segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE: UMA CONSTANTE TENSÃO DIALÉTICA NO GOLFO DO MÉXICO E CARIBE


Martinho Júnior | Luanda

1- O processo histórico das Américas, desde que os europeus chegaram invadindo e conquistando o continente, revela as tensões que extravasaram da Europa a partir dos séculos XV/XVI para o resto do mundo, tensões essas que cresceram ainda com a descolonização gradual do continente americano como um todo, há pouco mais de dois séculos.

Esse processo elaborado de culturas de raiz europeia com vocações contraditórias, estão também na base da globalização corrente, assente na revolução industrial e na revolução consubstanciada pelas novas tecnologias, resultantes do capitalismo de expansão que teve sua principal matriz nos Estados Unidos, precisamente após a descolonização.

A “conquista do oeste”, que ocorreu no território dos Estados Unidos na base do domínio cultural anglo-saxónico que aproveitou a revolução industrial para se fortalecer, foi a primeira experiência expansionista traumatizante, obrigando-se desde logo a vencer pela força e conquista, uma a uma e sem remissão, as nações autóctones dos povoadores indígenas das Américas, num processo que se confundiu com a história do fortalecimento do próprio capitalismo.


2- A expansão para oeste (costa do Pacífico) do território dos Estados Unidos a partir do leste (costa do Atlântico), venceu também o México (meados do século XIX), incorporando vários estados conquistados em reforço da linha de expansão, até ao Pacífico e esse terá sido um dos choques culturais que mais tem influído nos processos de hegemonia assumidos desde então no continente americano: o poder das culturas anglo-saxónicas, face à resistência das culturas ibero-latino-americanas situadas a sul, ao serviço do fortalecimento do capital e dos processos de aculturação desencadeados a partir da construção desse domínio.

O Golfo do México e o contíguo Mar das Caraíbas passaram assim desde o século XIX a ser, para a geoestratégia do expansionismo, uma região de fronteira física-geográfica do interesse dominante fulcral, que propiciou todo o tipo de manifestação da própria formação da hegemonia ao longo desses dois últimos séculos ainda que numa “geometria variável”, uma manifestação constante do poder dominante implantado nos Estados Unidos sobre o resto do continente a sul (México, América Central, Caraíbas e América do Sul).

A fermentação das resistências progressistas valorizadas pela sua assunção ética e moral, tem portanto duplas raízes, quer nas lutas pela descolonização do continente, quer nas lutas de resistência à expansão dos Estados Unidos.


Os Estados Unidos cristalizaram na ideia que derivou para a procura incessante de domínio em todo o continente, (procurando reduzir recorrendo à barbárie, ao estado de vassalagem e submissão todos os demais, reflectindo em espelhos do presente o expansionismo de então).

Cuba por exemplo, celebra a 24 de Fevereiro de 2018, 123 anos do reinício das lutas independentistas tendo José Marti como sua maior referência!..

Se há estados, nações e povos que compreendem em toda a linha, o peso do expansionismo dos Estados Unidos, que derivou para os termos da hegemonia unipolar em função da corrente globalização capitalista neoliberal, são os que perfilham as culturas ibero-latino-americanas, pelo que é directamente sobre o Golfo do México e esse contíguo Mar das Caraíbas, onde a sensibilidade dialética dessas tensões inerentes aos processos histórico e antropológico se torna mais evidente: o húmus da resistência radicalizada da luta tornou-se numa constante prova de vida e de dignidade, intrínsecas no que à sobrevivência diz respeito.

Essa sensibilidade aumentou por que, quer por via da força, quer por via do seu “soft power”, tanto no que diz respeito a medidas civis, como a medidas militares, os Estados Unidos procuram a todo o transe reverter os parâmetros do capitalismo neoliberal identificado com o poder da hegemonia unipolar, para uma pressão assimiladora constante e “em leque” das sociedades-alvo no resto do mundo, uma pressão que só pode ser elaborada por via de expedientes subversivos à democracia, o que explica a sua capacidade de ingerência e manipulação nas “transversalidades” que decorrem em todo o espaço latino-americano, quaisquer que sejam seus processos económicos, financeiros e sócio-políticos.

