Manlio
Dinucci*
Em face
dos desafios sem precedentes provenientes do Leste e do Sul, chegou a hora de
dar um novo alento e uma nova substância à parceria estratégica Otan-UE”:
começa assim a Declaração conjunta assinada na última sexta-feira (8) na Cúpula
da Otan de Varsóvia, pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente da Comissão
Europeia, Jean-Claude Junker [1].
Um
cheque em branco para a guerra, que os representantes da União Europeia deram
aos Estados Unidos. Efetivamente, são os Estados Unidos que detêm o comando da
Otan – da qual fazem parte 22 dos 28 países da União Europeia (21 entre 27
quando o Reino Unido sair da UE) – e imprimem sua estratégia. Enunciado
plenamente no comunicado aprovado em 9 de julho pela Cúpula : um documento de
139 pontos – elaborado por Washington quase exclusivamente com Berlim, Paris e
Londres – que os demais chefes de Estado e de governo, inclusive o
primeiro-ministro italiano Renzi, subscreveram de olhos fechados [2].
Após
estender-se agressivamente para o Leste no interior da ex-URSS e ter organizado
o golpe neonazista da Praça Maïdan para reabrir a frente oriental contra a
Rússia, a Otan acusa a Rússia de “ações agressivas, desestabilização da
Ucrânia, violação dos direitos humanos na Crimeia, atividades militares
provocadoras nas fronteiras da Otan no Báltico e no Mar Negro e no Mediterrâneo
oriental em apoio ao regime sírio, vontade demonstrada de obter objetivos políticos
pela ameaça e pela utilização da força, e uma retórica nuclear agressiva”.
Em
face de tudo isso, a Otan “responde” reforçando a “dissuasão” (ou seja, suas
forças nucleares na Europa) e sua “presença avançada na parte oriental da
Aliança” (ou seja, o deslocamento militar para a fronteira com a Rússia).
Trata-se de uma verdadeira declaração de guerra (mesmo se a Otan assegura que
“não busca a confrontação com a Rússia”), o que pode fazer saltar pelos ares de
um momento a outro não importa que acordo econômico dos países europeus com a
Rússia.
Na
frente meridional, depois de ter demolido a Líbia por uma ação combinada do
interior e do exterior e de ter testado a mesma operação na Síria, (fracassada
graças à intervenção russa); após ter armado e treinado grupos terroristas e
ter favorecido a formação do chamado Estado Islâmico e sua ofensiva na Síria e
Iraque, empurrando ondas de refugiados para a Europa, a Otan se declara
“preocupada” pela crise que ameaça a estabilidade regional e a segurança de suas
fronteiras meridionais, pela tragédia humanitária dos refugiados; ela “condena”
as violências do chamado Estado Islâmico contra os civis e, em termos mais
fortes, “o regime sírio e seus apoiadores pela violação do cessar-fogo”. Para
“responder a essas ameaças, inclusive as que vêm do sul”, a Otan potencializa
suas forças com alta capacidade e poder de deslocamento. Isto requer
“investimentos apropriados”, ou seja, uma despesa militar adaptada que os
aliados se comprometeram a aumentar.
Dados
oficiais publicados pela Otan durante a Cúpula mostram que a despesa militar da
Itália em 2015 foi de 17 bilhões e 642 milhões de euros e que a de 2016 está
estimada em 19 bilhões e 980 milhões de euros, ou seja, um aumento de 2,3
bilhões de euros. Se temos em conta as despesas militares fora do orçamento da
Defesa (missões internacionais, navios de guerra e outros), a despesa é na
realidade muito mais elevada. Se nos atemos apenas aos dados da Otan, a Itália
em 2016 dispendeu para o setor militar em média 55 milhões de euros por dia.
Enquanto
o primeiro-ministro italiano Renzi se pavoneava entre os “grandes” na Cúpula de
Varsóvia, e o parlamento (inclusive a oposição) se volta para o outro lado, a
Otan e a UE decidem nosso caminho.
*Manlio Dinucci:
Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ;Geocommunity Ed.
Zanichelli 2013 ; Escalation.
Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.
Voltaire.net
- Fonte Il
Manifesto (Itália) - Tradução José Reinaldo
Carvalho. Editor do site Resistência
Notas
[1]
« Déclaration
commune OTAN-UE », par Donald Tusk, Jean-Claude Juncker, Jens
Stoltenberg, Réseau Voltaire, 8 juillet 2016.
[2]
« Communiqué du
Sommet de l’Otan à Varsovie », Réseau Voltaire, 9 juillet 2016.
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