sábado, 12 de agosto de 2023

Angola | O Magnífico Assassino da Jamba – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A  Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) foi uma boa ideia de João Lourenço para enlamear os seus antecessores, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. No tabuleiro de jogo colocou bispos, uma rainha do munhungo (morta), burros disfarçados de cavalos e os peões do costume (na comunicação social) que bebem muito, gastam muitíssimo mas valem pouco. Francisco Queiroz virou o tabuleiro, atirou com tudo ao lixo e agora é artista das letras. Pelo menos não dá tantos pontapés na gramática como o Agualusa. 

Os conflitos políticos em Angola surgidos após 11 de Novembro de 1975 foram resolvidos por si e, é bom reconhecer, pelo estado de necessidade. Depois de tantos anos de guerra que culminaram com a morte de Jonas Savimbi em 2002, as angolanas e os angolanos não mais quiseram saber de conflitos nem familiares quanto mais políticos. O povo é sábio e pelo que vejo, os guardas dos ricaços jogam melhor xadrez do que o Presidente João Lourenço. Pelo menos não partem as peças nem matam a memória do rei.

A senhora da extorsão e destruição de activos anda a vender o que não pode. Qualquer dia leiloa os ajudantes do Titular do Poder Executivo e sem se deter vende as deputadas e os deputados a quem der mais. Um sicário da UNITA assinou um artigo de opinião onde insulta gravemente as deputadas do Grupo Parlamentar do MPLA chamando-lhes “vendedoras”.

 Esta é a minha batalha perdida. Ainda não consegui convencer as autoridades e a auto regulação de que os crimes contra Direitos de Personalidade são gravíssimos. O Direito à Inviolabilidade Pessoal radica na Constituição da República. Os jornalistas e os Media não podem violar a sua projecção física (Direito à Imagem e à Palavra Escrita e Falada), a sua projecção moral (Direito à Honra, Bom Nome e Consideração Social) e a projecção vital (Esferas Privada, Pessoal, do Segredo e História Pessoal). Uma secção da CIA chamada Human Rights Watch  teve a desfaçatez de afirmar que condenar um criminoso por difamação é atentado à liberdade de expressão! 

Para quem vive de rastos, de boca aberta à espera que lhe caiam uns bagos de jinguba, de facto não existe honra, não existe bom nome. Não existe respeito nem consideração social. O problema é que o Direito à Honra tem respaldo na Constituição da República. O Poder precisa de proteger a sua criadagem nos Media e por isso os atentados (às vezes terroristas!) contra o Direito à Inviolabilidade Pessoal são punidos com bagatelas penais. Há pouco mais de 100 anos difamar e caluniar eram crimes lavados com sangue em duelos à pistola. 

Hoje o bicho Homem vale menos que nada. E está vazio graças ao processo de vitrificação humana iniciado com o triunfo do audiovisual. Os cordeiros vão para o sacrifício ante as câmaras e mostram tudo, até os seus jardins secretos. Abdicam do Direito à Inviolabilidade Pessoal a troco de uns segundos de fama. A verdade é esta: Os chamados crimes por abuso da liberdade de imprensa são tiros de monakaxito nos Jornalistas e no Jornalismo. Adiante.

A Dona Vera  Daves disse na quinta-feira que obras públicas com menos de 80 por cento de execução ficam congelados este ano. Ontem o Presidente João Lourenço foi ao Cunene e desmentiu-a. As obras estruturantes de combate à seca vão continuar e ele estará na província, em Dezembro do próximo ano, para inaugurar os equipamentos que chegam com 100 anos de atraso. Parece mal a ministra dizer uma coisa e o Presidente da República o contrário. Mas isso é o menos. Mais grave é a senhora ministra das Finanças não saber o que este velho repórter formado na escola da notícia sabe há muitos anos: Em tempo de recessão, de grave crise social, o Estado deve fazer vultuosos investimentos públicos!

A dona Vera faz ao contrário, corta os fundos aos projectos em marcha. Paralisa tudo. Mais desemprego, mais miséria, mais recessão. A senhora ministra das Finanças tem de trançar menos e pensar mais. Se não sabe, pergunte a Manuel Nunes Júnior, seu colega na direcção do MPLA. Não indico mais nenhum nome porque o General Miala pode sair da Jamba, onde anda à procura de ossadas, e prende todos os economistas pensantes.

Voltamos à CIVICOP. O 27 de Maio de 1977 foi um conflito político, sem dúvida. Um golpe de estado militar tem tudo a ver com conflito e com política. Mas a tal comissão nasceu para destruir a imagem de Agostinho Neto e não para conciliar seja o que for. As primeiras eleições multipartidárias provaram que não existia nenhum problema sério na sociedade angolana causado pelo golpe de estado, a sua contensão e derrota dos golpistas. O partido que juntou os restos desses racistas (PRD) apenas elegeu um deputado. Teve uma votação residual. E nas eleições seguintes foi extinto por faltas de votos!