A resistência progressista na América Latina enveredou para uma valorização da participação cidadã (popular) promotora de paz e do Não Alinhamento activo, face ao peso da representatividade (das oligarquias intermediárias da aristocracia financeira mundial), precisamente por que a representatividade sendo um processo subversivo à democracia, está inerente à acumulação do capital em poucas mãos e ao poder assimilador da hegemonia unipolar, que para isso recorre às ingerências, manipulações e“transversalidades” mais grosseiras, vocacionadas para a fermentação do caos, do terrorismo e da desagregação, para além da fermentação de tensões, conflitos e guerras.

São as nações, os estados e os povos latino-americanos mais progressistas inscritos como alvos principais da geoestratégia da pressão da hegemonia unipolar, que têm mais resistido a essas pressões, com uma inteligente luta de décadas que se estende até hoje e, entre eles Cuba e a Venezuela Bolivariana, cujos territórios se situam no Golfo do México e Mar das Caraíbas, com processos históricos autênticos e inequívocos de resistência dialética face à hegemonia unipolar e ao mesmo tempo face ao capitalismo neoliberal de que se nutre o processo dominante, em busca do socialismo que providencia pátria enquanto dignidade, solidariedade, internacionalismo, consciente respeito para com a natureza e para com o planeta e humanidade.


3- Chegou-se desde o princípio da década de 90 do século XX, ao clímax da acumulação concentracionária do poder do capital nos Estados Unidos, reduzindo a mera cosmética a democracia representativa, o que se reflecte e é reflexo nas e das enormes assimetrias e desequilíbrios internos, assim como no exercício constante de arrogante domínio civil e militar por todo o globo, sentido com maior intensidade pelos estados, nações e povos ribeirinhos ao Golfo do México e Caribe, ou espalhados pelos arquipélagos das Caraíbas.

A acumulação do capital em cada vez menos mãos comporta sob os pontos de vista ético e moral, o módulo bárbaro das condutas do homem para se relacionar entre si e com a natureza do próprio planeta que facilita a sua existência, conforme ela é conhecida hoje, ainda que à beira da ruptura e do colapso.

Cientistas como Stephen Hawkings estão a prognosticar que o horizonte temporal da vida humana na Terra tem como horizonte os próximos duzentos anos, ou seja, desde a independência alcançada por via da descolonização, até ao fim da espécie humana segundo esses prognósticos, está-se precisamente a meio caminho!…

As lutas de Cuba e da Venezuela Bolivariana tornam-se assim baluartes socialistas dum inestimável património global vocacionado para o benefício de toda a humanidade, uma humanidade ávida de civilização e cansada da barbárie propiciada pela acumulação desenfreada do capital e manipuladora das culturas anglo-saxónicas em seu exclusivo ego, ao longo dos últimos duzentos anos.

A compreensão desse fenómeno onde quer que vivamos neste mundo globalizado e mais que nunca à beira do colapso, é indispensável à formação de nossa personalidade e carácter, devendo-se reflectir no nosso comportamento e atitude, por que a filosofia da sobrevivência da espécie e do respeito para com humanidade e planeta, é cada vez mais uma contradição radicalizada face à barbárie cultivada no âmbito do capitalismo elevado à exponente neoliberal, assimilador de culturas vassalas à hegemonia unipolar!

A lógica com sentido de vida e sua expressão de socialismo assumem o que é da civilização face à barbárie e por isso os processos de luta de Cuba e da Venezuela Bolivariana, ali à sua latitude e longitude, onde a pressão do expansionismo da hegemonia unipolar é mais intensa, nos são tão preciosos, além do mais pelo que intrinsecamente se cultivado em sua natureza ética e moral.


4- Por todas essas razões, quando nos seus próprios processos históricos e democráticos Cuba e a Venezuela Bolivariana partem para seus actos eleitorais, (que são verdadeiros marcos, expoentes de luta) há que colocar na mesa das consciências todas as questões que se esbatem na dialética entre civilização e barbárie em pleno século XXI e avaliar com toda a compreensão e abrangência as questões históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas, tal como as questões que dizem respeito aos relacionamentos do homem com seu espaço físico-geográfico e com a natureza do planeta.

