O
Folha 8, assumindo – como sempre – de corpo e alma a sua função histórica
(desde 1995 damos voz a quem a não tem – os Angolanos) e génese de jornal
independente e livre, escolheu as duas figuras que, em Angola, se destacaram em
2016 pela positiva e pela negativa. Marcolino Moco é a figura do ano pela
positiva e José Eduardo dos Santos pela negativa.
Neste
balanço, ao contrário de outros que nunca erram, o Folha 8 sabe que ainda não
conseguiu levar a Carta a Garcia. Mas, na certeza de que não há comparação
entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, continuará
a tentar. Custe o que custar, cá estamos na frente de combate.
Esta
tese não se aplica, reconhecemos, ao regime de sua majestade o rei José Eduardo
dos Santos que, como se sabe, não comete erros e não ajuda a cometer erros. Daí
a justa designação de ele ser o “escolhido de Deus”.
Como
nós somos apenas simples mortais, resta-nos a missão de lutar para que Angola
seja um dias destes (quem sabe se não será já em 2017) uma democracia e um
Estado de Direito. Não será fácil, mas é possível.
Até
lá, porque a luta continua, não daremos tréguas aos que não conseguem esquecer
o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas
vezes os impede de caminhar para a frente, de forma erecta. Os angolanos (os
únicos a quem devemos explicações) merecem o nosso esforço e dedicação. São um
nobre Povo que, apesar de 20 milhões sobreviverem na miséria, continua erecto e
disposto ir de derrota em derrota até à vitória final.
Para
2017, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor
possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão
satisfeitos, por uma ou por outra razão. Ou seja, porque a razão da força do
regime impede o triunfo da força da razão do Povo.
Um
desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de
Angola, é o de que o percurso que há 41 anos falta cumprir (Estado de Direito
democrático) tenha este ano pelo menos os primeiros indícios.
Um
outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de
acordo com a lei (algo que nunca aconteceu), respeitando-a plenamente para que
a palavra “cidadania” tenha o devido valor civilizacional.
A
justiça angolana ainda não deu (pelo contrário) suficientes provas de
maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a
acreditar, sem qualquer hesitação, de que continuará a desempenhar o seu papel
de modo domesticado e canino, mesmo sabendo que isso contraria os princípios da
verdade e da legalidade.
Também
gostaríamos que, em 2017, o discurso político do regime/MPLA fosse mais
inclusivo, sobretudo porque é uma organização (na prática é mais uma seita) que
domina o país há 41 anos. Não vai acontecer, é certo. O seu principal
argumentário baseia-se na imposição da única lei que conhecem: quero, posso e
mando.
Gostaríamos,
também, que o ano de 2017 desse frutos (mesmo que ainda embrionários) no
sentido de se apostar na diversificação da economia nacional, uma vez que essa
é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país
dentro. É, aliás, uma estratégia defendida há décadas por quem usa a cabeça
para… pensar.
É
tempo daqueles que trabalham para sua majestade o rei José Eduardo dos Santos,
e que são pagos com o dinheiro roubado aos angolanos, perceberem que, por muito
que tentem e se esforcem, Angola deixará um dia de ser um reino esclavagista.
É
evidente que o Povo angolano não têm nada a ver com aquilo que é o sonho, a
vontade e a prática neocolonialista que o MPLA leva a cabo, há 41 anos, sobre
Angola.
É
neste contexto que Marcolino Moco sobressai pela positiva e José Eduardo dos
Santos pela negativa. Vejamos, entretanto, o que pensam algumas personalidades
sobre esta escolha do Folha 8.
Paulo
de Morais (Professor
Universitário e ex-candidato às eleições presidenciais em Portugal)
MARCOLINO
MOCO NÃO PODE VIRAR AS COSTAS AO DESAFIO
“Eduardo
dos Santos já entrou para a História: a História da tirania e da corrupção
mundial.
