Martim Silva | Expresso
Bom dia, este é o seu Expresso
Curto desta segunda-feira, 30 de Março de 2020.
Em circunstâncias normais, este seria o meu primeiro dia de férias, para estar
com a minha filha que teria também entrado em Férias escolares da Páscoa. Em
circunstâncias normais estaríamos hoje todos mais sorridentes por termos
acabado de entrar na hora de Verão e vermos os dias estenderem-se até às oito
da noite. Em circunstâncias normais iria hoje ver a minha mãe, que faz 69 anos.
Mas estas não são circunstâncias normais. Nem para mim, nem para si, nem para
ninguém.
Faça-me companhia e venha daí nesta sua newsletter da manhã.
Já que as circunstâncias não são
normais, permita-me o leitor este exercício: as primeiras dez notícias
aqui colocadas vão ser positivas. Claro que falam da pior crise das nossas
vidas, mas vão ser notícias que no meio desta pandemia nos permitem alguma
esperança, ou um sorriso ou um olhar para que o que virá depois.
Por isso destaquei como título desta newsletter uma
frase
dita ontem pelo presidente do Governo de Espanha, Pedro Sanchéz.
No meio da crise, pensar que há uma luz ao fundo do túnel. Um dia a mais é
um dia a menos.
Sim, o depois virá e esperemos que seja rapidamente. Já falta menos um dia
É razoável pensar que chegámos ao
pico. A frase é do primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, em
entrevista
hoje ao El País. Esperemos que tenha razão e que o pior esteja a passar no
país do mundo mais afectado pela doença.
House Party. Esta é seguramente
uma
das apps do momento. Se todos estamos em casa, as novas formas
digitais de comunicar e trabalhar são os dos temas que merecem um olhar.
Afinal, isto é o que mais se aproxima de um abraço que podemos ter agora.
O Governo português
decidiu
regularizar de imediato todos os processos pendentes de imigrantes. O
objectivo é dar a todos os mesmos direitos e obrigações durante o estado de
emergência que vigora. Por cá passou meio despercebida, mas a notícia foi
referida, é elogiada, por imprensa em todo o mundo, como um exemplo de
civilidade e capacidade de acolhimento.
A sociedade e suas organizações
mobilizam-se. O Instituto de Medicina Molecular, da cientista Maria Manuel
Mota, avançou para a
criação
de testes da covid-19 produzidos em Portugal. O Governo fez um acordo
com a instituição e já a partir de hoje vão ser realizados mais testes em
lares um pouco por todo o país (além dos testes que já estavam a ser
feitos). Lares de idosos que são nesta altura uma das principais
preocupações por cá.
Rui Rio deu uma entrevista a
uma televisão. Registo a sua frase, registo o sentido de Estado revelado,
registo o posicionamento de um político que andou anos a dar tiros ao lado mas
agora, quando verdadeiramente interessa, mostra um comportamento exemplar: “Precisamos
de unidade nacional. E o país tem um Governo. Temos de perceber que fragilizar
o Governo é fragilizar o nosso combate. Temos de pôr de lado essa lógica de
oposição”.
O fim do período de quarentena na
província de Hubei. O levantamento, já para a semana, do isolamento da
cidade de Wuhan, onde (ainda se lembra?) tudo começou há uns meses.
A
China vai dando sinais de um lento regresso à normalidade. E se a
normalidade na fábrica do mundo vier rapidamente, pode ser até que no fim todos
saiamos desta crise um pouco antes do que pensávamos.
Há uma ‘avó-milagre’
italiana que aos 102 anos teve covid-19
e
curou-se da doença. "Trabalhei muito, mas pensei também
sempre em divertir-me. Quando podia, diverti-me sempre".
Tal como já tinha sido noticiado
em relação ao crédito à habitação, o mesmo vai suceder com outros créditos,
como o da prestação do carro. Quem tiver redução de rendimentos nesta
altura vai
beneficiar
de uma moratória. Ou seja, não paga agora, paga mais tarde.
(e ainda uma extra)
Lionel
Richie quer gravar um novo We Are The World a propósito da
pandemia da covid-19 (alguns dirão que esta não é uma notícia positiva mas eu
sou daqueles que ainda a canta do princípio ao fim no rádio do carro).
OUTRAS NOTÍCIAS
Desde o início da crise que os dois principais indicadores para percebermos o
impacto da covi-19 são o número de infectados e o número de mortos registados.
