30 anos após a morte de Zeca Afonso e aqui estamos, meus. Até parece que vamos de carrinho no comboio ascendente a uma ditadura que chamam de democracia. Eles comem tudo, os banqueiros e os grandes empresários. Sobrevivemos ao sabor deles. São vampiros, pois, e comem tudo. Eles comem tudo, Zeca. Deixam algumas migalhas para os políticos e outros cúmplices, os lacaios. Agora são ainda mais do que antes. Não deixam nada.
No dia a-dia vimos as formigas no carreiro absolutamente zonzas, drogadas ou lá o que estão. Em sentido contrário é que não. Por ali vão em fila de pirilau, umas atrás das outras, quase em passo marcado e lá chegam ao trabalho de onde saíram há poucas horas. E trabalham, e produzem, e dão lucros chorudos por troca de ordenados de miséria. E dizem os patrões, os empresários, que estão aflitos, que estão tesos, que a produção é baixa e os ordenados são altos... É vê-los com brutos casarões, não um mas dois ou três, ou mais. E piscinas nas "casinhas" é o que não falta. E saunas... E... Automóveis para a mulher, para os filhos, até para empregadas irem ao mercado... Boa vida, Zeca. Enquanto a má vida está reservada aos trabalhadores. esses tais que dão lucros chorudos em troca de salários de miséria. E depois lá dizem que os lucros não existem ou são insuficientes. O que não dizem é que vão quase todos para eles. O que não dizem é que até apresentam prejuizos porque convém. Porque já roubaram à farta na sustenção dos pés-de-meias em offshores e quejandos.
É esta a democracia que temos... aliás, que eles têm. E os dos partidos alinham, ou mais ou menos, nesta desbunda. Recebendo as migalhas dos donos disto tudo. Ou dos ladrões disto tudo.
E as formigas lá continuam no carreiro. Odedientes. Todas no mesmo sentido. Haverá algumas que isoladamente querem reverter a marcha da zonzaria mas... Isso são só intenções e discursos inflamados que não têm levado a nada. A anestesia injetada é dose cavalar, Zeca. Uma dose cavalar a formigas ou borregos e borregas é obra. Nem precisa de nenhum Salazar ou Marcelo. Nas eleições está a prova. A borregar lá vão, pelo carreiro, disciplinadamente, votar nos mesmos. Nos lacaios que dizem ser do arco da governação. Como seja um arco das marchas populares. E sorriem, os tontos. Comemoram efusivamente a vitória a transbordar de mentiras, perdão, de promessas, que jamais se realizarão. E eles e elas sabem isso... Mas comemoram. Sem se importarem que comemoram os enganos a que se estão sempre a sujeitar. E dizem que vivem em democracia. Pois vivem, Zeca, a democracia dos que nos exploram, dos que nos roubam, dos que vêem neles objetos a explorar - tal qual escravos.
Estamos feitos, Zeca. Nem que venham mais cinco... Zeca, a coisa está para durar. Teremos a libertação, sim. Decerto que na morte. Até que enfim.
O que havia para mais escrever não cabe aqui. Fiquemos por breve resumo. Como breve foi a revolução. E eles sabem lá o que foi isso.
Até breve, Zeca.
MM / PG
Sem comentários:
Enviar um comentário