Lidera,
há quase quarenta anos, um dos países mais afortunados do mundo em matéria de
riquezas naturais. Mas os angolanos continuam pobres, a mortalidade infantil é
das maiores do mundo, a alfabetização não chega, o desenvolvimento é uma
miragem. Enquanto isto, a família de Eduardo dos Santos é das mais ricas do
mundo, a sua filha Isabel é a mulher mais rica de África, e todos os seus
familiares beneficiam de privilégios ilimitados. A sua imunidade vai ao ponto
de a sua irmã Marta ter obtido centenas de milhões de crédito junto do BES
Angola, sem as correspondentes garantias.
À
volta da família (imperial) de Dos Santos, alguns generais dispõem de um enorme
poderio económico, financeiro e militar. O território foi retalhado e dividido
pelos lacaios mais próximos de Eduardo dos Santos: terras imensas foram
distribuídas numa lógica feudal, concessões petrolíferas e diamantíferas foram
atribuídas aos mais próximos do presidente. Com as fortunas acumuladas, esta
classe dirigente angolana adquiriu um património imenso no exterior, com
especial incidência em Portugal, beneficiando da conivência de políticos
portugueses cúmplices dos mais diversos partidos.
Adquiriram
imobiliário de luxo, participações nas maiores empresas de construção, Bancos e
até comunicação social. Alguns angolanos protegidos do regime de Eduardo dos
Santos dispõem hoje de uma capitalização bolsista considerável em Portugal. E
enquanto isso, o povo angolano sofre, as crianças morrem nas ruas dos subúrbios
de Luanda.
Eduardo
dos Santos deve ser destacado como um dos maiores tiranos de África. Quando
tomou posse como presidente, Angola tinha um enorme potencial. Tivesse Eduardo
dos Santos sabido aproveitar os apoios internacionais em prol do seu povo e os
angolanos poderiam hoje dispor de um bom sistema de saúde, de escolas modernas,
de universidades, de cidades bem geridas, de agricultura de ponta, turismo de
qualidade, uma cultura distintiva e robusta… Mas, a contrariu, o único sector
que verdadeiramente se desenvolveu foi o da corrupção de Estado ao serviço das famílias
do regime.
A
nível internacional, o presidente angolano encontrou os piores parceiros,
associou-se aos maiores tiranos. Tentou transformar a Comunidade de Países de
Língua Portuguesa numa organização de produtores de petróleo, encostando-se a
Dilma Roussef e ao ditador Obiang da Guiné Equatorial, manipulando o timorense
Xanana e subjugando são-tomenses e guineenses – tudo isto com o beneplácito dos
seus cúmplices portugueses, do CDS de Paulo Portas, ao Partido Comunista de
Jerónimo de Sousa. Associou-se aos chineses mais corruptos como Sam-Pa nos
negócios do petróleo. Esteve na génese do maior escândalo financeiro português,
o BES.
Os
angolanos não devem perdoar ao seu presidente da República. Porque Eduardo dos
Santos extorquiu-lhes todas as suas riquezas, mas sobretudo porque lhes roubou
o seu futuro.
O
destino de Angola é hoje, mais do que uma incógnita, uma certeza de fracasso e
pobreza. Há pois que inverter este caminho que leva Angola para a pobreza
irreversível. Urge que, dentro e fora do regime, surjam vozes que levem à
descoberta de um novo caminho. Destas destacam-se, naturalmente, Rafael
Marques, William Tonnet, Luaty Beirão, os oposicionistas do CASA; e, na esfera
do MPLA, Lopo do Nascimento, que vem, de forma tíbia é certo, denunciando a corrupção
e, com mais vigor, mais juventude e força, Marcolino Moco.
É
com homens como Marcolino Moco que Angola tem de arrancar para um outro futuro.
Só homens amantes mais do seu povo do que do poder ou dinheiro, poderão desviar
Angola do percurso suicida em que se encontra esta comunidade colectiva. Angola
necessita de uma Perestroika à africana, liderada por um novo Gorbatchov que
mude o rumo político deste que é um dos mais belos e ricos países do mundo.
