Declaração causa revolta entre
associações de imigrantes e membros dos partidos Democrata e Republicano. ONU
afirma que comentário, feito durante reunião para debater imigração, é
claramente racista.
O presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, chamou El Salvador, Haiti e nações africanas de "países
de merda" (shithole countries) durante uma reunião com legisladores, nesta
quinta-feira (11/01), e indicou que prefere abrir as portas a imigrantes
procedentes de países como a Noruega.
"Por que temos todas essas
pessoas de países de merda vindo para cá?", disse Trump durante uma
reunião com congressistas na Casa Branca, segundo meios de comunicação
americanos, como o jornal Washington Post, que cita pessoas que
participaram do encontro.
A Casa Branca não desmentiu as
declarações atribuídas ao presidente. Ele próprio, porém, afirmou no Twitter,
horas depois de iniciada a polêmica, que "este não foi
o linguajar usado" por ele, ainda que ele tenha sido "duro".
Segundo os participantes, Trump
recorreu ao palavrão depois que dois senadores lhe apresentaram um projeto de
lei de abrigo a imigrantes, segundo o qual seriam concedidos vistos a alguns
cidadãos de países que foram recentemente retirados do Estatuto de Proteção
Temporária (TPS, na sigla em inglês), como El Salvador, Haiti, Nicarágua e
Sudão.
O comentário do presidente gerou
críticas de deputados democratas e republicanos. "Os comentários do
presidente são grosseiros, divisórios, elitistas e contrários aos valores da
nossa nação. Esse comportamento é inaceitável do líder da nossa nação",
afirmou a deputada republicana Mia Love, cujos pais vieram do Haiti.
O líder da bancada
negra no Congresso dos EUA, Cedric L. Richmond, criticou Trump e disse que
a declaração é mais uma prova de que a agenda Make America great again ("Faça
os EUA grandes de novo") é, de fato, uma agenda "Faça os EUA
brancos de novo".
"Envergonhado por ele ser
presidente dos EUA"
As Nações Unidas afirmaram que a
declaração do presidente dos EUA, se confirmada, é "chocante, vergonhosa e
racista". "Desculpe, mas não se pode usar outra palavra além de
racista", disse o port-voz de direitos humanos Rupert Colville, em
Genebra.
A American Haitian Foundation
chamou os comentários de Trump de ignorantes e racistas. "Os
comentários do presidente [refletem] uma total desconsideração para com a
dignidade humana do povo haitiano", afirmou Jack Davidson,
diretor-executivo da fundação com sede no Tennessee. "Estou
envergonhado por ele ser presidente dos Estados Unidos."
A porta-voz da União Africana
(UA), Ebba Kalondo, considerou as declarações de Trump inaceitáveis, tendo
em conta a realidade histórica e a quantidade de africanos que
chegaram aos EUA como escravos. "Isso é particularmente
surpreendente por os EUA continuarem sendo um exemplo global de como
a migração deu origem a uma nação baseada em valores fortes de diversidade e
oportunidade", destacou.
O TPS é um benefício concedido
pelos Estados Unidos a imigrantes sem documentos, que não podem regressar aos
países devido a conflitos civis, desastres naturais ou outras circunstâncias
extraordinárias, permitindo-lhes trabalhar no país com uma autorização
temporária. Em sua resposta, Trump sugeriu que os Estados Unidos deveriam
atrair mais imigrantes de países como a Noruega, com cuja primeira-ministra,
Erna Solberg, reuniu-se na véspera.
Os deputados presentes na reunião
ficaram chocados com os comentários, de acordo com o Washington Post, que
não esclareceu se o presidente americano se referia também à Nicarágua e não
identificou os países africanos em causa. O jornal Los Angeles Times corroborou
a informação e acrescentou que, antes de proferir o palavrão, Trump exclamou:
"Para que é que queremos haitianos aqui? Para que é que queremos todas
estas pessoas da África aqui?"
O âncora da CNN Anderson
Cooper liderou as críticas a Trump e defendeu – emocionado – o Haiti e seu
povo – Cooper foi um dos primeiros jornalistas a chegar à ilha
caribenha depois do devastador terremoto em 2010, que causou a morte de
mais de 220 mil pessoas. Em seu programa, ele disse que os haitianos
"passaram por mais, resistiram a mais, lutaram contra mais injustiça do
que nosso presidente jamais viu".
"Para o presidente acreditar
que os haitianos não contribuíram extraordinariamente para a sociedade
americana, isso é ignorância. Classificar todos os países africanos de 'buracos
de merda' é abominavelmente ignorante", disse.
Casa Branca não desmente
A Casa Branca não negou
que Trump tenha feito o polêmica comentário. "Certos políticos de
Washington escolhem lutar por países estrangeiros, mas o presidente Trump
sempre lutará pelo povo americano", afirmou em comunicado. "O
presidente Trump luta para conseguir soluções permanentes que tornam o nosso
país mais forte, ao dar as boas-vindas àqueles que possam contribuir para a
nossa sociedade, fazer crescer a nossa economia e se integrar na nossa grande
nação."
Trump "sempre rejeitará as
medidas temporárias, débeis e perigosas que ameacem as vidas dos americanos que
trabalham duro e que prejudiquem aqueles imigrantes que procuram uma vida
melhor nos Estados Unidos por meio de uma via legal", acrescentou a Casa
Branca.
O projeto de lei negociado por
seis senadores de ambos os partidos – republicano e democrata – prevê a
eliminação da chamada "loteria dos vistos", programa eletrônico que
seleciona aleatoriamente imigrantes de países com baixas taxas de migração para
os Estados Unidos. Anualmente, cerca de 50 mil pessoas entram no país por meio
deste programa, que abre caminho à cidadania americana e beneficia
majoritariamente países de África.
Uma fonte do Senado, que pediu
por anonimato, indicou à agência de notícias espanhola Efe que metade
desses vistos seria consignada aos que até agora estavam protegidos pelo TPS e
que a outra metade estaria reservada a imigrantes com qualificações
profissionais que merecem entrar nos Estados Unidos, o famoso
"mérito" defendido por Trump.
PV/lusa/efe | em Deutsche Welle
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