A CIVICOP serviu para fazer dos criminosos vítimas e das vítimas criminosos. Mais nada do que isso. Ninguém quer no poder uns racistas que abriram a caça aos mestiços e o seu líder, Nito Alves, dizia que Angola só seria independente quando os brancos andassem a tirar lixo das ruas. E Agostinho Neto não podia ser casado com uma branca! O resto é negócio de ossadas e banditismo político. Querem apagar a figura de Agostinho Neto da nossa memória colectiva. Missão impossível.

O General Miala foi à Jamba com a CIVICOP à procura das ossadas de vítimas dos conflitos políticos. Eu sei que o chefe da segurança interna é um básico que cristaliza no sistrema monoclínico. Mas convém não exagerar. Porque na Jamba não houve qualquer conflito político. Existiram sim, gravíssimos crimes contra a Humanidade. Aquilo era um campo de concentração criado pelo estado terrorista mais perigoso do mundo e os racistas da África do Sul. Uma prisão. Um centro de extermínio. Um presídio onde os prisioneiros eram sujeitos a trabalhos forçados. Também paraíso do tráfico de droga e diamantes.

As dezenas de mulheres queimadas vivas, algumas com os seus bebés, não entraram em nenhum conflito político. Morreram porque Savimbi odiava encarar as elites femininas da UNITA. Muitas dessas mulheres tinham o curso geral do liceu (quinto ano), o curso completo das escolas comerciais ou industriais, das escolas do magistério primário, o curso complementar do liceu, frequentaram cursos superiores. Ou tinham licenciaturas. 

Ao contrário do que disse Adalberto da Costa Júnior, mentindo com total desfaçatez, Savimbi não foi para Portugal “continuar os estudos superiores”. Ele era aluno do sexto ano do Liceu Diogo Cão no Lubango e foi transferido ainda no primeiro período. Em Lisboa nesse ano lectivo só fez uma cadeira: Organização Política e Administrativa da Nação (OPAN). Chumbou às outras cinco. Perdeu-se na boémia lisboeta e começou a vidrar-se pelo álcool, muito barato no país do vinho. Quando fugiu de Portugal estava nessa posição: Chumbado no sexto ano. Nem fez os dois anos do curso complementar que dava acesso ao Ensino Superior. Algum tempo depois era o “doutor Savimbi” porque uma qualquer instituição suíça lhe passou um papel só para pretos dizendo que era licenciado. Tudo mentira como sempre foi a vida do finado criminoso de guerra.

Imaginem como se sentia o falso doutor, predador sexual, quando encarava jovens mulheres com iguais ou mais habilitações do que ele. Matou-as todas para não haver quem soubesse tanto ou mais do que ele. Mas também as matou por se recusarem a ser suas escravas sexuais. Por não quererem trair os seus companheiros. Por não querem trair os seus valores morais. Isto tem alguma coisa a ver com conflitos políticos? Nada.

O extermínio da família Chingunji nada teve a ver com conflitos políticos. O velho Jonatão foi entregue por Savimbi à PIDE (com quem colaborava ao mais alto nível) porque teve medo da sua influência na UNITA. Penou no Tarrafal. A esposa foi para o campo de concentração de São Nicolau. O chefe do Galo Negro, temendo que tudo se soubesse, mandou matar todos os membros daquela família. Conflito político? Não. Colaboracionismo com o colonialismo e as suas forças de repressão. Traição pura e dura.

A morte de todos os outros dirigentes da UNITA apenas se deveu à crueldade de um psicopata assassino guindado pelos brancos a grande chefe guerrilheiro. A morte à paulada dos generais da UNITA tem a ver com abusos de um homicida sedento de sangue. Enterrar viva Dona Isabel Paulino, sua esposa, foi mais um gesto de selvajaria do assassino psicopata. Do criminoso de guerra. O herói da direcção da UNITA. Todos coniventes. Todos assassinos quando tiverem a oportunidade de matar e exterminar.

A CIVICOP não está a fazer nada na Jamba. Em rigor, nesta altura do campeonato não serve para nada em lado nenhum. O Francisco Queiroz conta o dinheiro do negócio e João Lourenço conseguiu revelar a sua face de vingador e ganancioso. O que fica mal a um Chefe de Estado. Mas com essa parte podemos bem. Também fica muito mal ao líder do MPLA, partido libertador, promotor da Justiça e da Paz.  

Ponto final. Dona Vera Daves aconselho vossa excelência a ler rapidamente o programa de governo apresentado pelo partido aos eleitores. Aprenda, tão depressa quanto possa, os estatutos e ideário do MPLA. Pode ler esse documento guia enquanto está no salão da tia Núria a trançar o cabelo. E se puder, além de trançar comece a pensar. Em recessão o governo tem de multiplicar os investimentos públicos e reforçar as políticas sociais. Nada de cortar, congelar ou cativar. Vossa excelência está ao serviço do Povo Angolano, não do FMI. Nunca esqueça que se a percentagem da dívida for um milhão por cento do PIB, mesmo assim os esclavagistas colonialistas e ladrões ainda nos ficam a dever um bilião de vezes mais.

*Jornalista

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