Esta mudança de rumo tem de ter lugar sem violência ou guerra, sob a tutela de
uma comissão internacional do tipo da “Verdade e Reconciliação “que Mandela
instituiu na África do Sul.
Cabe
a pessoas com vontade, vigor e perseverança e autoridade política encontrar os
caminhos do futuro de Angola. Marcolino Moco, face às posições críticas que vem
tomando face ao poder vigente, e a par dos mais desassossegados do MPLA, não
pode virar as costas a este desafio.”
Emmanuel
Nzita (Presidente
da FLEC/FAC)
AO
CONTRÁRIO DE DOS SANTOS, COM MARCOLINO MOCO O FUTURO É POSSÍVEL
“Anossa
leitura à escolha do Jornal Folha 8 é também uma apreciação positiva sobre a
escolha positiva de Marcolino Moco, não apenas como um ex-primeiro-ministro mas
também sobre a sua carreira política e a sua postura de Estadista que, aliás,
não é algo de novo.
As
suas diversas intervenções nas redes sociais, em jornais independentes e na
imprensa em geral mostram que é um político aberto à sociedade, atento às
questões políticas e sociais do continente em geral e de Angola em particular.
Marcolino
Moco é um homem do Povo e do público que domina perfeitamente as meandros da
sociedade em que vive, e que conhece também o trajecto insensato que o seu
partido escolheu para levar o país para um caos total.
O
que é muito positivo em Marcolino Moco é o facto de ter compreendido a tempo
com alguns camaradas do seu partido, as grandes mudanças geopolíticas que
ocorreram no mundo após a queda do Muro de Berlim, e, especialmente, com a sua
experiência vivida no seio da CPLP.
Marcolino
Moco abraçou a cultura democrática como um modelo político que une as pessoas
para o desenvolvimento, a emancipação, a paz, o progresso e a justiça social.
É
um dos poucos políticos cuja visão da governança pode criar um consenso
político real para a paz social em Angola, pelo seu carácter humanista e a
aberta ao diálogo, essa é a análise que faço deste Homem.
Quando
a José Eduardo dos Santos, sem ser desagradável e apesar do conflito
Angola/Cabinda, certamente que os leitores do Folha 8 vão provavelmente
concordar comigo que ele perdeu todas as oportunidades políticas que poderiam
fazer dele um grande homem entre os grandes homens da África…
Ele
perdeu a oportunidade de se tornar um grande exemplo de democracia na África do
Sul, em Angola, na África e na região dos Grandes Lagos, especialmente após a
morte de Mobutu, de Jonas Savimbi e de Nelson Mandela…
Perdeu
a oportunidade de fazer de Angola um gigante democrático e económico em África,
apesar do seu estatuto de segundo maior produtor Africano de petróleo, grande
produtor de diamantes e madeira… mas brilhou como força de desestabilização de
regimes democráticos, e tomou parte activa em todas as guerras na sub-região
(nos Congos) e até na Costa do Marfim.
E
hoje ninguém duvida sobre a natureza autoritária do seu poder, e do estado em
que mergulhou a economia de Angola para não falar de Cabinda.
José
Eduardo dos Santos que gosta de falar e incentivar a prática do diálogo em
países onde ele próprio participa em semear a dúvida e caos, nunca tentou
dialogar “com seu próprio povo nem com a sua própria oposição”.
José
Eduardo dos Santos será certamente lembrado no mundo como um dos muitos
ditadores que marcaram o final do século 20 século e início do século 21.”
Mário
Mota (Jornalista
e Editor do Site Página Global, entre outros)
SEMPRE
NA DEFESA DOS ANGOLANOS
“A escolha
de personalidades que no ano de 2016 sobressaíram pela positiva ou pela
negativa será sempre controversa, nunca terá a simplicidade que encontramos num
cesto de fruta sã e fruta podre ou pelo menos tocada.
