades e traficantes são de uma mesma origem social, é uma batalha interna. Então, que morram, como disseram alguns leitores esquisitos que, de vez em quando, surgem neste blog feito encosto.

Como já disse aqui várias vezes, de tempos em tempos, a violência causada pelo crime organizado retorna com força ao noticiário, normalmente no momento em que ela desce o morro ou foge da periferia e no, decorrente, contra-ataque. Neste momento, alguns aproveitam a deixa para pedir a implantação de processos de “limpeza social” e de execuções de bandido.

Muitas das postagens que estão correndo nas redes sociais sobre a pena de morte para o brasileiro na Indonésia não estão refletindo sobre a gravidade de seu delito (ele não atentou contra a vida de ninguém) para concordar com as leis indonésias, mas projetando o seu sentimento pessoal sobre o tráfico de drogas no Brasil e o seu desejo de vingança contra aquilo que, diariamente, parte da mídia escolhe mostrar.

Desejo tardio. Porque, como todos nós sabemos, a pena de morte já existe em São Paulo, no Rio de Janeiro e em tantas outras grandes cidades, apesar de não institucionalizada, como instrumento policial. Há também milícias que se especializaram nisso, inclusive, ao avocar para si o monopólio da violência que, por regra, deveria ser do Estado.

Gostaria que fossem tornados públicos os exames dos legistas. Afinal de contas, acertar um tiro na nuca de um suspeito no meio de um confronto armado demanda muita precisão do policial – e depois registrar o ocorrido como auto de resistência demanda criatividade.

Para contrapor os bandidos estamos optando pelo terrorismo de Estado ao invés de buscar mudanças estruturais (como garantir real qualidade de vida à população para além de força policial dia e noite) e punir de forma exemplar crimes, como prevê a lei, contra a vida.

Ninguém está defendendo o crime, muito menos bandidos e traficantes – defendo a descriminalização das drogas como parte do processo de enfraquecimento dos traficantes e pelas liberdades individuais, mas isso é outra história.

O que está em jogo aqui é que tipo de Estado e de sociedade que estamos nos tornando ao defendermos pena de morte ou Justiça com as próprias mãos. Do que estamos abrindo mão com isso?

Enfim, como já leram várias vezes por aqui, de vez em quando não sei de quem tenho mais medo: dos bandidos, dos “mocinhos'' ou de nós mesmos.

Atualizado às 17h do dia 17/01/2015 para incluir a informação sobre a morte do brasileiro.

* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.


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