sexta-feira, 7 de julho de 2023

Angola | CORRIDA AO CORREDOR E O PROTECTORADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os empresários angolanos fazem as malas à pressa e viajam a todo o gás para Benguela a fim de beneficiarem do Corredor do Lobito, agora nas mãos de empresas dos EUA, Portugal, Suíça e Bélgica. Quando chegam à cidade de Augusto Bastos (foi ele que enquanto presidente da Câmara mandou plantar acácias rubras nas ruas…) arregaçam as mangas e recolhem os bagos de jinguba que os estrangeiros deixam cair ao chão. 

Turistas de todo o mundo avançam para Angola depressa e em força. Querem ver o Corredor do Lobito. Querem dormir nos hotéis de luxo construídos do dia para a noite. Com sorte ainda encontram de pé o hotel construído pelo empresário Carlos São Vicente. Tudo quanto é turista fica de boca aberta quando vê o progresso que desde ontem se instalou na região. O governador Luís Nunes recebe cada turista com um ramo de flores. É o orgulho de ser benguelense elevado ao último patamar. E todos suspiram: O que seria de nós sem o Presidente João Lourenço!

O canal ferroviário entre o Lobito e Luau está concluído, novinho, pronto a ser usado, graças ao investimento de 250 milhões de dólares despachados pelo Joe Biden. As locomotivas chegaram ao Lobito todas engalanadas, apitam e roncam. Graças aos investimentos de belgas, portugueses, suíços e norte-americanos. O povo embasbacado olha para os comboios. Nunca se tinha visto nenhum nestas paragens. Quem queria ir do mar ao Leste usava tipoias, bois-cavalos ou ia a pé. O que seria de nós sem Biden e o amigo João Lourenço?

O senhor ministro Ricardo Abreu divulgou, solenemente, quem são os angolanos que fazem parte da empresa Mota Engil África. Isto sim é transparência. Isto é combate à corrupção puro e duro. Já me esqueci quem são os nossos ricaços que vão enriquecer mais ainda com o Corredor do Lobito. Eu fui convidado para entrar no consórcio mas recusei. Estou muito ocupado no combate à corrupção.

Neste momento estou em condições de divulgar que o país mais corrupto do mundo chama-se Estados Unidos da América. Na lista oficial está em 24º Lugar dos mais corruptos. Mas comanda todos os outros do ocidente alargado e, para mal dos meus pecados, agora também Angola. A querida Ucrânia, joia dos negócios de Biden e seu filho, está no 131º lugar da lista. O Kosovo, onde o estado terrorista mais perigoso do mundo tem a maior base militar fora de portas, está no mesmo posto. Grécia ocupa o 90º lugar, Itália (60º) Roménia (57º), Letónia e Geórgia (44º), Espanha (41º) Lituânia (38º) Taiwan (31º) Polónia e Portugal (29º).

Os EUA implantaram na América Latina os regimes mais corruptos do mundo, até soprarem os ventos da libertação. Na Ásia o mesmo filme. Onde está a pata do estado terrorista mais perigoso do mundo, floresce a corrupção. Na Europa nem se fala. Os governos dos países OTAN (ou NATO) e da União Europeia trabalham todos na corrupção para engordar o “amigo americano”. 

Quando eu era miúdo conheci três angolanos negros milionários: O senhor Teta do Uíge, o senhor Moka do Bindo e o senhor Príncipe do Golungo Alto. Unkuanxi Teta tinha um Ford Mercury descapotável e rabo de peixe. Usava relógio de ouro no bolso do colete, preso de um grosso cordão também de ouro. Riquíssimo.

Tenho muito orgulho, nos ricos angolanos. Um dia seremos todos ricos, todos teremos o essencial para uma vida digna. Mas até lá os nossos ricos são a marca das grandes conquistas dos angolanos, desde a Independência Nacional. 