Imaginemos
que escolheria duas personalidades com intervenções em Portugal: positivo seria
António Costa por via da Geringonça (que até foi palavra do ano). Geringonça
que está a fazer o possível por recuperar tanto que os portugueses perderam ao
longo da (des)governação de Passos Coelho. O mais negativo seria Cavaco Silva
por via de ainda ter ocupado a presidência da República por quase 3 meses em
2016 e tudo ter feito para tramar o país e a democracia. Mas não só por esses
três meses de 2016. Também e principalmente por ter tramado Portugal e os
portugueses ao longo de quase duas décadas. O melhor é não estender mais este
lençol porque ainda dará texto para um livro.
A
nível internacional imaginemos que escolheria personalidades angolanas (que
tudo tem que ver com o F8, jornal que muito prezo). E aí escolheria por
positivo um todo que é a personalidade de Angola: os angolanos.
Com
a objectividade assente numa personalidade angolana o positivo cabe em quem por
várias vezes já “roubei” textos que inseri nas minhas andanças na blogosfera:
Marcolino Moco. Um político angolano que já foi primeiro-ministro, que creio
ainda fazer parte do MPLA, mas que se opõe a algumas das políticas levadas a
cabo pelo actual poder angolano no que se refere à falta de transparência do
regime, à corrupção institucionalizada, à repressão de opositores e à liberdade
contestatária.
Marcolino
Moco tem dado a cara, abertamente, com a lealdade que tem por objectivo a
democratização mais abrangente e efectiva do país. Tem sido uma voz activa que
revela procurar obter para Angola e, consequentemente, para os angolanos, a via
política em que tendências ditatoriais ou obscuras soçobrem e dêem lugar a
debate, maior abertura, tolerância com o compromisso dessas características
serem o pomo de concórdia e melhoria de condições de vida dos angolanos.
Afinal,
algo que é característica da esquerda democrática, dos efectivamente
democratas. Tal não implica por sistema que Angola se abra à devassa da
selvajaria e ganância global, nem à selvajaria e ganâncias de alguns nacionais
a nível interno.
Por
negativo escolheria a personalidade que é o topo dos poderes em Angola –
Eduardo dos Santos – e que já lá está a mais por via dos demasiados anos que
detém esses poderes, parecendo até que tem por intenção bater o recorde do
ditador português Oliveira Salazar, que deteve os poderes por mais de quatro
décadas – 45 anos salvo erro.
Mas
não vou por aí. O mundo é o que nos interessa nestas andanças de positivo e
negativo. Principalmente agora com esta globalização desenfreada e selvagem que
é fruto do capitalismo parido por gentes de excessiva ganância que há em todos
os países mas sobremaneira nos Estados Unidos da América e na União Europeia –
perfilando-se a China para aquele pódio.
Personalidade
positiva: Papa Francisco, pelo que diz, pelo que influencia, pelo que denuncia
(até dentro da própria igreja), pelo destemor, pela humildade e simplicidade,
etc. Dos bons, dos positivos há sempre pouco a dizer.
Personalidade
negativa: Obama. O presidente dos EUA exerceu o cargo tal qual um charlatão a
exibir o Nobel da Paz. As guerras proliferaram nos seus mandatos. As guerras e
os fornecimentos de armamento a terroristas, como é o caso do ISIS ou Estado
Islâmico. É evidente que não foi Obama em pessoa que assumiu a tarefa de tais
fornecimentos e milhões de dólares de oferendas mas sim a sua ex-secretária de
estado Hillary Clinton e outros.
Foi
ainda nos “ateliers” de Obama que a CIA e uma barda de agências similares,
associados aos senhores da guerra, criaram uma Primavera Árabe que posicionou
de pantanas o norte de África, a África sub-saariana e a Síria (para não nomear
mais). Vai daí atacou com uma “bomba inteligente” a Europa por via das moles
imensas de refugiados. Europa que já estava (e ainda está) enfraquecida com uma
crise económico-financeira despoletada igualmente nos EUA. Até parece que foi
tudo orquestrado, não parece? Pois foi. A Europa estava a ter créditos
diplomáticos e outros pelo mundo inteiro. Os EUA estavam a caminho de se
apagarem. Urgia “apagar” o adversário europeu e, consequentemente outros mais a
leste. Dividir para reinar.
