Em Palma, Cabo Delgado, continua
o trabalho para evitar ataques armados de desconhecidos, garante o
administrador do distrito. Mas David Machimbuko reconhece que está a ser
difícil identificar os atacantes.
Quase quatro meses depois dos
ataques de homens armados no distrito de Palma, província de Cabo Delgado, no
norte de Moçambique, a origem da ação bem como os seus atacantes ainda não
foram devidamente identificados. A 14 de janeiro, os desconhecidos mataram
cinco pessoas e feriram outras 12, para além der terem vandalizado cerca de 60
casas, queimado algumas barracas e atacado edifícios do Estado. Como o caso
ainda não está resolvido, a situação ainda é de alerta em Palma. Conversarmos
sobre o assunto com o administrador do distrito, David Machimbuko.
DW África: Que medidas
suplementares a sua administração tomou para evitar ataques iguais e
neutralizar os atacantes?
David Machimbuko (DM): Nós
articulamos com o Ministério da Defesa, ou todas as forças ligadas à Defesa e
Segurança, e anunciamos clemência em janeiro mesmo, para que qualquer um que
esteja envolvido ou um familiar que esteja envolvido de forma involuntária se
apresentasse tanto as autoridades policiais como nas autoridades governamentais
ou nas lideranças locais. Informamos e educamos a população, primeiro para a
vigilância e para não aderirem a movimentos que não conhecem. Segundo, saber e
entender que afinal mesmo na Arábia Saudita existem cristãos que falam
árabe, para que não entrem num movimento onde alguém inventa um livro e diz que
é um novo alcorão. É nesse sentido que as pessoas acabam por entrar em
movimentos estranhos e depois num momento impróprio acabam por se arrepender.
Então, estamos a agudizar a vigilância e estamos sempre a sensibilizar a
população a não aderir a movimentos que não conhecem.
DW África: No caso do seu
distrito, é sabido quem são os atacantes?
DM: Por acaso, é difícil.
Até agora não encontramos provas evidentes das nacionalidades dos atacantes.
Apenas temos visto pessoas que acabam por se aproveitar usando as línguas
locais, Kimwani e Kiswahili, e o Português, mas com sotaque estrangeiro, o que
nos dificulta saber quem são. E a questão de fundo é que qualquer guerra tem um
título, há sempre um alvo definido. Mas onde um grupo diz que luta contra o
Governo ou legalidade, não quer que as crianças estudem, e depois entram
nas mesquitas calçados, nós nunca vimos isso. Entram calçados porque afinal
traziam produtos e armas brancas, como é o caso de catanas. O primeiro ataque
que aconteceu em Mocímboa [da Praia] foi com recurso à catana e, assim,
roubaram as armas que usaram depois para atacar as forças policiais. Isso tudo
indigna-nos, primeiro, por não entendermos e não sabermos da proveniência e
qual é a causa que os leva a lutar contra o Governo, e agora lutam contra a
própria comunidade, porque vão, batem, arrancam e matam as pessoas indefesas.
DW África: Mas está tudo sob
controlo agora?
DM: Agora está tudo sob
controlo, estamos a trabalhar para garantir que a sociedade viva em paz e que
não continuem com os ataques que vão perpetrando dia após dia, quando entendem.
DW África: O senhor
administrador, conhecedor do terreno, estaria em condições de dizer ou
reconhecer claramente que a soberania do país não está em causa?
DM: A soberania do país não
está em causa e como conheço, de facto, o terreno, [posso dizer] que estamos a
trabalhar para garantir que não haja problemas no futuro. Queremos também que o
investimento continue no nosso país, porque esses [atacantes] só querem retrair
o investimento. São moçambicanos às vezes aliciados a entrarem em movimentos
para retrair o investimento. Sabe que o nosso país tem certos problemas, agora
começar mais um outro problema significa ter de estudar que pessoas somos.
DW África: O Parlamento deve
começar a discutir em breve um projeto de lei contra o terrorismo. Já se
justifica uma lei dessas em Moçambique, tomando em conta esses casos que o
senhor conhece melhor do que nós?
DM: Se queremos viver em paz
então vamos ter de regular. E há essa necessidade de introduzirmos leis para
que cada um sinta que para qualquer erro a sua sanção está numa determinada lei
e por isso mesmo justifica-se uma lei capaz de defender o interesse público e
geral de todos.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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