Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
No
dia seguinte a Maria de Belém elogiar Almeida Santos como "o maior de
todos os socialistas vivos" (obviamente, pela candidata não aceitar o
apoio de Mário Soares a Sampaio da Nóvoa, desprezando o papel do ex-presidente
na história fundadora do PS), malogradamente, Almeida Santos deixa-nos aos 89
anos. Ontem, quando lhe é assinalada falta de comparência por luto no debate
televisivo, Maria de Belém é descoberta na lista de deputados
"anónimos" que pediram ao Tribunal Constitucional (TC) a devolução
das subvenções vitalícias dos políticos. E assim estamos, na morte sentida e na
figurada: a campanha de Maria de Belém morreu.
Acresce
que Maria de Belém não esteve numa outra lista. Em 2012, entre os deputados de
Esquerda que pediram o chumbo do Orçamento do Estado que tanto agravou os
impostos, o seu nome era eclipse. Expedita para solicitar a
inconstitucionalidade da retirada de privilégios a políticos, dorme para o seu
melhor lado perante as medidas que agravaram o empobrecimento de milhões de
portugueses às mãos de Vítor Gaspar e da troika. Dos 30 deputados que quiseram
alterar o que o Parlamento havia já decidido, sob a capa da cobardia e da
absoluta consciência da imoralidade, constam nove deputados do PSD e 21 do PS,
o "bloqueio central" no seu pior. Esse "centrão" que se
divide no apoio entre Marcelo, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa.
Desengane-se
quem pensa que Marcelo acredita naquilo que Marcelo diz. E que no seu vazio não
há uma agenda política há anos marcada pela mediatização do tacticismo-cascavel.
Desenganem-se aqueles que pensam que Sampaio da Nóvoa não tem como apoiantes
muitos dos deputados que impuseram o julgamento desta imoralidade ao TC.
Desenganem-se aqueles que se enganaram sobre Maria de Belém, para não se
enganarem mais. O trajecto curvilíneo para Belém destes candidatos
presidenciais é acompanhado de perto por muitos daqueles que fizeram, nos
últimos anos, uma guerra civil sem armas no nosso país sob a sombra da meia-legalidade
e da impunidade.
Alguma
coisa mais haverá a fazer se quisermos evitar que se instale na presidência um
mero clone com "upgrade" de mister simpatia. O país nas nossas mãos.
Três boas notícias na substituição do chip do autómato. A primeira, diz-nos que
o tempo político de Cavaco Silva morreu e que com ele terá que morrer a
política poluída de que é ícone, aquela que ajudou a erguer e que sempre
premiou. A segunda, diz-nos que Cavaco - mesmo que queira - já não pode ser
parte activa no seu grupo ideológico de "extremistas" da finança. A
terceira boa notícia diz-nos que são os "radicais" que Cavaco não
suporta nem quer ver à frente, aqueles que o apavoram, são esses radicais que
hoje falam de equilíbrio e de liberdade.
O
autor escreve segundo a antiga ortografia
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