Para
de algum modo completar o ramalhete daquele Obama o campo de terror de
Guantánamo não encerrou, ao contrário do prometido e assumido por Obama. Nem
foram apuradas responsabilidades nos raptos que as secretas e as forças armadas
norte-americanas cometeram pelo mundo fora, transportando-as via aérea para
Guantánamo (escalas também em Portugal), onde detiveram e ainda detêm imensos
cidadãos de várias nacionalidades sem culpa formada, ao abrigo de procedimentos
em que Obama acaba por ser cúmplice, visto que não repôs a legalidade que se
impunha e impõe, de acordo com as leis internacionais. Nobel da Paz? Só se for
de pechisbeque.
Guardemos
uma consolação acerca do positivo e do negativo. Se não existissem não teríamos
electricidade, andaríamos no lusco-fusco e às escuras, daríamos imensas
cabeçadas uns nos outros. Pois.”
Eugénio
Costa Almeida (Investigador
e especialista em Assuntos Africanos)
EDUARDO
DOS SANTOS AINDA MANDA?
“A equipa
redactorial do Folha 8 elegeu como as duas figuras do ano de 2016. Marcolino
Moco pela positiva; e o presidente José Eduardo dos Santos, pela negativa, e
sobre isso solicitaram, enquanto angolano e investigador, a minha opinião.
E
é nesta condição, e unicamente nesta condição, que tentarei transmitir a minha
opinião a estas duas importantes figuras do panorama político nacional.
Deixem-me
que diga que haveria outras personalidades – individuais e, ou, colectivas –
que poderia ter encimado a lista da redacção do jornal Folha 8. Não sei quais
foram os critérios que a equipa levou a escolher estes – por certo que o
arquivo permite-lhes melhor que a mim definir os escolhidos – e é sobre estes
que opinarei, ainda que possa não deixar de dar algumas sugestões que, segundo
a minha convicção poderiam ser, também elas, os números “um”.
Não
foi só este ano que Marcolino Moco tem emergido como uma das nossas figuras
políticas e académicas nacionais mais importantes. É certo que,
indiscutivelmente, a sua tomada de posição face a certos e pouco atraentes
desequilíbrios sociais e políticos ocorridos no ano que findou terá levado que
emergisse como a figura número um.
Destaca(ra)m-se
as críticas e sugestões que tem feito no seu portal para uma clara melhoria na
vida política nacional, mas, parece-me que foi a sua frontal tomada de posição
face a uma manifestação – mais uma que ocorreu durante o ano no país – de contestação
à nomeação da engenheira Isabel dos Santos para dirigir a maior empresa
produtora e exportadora nacional, a Sonangol, que o fez suplantar
personalidades como o “caso 15+2” ou a ONG, OMUNGA (na área colectiva), ou o
advogado e jornalista Willian Tonet (santos em casa também podem e devem fazer
milagres), o jornalista, escritor e professor universitário Ismael Mateus, ou
Luisete Macedo Araújo que frontalmente critica a forma de eleição presidencial
e já se disponibilizou, para, uma vez mais se candidatar por uma organização
política onde ela possa transmitir as suas ideias política para o País.
Se
pela positiva poderia haver mais candidatos a liderarem a lista, também pela
negativa essa posição poderia ter, e talvez até com mais consistência, outras
personalidades.
O
Presidente José Eduardo dos Santos foi o escolhido. Pessoalmente não sei se foi
a escolha mais acertada – repito, estamos a abordar o ano 2016 – dada a sua
tomada de posição em termos de futuro, como foi o caso de sair da vida activa
política em 2018 e já não se candidatar às eleições deste ano; é certo que,
como São Tomé, estaremos cá para verificar se a sua vontade imperou. Foi a
escolha do Folha 8 e respeito-a.
