quinta-feira, 6 de julho de 2023

A CIDADE DAS SOMBRAS E O OURO DO LOBITO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje vamos falar de sombras. Jenin é uma cidade da Palestina na Cisjordânia. Tem uma história de sombras, revoltas, massacres e mortes. Durante o “Mandato Britânico” a sua população sofreu horrores. Os colonialistas assassinaram, em 1936, o xeque Izz al-Din al-Qassam. A revolta dos palestinos foi afogada em sangue.  Em 25 de agosto de 1938, os ocupantes assassinaram um líder social. Nova revolta popular. As tropas britânicas invadiram a cidade e mataram milhares de civis. Os sobreviventes foram expulsos e milhares de casas foram arrasadas! Poucas ficaram de pé.

Em 1953, a ONU criou na cidade de Jenin um “campo de refugiados”. Na verdade eram civis expulsos das suas terras para nascer o Estado de Israel. Na Guerra dos Seis Dias, os israelitas ocuparam militarmente a cidade. Com os Acordos de Oslo, passou para a administração da Autoridade Nacional Palestiniana. 

Em 2002, Os israelitas lançaram a Operação Escudo Defensivo e ocuparam militarmente a cidade, depois de matarem centenas de civis. Desde então, quando o poder em Telavive está em dificuldades, as forças armadas matam palestinos em Jenin e particularmente no campo de refugiados da ONU, onde a esmagadora maioria da população tem menos de 15 anos. São crianças!

Israel está em plena “operação militar” na cidade de Jenin. A soldadesca já matou dezenas de civis. Joe Biden, Úrsula von der Leyen, Borrel, Charles Michel, o rato de sacristia António Guterres e os líderes do ocidente alargado não dizem que a Palestina foi invadida. Não consideram as agressões militares ilegais. Não dizem que está a ser violado o Direito Internacional. Tanta sombra, tanto sangue, tanta morte na Palestina ocupada!

O líder da Oposição, Adalberto da Costa Júnior discursou ante o seu Governo Sombra na Conferência sobre Geopolítica e Segurança Nacional. Dirigiu-se particularmente “a sua excelência o primeiro-ministro”. Sabem quem é? Raúl Tati, o padre excomungado e terrorista da FLEC.

Adalberto no seu discurso disse isto: “Trinta e um anos depois da realização das eleições multipartidárias de Setembro de 1992, a Democracia em Angola continua tão frágil, e isto constitui um dos maiores perigos com que a sociedade e o Estado se confrontam no presente momento – um espectro capaz de pôr em causa a unidade e a subsistência dos Angolanos. Mas é no actual e corrente ciclo, mais do que em qualquer outra época, que se nota uma maior e clara degenerescência do sistema político nacional e, até, do regime, suas políticas e da nomenclatura que o sustenta”.

Tanta sombra. Tanta manipulação! O chefe dos sicários, Jonas Savimbi, em 1992 perdeu as eleições e decidiu imediatamente matar a democracia ainda no ovo. A UNITA andou dez anos a disparar contra a democracia, para matá-la. Falhou porque o MPLA e o Povo Angolano a defenderam com unhas e dentes. 

Em 2002, os inimigos da democracia foram derrotados mas perdoados. Por isso, Adalberto tem a coragem de dizer que ao fim de 31anos, a democracia angolana está fraca. Ele contribuiu para a fraqueza entre 1992 e 2002. Contribui para isso até hoje. A UNITA odeia a liberdade. Odeia a democracia, Odeia Angola e o Povo Angolano. Quer a ressurreição do regime racista de Pretória e do fascismo e colonialismo de Lisboa. Os amos que serviu, contra Angola. Contra África. Contra os Africanos.

O destruidor da democracia angolana diz: “Só um cego não vê que o Executivo do MPLA, deixou de cumprir com um dos pressupostos legais que consiste na responsabilidade constitucional de garantir e consolidar o Estado Democrático e de Direito em Angola. Deliberadamente, ou apenas por inépcia, o edifício da democracia angolana está claramente em grave crise e ameaça poder ruir!” O veneno da democracia apresenta-se como o remédio salvador. É muito banditismo político!