Ora, crescem os sinais de que nem um nem outro dado são muito fiáveis. Ou
melhor, que os números que nos apresentam estão longe da verdade.
Que há muito mais infectados que os registados, e falamos do mundo inteiro, já
percebemos e isso prende-se por exemplo com o facto da doença poder ser
assintomática, com o facto de muita gente ficar em casa e não ser testada,
entre outros.
Mas agora cresce por todo o mundo outro debate: é que também o número de
mortos pode não ser o real.
Há a polémica da China esconder os números, que não é de hoje nem é
particularmente difícil de acreditar.
Mas há também esta discussão na Europa, muito centrada à volta de como são
decretados os óbitos e registados os doentes.
Sobre isto há vários artigos que merecem leitura.
Este afirma
que cada país conta os mortos à sua maneira, e que nenhum o faz bem.
Este artigo no
Expresso alerta
precisamente para o problema.
E também este olha para
o
que se passa na Alemanha, que apresenta números particularmente baixos de
vítimas mortais.
Adiante,
Afinal,
quando é
que podemos pensar em contar com uma vacina para a covid-19?
Por ser muito pouco habitual, já que são os mais idosos os mais afectados, foi
notícia a
morte
de um jovem de 14 anos vítima da covid-19.
No debate político nacional, os nomes Rutte e Hoekstra (primeiro-ministro
e ministro das finanças holandês) são agora os mais próximos que existem de um
insulto. Tudo por causa dos debates europeus da última semana em torno da forma
como a União Europeia deve agir e reagir perante a pandemia.
Depois de não terem chegado a acordo, os 27 acordaram dar duas semanas para ver
se um entendimento finalmente cheda. Aqui tem um
perfil
do maior falcão da UE nesta altura.
No seu habitual comentário televisivo dos domingos, Luís Marques Mendes
elogiou
ontem na SIC a forma como António Costa tem gerido esta crise.
No meio da semana, o Parlamento vai renovar o estado de emergência no
país. Este só pode ser decretado por 15 dias. Os primeiros já passaram, mas
como é de toda a evidência, vai ter de ser prolongado.
No fim de semana foi muito comentada a operação da polícia, um pouco por
todo o lado, a fiscalizar automobilistas, mandando-os delicadamente para casa.
Ao que parece, no domingo a coisa já foi mais calma. Tiro o meu chapéu à
forma pedagógica e civilizada como as forças da autoridade estão a agir.
Da última edição do Expresso, quero ainda deixar aqui
este
artigo com 15 perguntas (e respostas, de especialistas nas
áreas) sobre como vai o mundo ficar depois desta crise.
No desporto, ou melhor no que resta agora do desporto, destaque para Cristiano
Ronaldo, que foi figura chave nas negociações entre os jogadores da Juventus e
os donos do clube. O português, ao aceitar uma redução salarial na casa
dos 10 milhões ano, desbloqueou o processo.
OPINIÃO
O QUE ANDO A LER
A Amazon continua, faria se não fosse, a assegurar que os livros que encomendo
me chegam rapidamente. Na última semana, em duas levas, vários dos títulos são
sobre um dos meus temas favoritos dos últimos anos. Donald Trump, pois
claro.
A Very Stable Genius, de dois dos mais experientes jornalistas políticos do
Washington Post, e cujo título é uma citação de Trump sobre si próprio.
Mas também Audience of One, outro livro a analisar o mandato do presidente
dos EUA, escrito pelo responsável da secção de media e televisão do The New
York Times.
E, finalmente “A Warning”, de autor anónimo (um alto responsável da Casa
Branca), uma visão por dentro do que se passa na Administração americana nos
últimos anos e que confirma, com mais dados, detalhes e revelações, o que já
todos sabiamos: Trump não é apto para o cargo que ocupa. Comporta-se como
um bully de 12 anos, sem filto e que gere a maior e mais potente empresa à face
da Terra, o governo dos EUA. Em ano de eleições nos EUA, este é um tema
obrigatório nas minhas leituras. E este Warning é de leitura essencial porque
se é verdade que o país já teve presidentes caóticos, desorganizados e
desonestos, nunca tinha provavelmente tido um chefe de Estado que fosse tudo
isto ao mesmo tempo.
Caro leitor, fico por aqui. Tenha um excelente dia. E não esqueça: ligue aos
seus. Eu vou ligar já à minha mãe a dar-lhe os parabéns.
Gostou do Expresso Curto de
hoje?