Creio
que a escolha deveu-se á forma como o País tem sido gerido em termos políticos
e sociais – será que ainda é o engenheiro José Eduardo dos Santos, eleito,
constitucionalmente e por via indirecta, Presidente da República, face às
constantes idas ao estrangeiro por razões de saúde (ainda que oficialmente,
digam que é de descanso, mas que são as próprias autoridades locais onde o
Presidente vai “descansar” que dizem ser “saúde”) que gere o País, ou os que o
ladeiam como estriges? – ou a nomeação, independentemente das suas reconhecidas
qualidades, enquanto gestora, da engenheira Isabel dos Santos, sua filha?
Ora,
tal como para liderar a lista das figuras mais positivas poderiam sugerir
outras personalidades, nesta lista da personalidade mais negativa, há uma que
para mim, pelos impactos económicos, sociais e políticos que acarretou
encimaria, indiscutivelmente, a lista da personalidade mais negativa de 2016: a
Sonangol.
E
porque não, também, a figura colectiva que mais tem vindo a crescer – e
exponencialmente quando em véspera de eleições – negativamente para o
desenvolvimento económico, social e político do País, e que são reconhecidos
como “Bajús” e que o cartunista Sérgio Piçarra tão bem denuncia nas suas
pranchas?
E
houve outras personalidades individuais que pautaram por atitudes negativas na
gestão da coisa pública ou pela imagem muitas vezes negativas que fizeram
transmitir através da desculpa – que já começa a ser esfarrapada, por, na
realidade, ser um sacudir de águas e responsabilidades – de que tudo o que não
é bom se deve a “ordens superiores”. E estas têm sempre um visado…”
Luís
Faúlho Rasoilo (Funcionário
Público – Portugal)
A
VOZ DOS 20 MILHÕES
“Entendeu
o Folha 8, e muito bem, eleger, pela primeira vez, as Figuras Nacionais do ano
que passou – uma pela positiva, outra pela negativa. É uma iniciativa com
carácter meramente simbólico, digo eu, mas é também de simbolismos, por muito
irrelevantes que pareçam, que se leva uma sociedade civil a olhar para dentro
de si mesma e a procurar nela quem foram os seus melhores e os seus piores no
ano que passa e, a manter-se esta iniciativa, nos anos que se seguirão – uma
democracia plena também se constrói assim.
E
como Angola – e a sua sociedade civil adormecida, creio, porque amordaçada –
precisa de actos e gestos – mesmo simbólicos ajudam – que a levem a libertar-se
do nepotismo há muito reinante – e o que é de mais é moléstia!
É
muito difícil a um português de Angola (não, não é ressabiamento! Não, não é
neocolonialismo) falar de Angola, dessa terra maravilhosa, dessa terra apaixonante,
dessa terra de afectos quentes e boas gentes, porque um português de Angola
sofre e revolta-se com o abandono a que é votado aquele Povo, que vê os seus
imensos recursos irem para os bolsos de gente sem escrúpulos, que recebeu de
mão beijada os destinos dessa terra – e que terrível destino lhe estava
reservada. Até quando?
A
Redacção do Folha 8 escolheu, pelo lado positivo, como Figura do Ano 2016
Marcolino Moco, e, pelo lado negativo (como não podia deixar de ser!), José
Eduardo dos Santos. Escolhas acertadas e, pelo lado negativo, acertadíssima!
Faço votos de que, no final deste ano, não estejamos novamente aqui a elegê-lo
(e à sua família e ao seu séquito bajulador-interesseiro) como a figura mais
negativa do ano!
Quanto a Marcolino Moco, que a sua escolha para Figura Nacional do Ano 2016 seja um contributo, um incentivo, para que continue, mais forte, a desmascarar, com todas as letras e todos os piores adjectivos, os podres de um regime corrupto e cleptocrata.