A hiena diz que odeia carne podre. O mabeco diz que a sua matilha é pacífica e nunca atacou a democracia. Os promotores do banditismo, da sabotagem, da destruição de equipamentos sociais, da arruaça e da desordem dizem que estão preocupados com a segurança nacional.

A Conferência sobre Geopolítica e Segurança Nacional tem como estrelas “generais da UNITA”. São eles Isidro Peregrino Wuambo Chindondo, apresentado como “ antigo chefe da inteligência militar da UNITA”. O assassino às ordens de Savimbi fala de “segurança nacional”. Como se Angola fosse a Jamba. Abílio Kamalata Numa também fala. É apresentado como “cofundador das FAA, em 1992”. O desertor é apresentado como fundador! A UNITA é isto: Mentiras, mentiras, mentiras. Nenhum país progride com uma oposição mentirosa, falsária, destruidora e sempre com as armas apontadas ao coração da democracia.

Hoje o Jornal de Angola publica um texto de Paulo dos Santos, professor de Direito Económico. Muita sombra e alguma luz. Vamos às sombras: “Com uma gestão privada espera-se a prestação de um serviço de melhor qualidade aos utentes, com manutenção regular no caminho-de-ferro, presença de locomotivas mais regulares e pontuais, e um serviço de bilheteria melhor organizado sem necessidade que as pessoas pernoitem ao relento das estações, como muitas vezes tem sucedido”. Se é isto que o professor ensina aos alunos, está a formar idiotas e mentecaptos.

Em que manual de economia está escrito que a gestão privada garante mais qualidade na prestação de serviços? O que garante bons serviços é a competência, a sabedoria, a responsabilidade, a eficácia. O senhor professor ainda nos atira com esta: “Este contrato de concessão poderá fazer renascer o transporte ferroviário transfronteiriço com RDC e a Zâmbia”. Andávamos todos enganados. Eu pensava que o comboio já apitava entre o Lobito e o Luau. Afinal, não. Agora percebi por que razão o general Miala estava na festa da concessão do Corredor do Lobito. Foi prender os gestores que nos enganaram!

O senhor professor também nos deu muita luz. Diz ele que o Estado Angolano recebeu 100 milhões de dólares como “prémio de assinatura” do contrato de concessão. O mesmo que a Ucrânia gasta em munições num dia. Na primeira década da concessão (2023-2033) os cofres públicos arrecadam 319,4 milhões de dólares. O que dá três milhões por ano. O valor de um tanque Leopard última versão baptizada de Hure Úrsula.  

Na segunda década (2033-2043) os beneficiários do ouro do Corredor do Lobito dão a Angola a esmola de 787,4 milhões de dólares. Leiam esta notícia profusamente difundida pelos Media do ocidente alargado: “Os Estados Unidos da América aprovaram a venda de 18 Sistemas de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMAR) à Polónia, país que faz fronteira com a Ucrânia, por 10 mil milhões de dólares”. Portanto, os beneficiários do ouro do Corredor do Lobito pagam em dez anos o valor de um sistema HIMAR.

Na última década (2043-2053) os concessionários do Corredor do Lobito vão pagar ao Estado Angolano 919,05 de dólares. Uns dez aviões F16. Ou menos de metade do que os italianos roubaram aos “oligarcas” russos em 500 dias de guerra na Ucrânia.

Assim todos percebem a dimensão do negócio que eu vou reduzir a esta imagem um tanto infeliz mas a mais certa: Angola ofereceu aos concessionários do Corredor do Lobito um porco gordinho e anafado. Em 30 anos vão devolver um chouriço. Se tudo correr bem. O Savimbi acreditava em bruxas e acabava com elas nas fogueiras da Jamba. Eu não acredito. E se há bruxas, são seguramente os sicários da UNITA disfarçados de mulheres. 

O embaixador dos EUA em Luanda teve honras de telejornal na TPA para dizer isto: “Vamos investir 250 milhões de dólares no Corredor do Lobito!” O homem pensa que está a anunciar uma esmola aos refugiados do Sudão.

*Jornalista

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