Hoje vou pedir, implorar de joelhos aos nossos ricos, que façam uma vaquinha e devolvam os 250 milhões de dólares que o estado terrorista mais perigoso do mundo investiu no Corredor do Lobito. Não custa nada e durante 30 anos recebem vocês os biliões a troco do dinheirito que serviu de isco à negociata. Sãos uns trocos e fica a honra de todos lavada. Não passamos pela vergonha de todos os dias a TPA nos dizer que graças ao Joe Biden e ao Presidente João Lourenço, os EUA “investiram” 250 milhões no Corredor do Lobito.

Tulinabo Mushingi (cá na banda chamam-lhe Muxinga) é o representante em Luanda dos negócios do estado terrorista mais perigoso do mundo e seus sequazes internos. Por ocasião do aniversário dos EUA fez um discurso, divulgado pela Voz da América, no qual trata Angola como o seu novo protectorado para fazer concorrência aos oportunistas da Lunda.

O novo dono sentado no trono donde foram afastados os colonialistas portugueses deu o programa para a sua colónia de Angola: “Fortalecer a diplomacia comercial, a segurança e a boa governação; melhorar o clima de negócios; promover intercâmbios bidireccionais povo a povo; apoiar os esforços na promoção da transparência para combater a corrupção; promover a liberdade de imprensa e apoiar a democracia de Angola, incluindo as eleições autárquicas”. Esqueçam o programa de governo do MPLA sufragado por uma maioria absoluta de eleitores. 

O senhor Tulinabo não quer saber do Poder Tradicional. Isso no estado terrorista mais perigoso do mundo não conta. Porque os donos da terra foram esmagados, espoliados, assassinados. Os poucos que sobraram estão presos em “reservas” à espera do John Wayne e do Roy Rogers para fazerem uma coboiada das antigas.

Os nossos sobas existem mesmo. São respeitados. Eleitos! Na infância e adolescência convivi com alguns oriundos de uma linhagem de líderes tradicionais. Meu Pai não ia a uma aldeia sem levar uma prenda para o soba e a sua esposa favorita. Sem o consentimento do soba não havia braços abertos, boas-vindas, permutas. Nada. Cuidado com os conflitos de interesses. Sou cem por cento a favor do municipalismo. Mas em Angola o Poder Local jamais pode ignorar o Poder Tradicional. O senhor Tulinabo pensa que somos todos índios em extinção. Mentira. Os africanos são a esperança de manter a espécie Humana. 

O novo governador “Agapito” do protectorado Angola expressou o orgulho dos EUA por estarem “a apoiar o compromisso de Angola erradicar a corrupção”. Este ainda não sabe que o seu país acaba quando acabar a corrupção. Ou sabe mas quer comer tudo e não deixar nada.

A rede viária nacional está mais concorrida do que nunca. Milhares de camiões circulam em todas as estradas, carregados de mercadorias. Jamais se viu tanto movimento. Apesar desta realidade, só oiço falar em fome e carências. Bancarrota. Alguém está a esconder a verdade. Sobretudo quem tem o dever de informar.

A propósito, vou abusar da vossa paciência (sou um Catilina desbocado) e explicar que comunicar é fazer circular a informação. Sem informação não há vida. Não há democracia. Não há corredor do Lobito. Não há nada. Comunicar não é paleio papagueado por debutantes da política. 

Isso de “comunicar melhor” é conversa fiada. Não existe comunicar melhor ou pior. Só comunicar.  Mas é preciso saber, antes do mais, que informar é vida. Sem informação não há nada. Comunicar é alimentar a vida. Dar força à democracia. Gostava de saber por que razão escondem a pujança da economia visível nas estradas de Angola. Alguém que come no prato anda a tramar o MPLA!

Catilina volta à carga. Quando os sicários da UNITA matavam milhares de angolanos ao serviço dos colonialistas portugueses e depois dos racistas de Pretória, milhões de pessoas fugiram das suas zonas de origem para Luanda. A capital tornou-se um porto de abrigo. Um paraíso de quem fugia da fúria assassina de Jonas Savimbi.

Alguém me explique como foi possível que esses refugiados, esses flagelados pelos assassinos do Galo Negro tivessem votado maioritariamente na UNITA. Eles têm razão. Só pode ter havido fraude eleitoral!

*Jornalista

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