Que
Marcolino Moco seja a voz dos vinte milhões de pobres angolanos. Que Marcolino
Moco seja um dos ‘porta-estandartes’ daqueles 20 milhões que, no dia-a-dia, não
vivem sobrevivem – há, pelo menos, 37 anos! Que Marcolino Moco continue a lutar
por um melhor País, mais digno, mais igual, logo, mais justo. Como dizia Ortega
y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo a ela, não me
salvo eu.”
Angola,
de Portugal espera tudo de bom, dos políticos portugueses não!
Que este seja o Ano da esperança.”
José
Filipe Rodrigues (Engenheiro,
Poeta e Contista. Natural do Huambo reside nos EUA)
DO
POVO, COM O POVO, PARA O POVO
“A Direcção
do Folha 8 pediu-nos um comentário acerca da escolha de Marcolino Moco como a
personalidade do ano e a selecção de José Eduardo dos Santos como a pior figura
política de 2016, em Angola.
Há
uma grande diferença entre um doutorado pela Faculdade de Direito de Lisboa e
alguém que escolhe para seu sucessor um mestre em Ciências Históricas pelo
Instituto Superior Lenine. Essa grande diferença reside na abertura de espírito
para a ciência como catalisador de melhoria, o que é o caso do Doutor Marcolino
Moco, e uma predisposição para a subserviência e manipulação dos factos,
objectivando a domesticação das Ciências Sociais, usando sofismas, demasiado
primários, para benefício pessoal e dos seus.
Há
uma grande diferença entre alguém que tenta promover a abrangência nas
sinergias de planeamento social, com o incentivo para o desenvolvimento de uma
cultura de líderes e um outro que faz o culto da personalidade, com atitudes e
comportamentos promotores do medo, em vez do respeito, para a construção de uma
hierarquia de muito chefes déspotas, fieis e obedientes seguidores de um poder
absoluto concentrado numa só pessoa, com uma personalidade insegura e, muitas
vezes, cobarde, ao exercer o poder pela força em vez de optar pela lógica e
pela razão.
Há
uma grande diferença entre alguém que defende para Angola uma cultura
democrática, de paz e justiça social, de acordo com os padrões dos países mais
desenvolvidos e alguém que continua a defender a concentração do poder numa
oligarquia retrógrada, promotora de grandes amplitudes nas assimetrias sociais,
obediente a um modelo de insucesso, como demonstrou a falência da visão
imperial da União Soviética e da Angola das últimas quarto décadas.
Há
uma diferença entre um promotor da cooperação para a melhoria das mentalidades
e alguém que continua a defender um paternalismo feudal, inibidor do
desenvolvimento de mentalidades adultas, altruístas e holísticas.
A
maior de todas as diferenças entre Marcolino Moco e José Eduardo dos Santos
reside no facto de Marcolino Moco pretender uma Angola para os angolanos
enquanto José Eduardo dos Santos pretende uma Angola só para si e para os seus
familiares e amigos.
Marcolino
Moco tenta promover e construir a esperança. José Eduardo dos Santos tem uma
visão paternalista de Angola e, como é do conhecimento geral, o paternalismo
torna as pessoas dependentes, incapazes de desenvolverem um pensamento crítico
para a criação de novos paradigmas, visando a melhoria das culturas e da
civilização. José Eduardo dos Santos e o MPLA insistem teimosamente nos
paradigmas muito velhos, característicos dos sistemas políticos muito anquilosados,
servindo-se da mentira, dos sofismas e ambiguidades para se manter no poder.
Os
angolanos já nada esperam de José Eduardo dos Santos, nem um pedido de desculpa
por ter ocupado o poder por tanto tempo.
Marcolino
Moco apresenta-se como alguém que pretende representar o povo, alguém que o
povo deve respeitar e nunca temer, as características necessárias para uma boa
liderança.
Marcolino
Moco desafia o uso da inteligência. José Eduardo dos Santos está a conduzir
Angola para a insolvência.”
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