Nesse ponto de vista, as questões vitais estão presentes, subjacentes aos actos eleitorais, no balanço que se faz quando se propicia consciência crítica e a escolha das opções inerentes à própria ética e moral progressista, na sua dialética em luta entre o que diz respeito à barbárie e o que diz respeito à civilização.

As linhas progressistas que advêm do passado fazem parte desse debate eleitoral com toda a sensibilidade e emoção, até por que elas estão presentes sempre em função do sentido das culturas e do que com elas se quer realizar para o futuro.

A primeira metade de 2018 está a ser para o mundo um livro aberto e as opções de civilização que se colocam nas eleições em Cuba e na Venezuela Bolivariana, não devem ser apenas um motivo de atenção dos progressistas de todo o mundo, mas também prova de sua solidariedade e vitalidade e um momento muito especial de recolha de muitas experiências e lições!

Martinho Júnior - Luanda, 25 de Fevereiro de 2018

Ilustrações:
- Mapa do espaço físico-geográfico e geoestratégico do Golfo do México e Mar das Caraíbas: a norte os Estados Unidos, no centro Cuba e a sul a Venezuela Bolivariana;
- O mar de bandeiras de Cuba em frente da Embaixada dos Estados Unidos no Malecon de Havana;
- Dois estadistas e homens de consciência universal: Fidel e Hugo Chavez;
- Dois dos seus continuadores: Raul e Maduro;
- A imagem secular da expansão dos Estados unidos, mantém-se em pleno século XXI.

A consultar de Martinho Júnior:
- LONGOS SÃO OS CAMINHOS ÁVIDOS DE VIDA E PAZ!... – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/longos-sao-os-caminhos-avidos-de-vida-e.html

- CONTRA AS CONSTANTES INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES… –   http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/contra-as-constantes-ingerencias-e.html

- INDEPENDÊNCIA, SOBERANIA E PAZ PARA A VENEZUELA BOLIVARIANA –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/independencia-soberania-e-paz-para.html


Outras consultas:
- Stephen Hawking pronostica que la Tierra morirá dentro de 200 años – https://actualidad.rt.com/actualidad/259655-stephen-hawking-muerte-tierra-200-a%C3%B1os
- DISCURSO PRONUNCIADO EN RÍO DE JANEIRO POR EL COMANDANTE EN JEFE EN LA CONFERENCIA DE NACIONES UNIDAS SOBRE MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO, EL 12 DE JUNIO DE 1992. – https://www.youtube.com/watch?v=JF67BSRjTYc
- DISCURSO PRONUNCIADO POR EL COMANDANTE EN JEFE FIDEL CASTRO RUZ, PRIMER SECRETARIO DEL COMITÉ CENTRAL DEL PARTIDO COMUNISTA DE CUBA Y PRESIDENTE DE LOS CONSEJOS DE ESTADO Y DE MINISTROS, EN LA CLAUSURA DEL ENCUENTRO MUNDIAL DE SOLIDARIDAD CON CUBA. – https://www.youtube.com/watch?v=IQ3xMrb-PFM
- Notas de Retaguardia: “Las reservas de Venezuela eran escuálidas, estaban en manos del célebre FMI” – http://www.cubadebate.cu/opinion/2011/08/18/notas-de-retaguardia-las-reservas-de-venezuela-eran-escualidas-estaban-en-manos-del-celebre-fmi/#.WpQ0gCYiHmI
- ONU Discurso completo de Hugo Chavez 20 09 2006, Huele a azufre – https://www.youtube.com/watch?v=GNKV6LF7RFs
- Discurso histórico de Nicolás Maduro en la Asamblea General de la ONU – https://www.youtube.com/watch?v=dDPD9fNFTUM
- Raul Castro - Discurso en la ONU New York - Septiembre 28 de 2015 – https://www.youtube.com/watch?v=6oz3HOhn_Qo
- Nicolás Maduro inscribirá candidatura presidencial la próxima semana – http://www.correodelorinoco.gob.ve/nicolas-maduro-inscribira-candidatura-presidencial-la-proxima-semana/ 
- Raúl Castro frente a Obama discurso histórico en Cumbre de las Américas 2015 – https://www.youtube.com/watch?v=rOwUpwhzIow

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