segunda-feira, 3 de julho de 2023

Blanchard: "A França tem uma longa história de racialização do controle policial"

Emmanuel Blanchard em entrevista

Em entrevista ao "Le Monde", o cientista político acredita que a história colonial deve ser levada em conta para entender por que o número de pessoas mortas por policiais é maior na França do que em outros países europeus.

Entrevista por Anne Chemin | Le Monde | # Traduzido em português do Brasil

Vice-diretor da Sciences Po Saint-Germain-en-Laye, Emmanuel Blanchard é professor de ciência política na Universidade de Versalhes-Saint-Quentin-en-Yvelines e pesquisador do Centro de Pesquisa Sociológica em Direito e Instituições Criminais. É autor de La Police parisienne et les Algériens, 1944-1962 (Nouveau Monde, 2011) e de uma História da Imigração Argelina na França (La Découverte, 2018).

A lei de 2017 afrouxou as restrições aos policiais no uso de suas armas. Na sua opinião, incentivou abusos?

Desde 2017, sociólogos e jornalistas documentaram um aumento significativo de tiroteios fatais relacionados a recusas de cumprimento. Essa flexibilização das condições de uso de armas não levou a um aumento aleatório dos tiroteios: eles se concentram nas populações mais controladas, especialmente jovens percebidos como negros ou árabes. O uso de armas de fogo faz parte de um continuum de violência que atinge uma pequena parcela da população. O legislador deveria ter antecipado os vieses étnico-raciais de tal endurecimento da segurança: há mais de quarenta anos, crimes racistas e violência policial são denunciados como geradores de cidadania de segunda classe por descendentes de imigrantes particularmente mobilizados nessas questões.

Na sua opinião, isso é um legado da história colonial da França?

A França tem uma longa história de racialização do controle policial. Se não levarmos em conta a história colonial, não compreendemos por que razão o número de pessoas que morrem em interações com polícias é, em França, muito superior – duas a cinco vezes – do que em países europeus como a Alemanha ou o Reino Unido. A França era uma capital imperial cujos nativos também eram nacionais que vinham às centenas de milhares para procurar emprego na França metropolitana, onde eram amplamente considerados indesejáveis, especialmente no caso da imigração argelina.

Ler entrevista completa em Le Monde

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