sábado, 2 de setembro de 2023

FOGO DO DRAGÃO E O BEIJO ROUBADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Há tantos anos que já lhes perdi a conta, fazia o jornal do Futebol Clube do Porto. Nessa altura Armando Pimentel e Monteiro Pinho, membros da direcção, desafiaram-me a lançar uma revista a cores, com o artista gráfico Hélder Bandarra. Com os olhos no emblema, propus que a publicação se chamasse “Dragões” porque os grandes clubes de Lisboa eram identificados por bichos, a águia e o leão. Aprovado! De tal maneira que a partir dessa data os “andrades” (forma depreciativa de identificar os portistas) passaram a lançar fogo pela boca. E hoje o estádio das Antas é a casa do Dragão.

Um dia entrevistei uma campeã da natação, menina educadíssima, tão inteligente que com 18 anos já estava na Universidade. Depois da entrevista fomos para o estádio porque havia um jogo de futebol. A menina passou o jogo todo a insultar o árbitro e os jogadores adversários que faziam faltas contra o Gomes, o Madjer e o Juary, com palavras soezes. Uma autêntica lançadora de impropérios pela boca, em vez de fogo! Aquilo era paixão pelo FC. Porto. As paixões transformam bichos feios em príncipes, bruxas assustadoras em belas adormecidas. As paixões no futebol são ainda mais transformadoras.

O mundo decadente do ocidente alargado está enredado num gesto e num beijo. O presidente da Federação Espanhola de Futebol, na tribuna de honra do estádio, levou a mão à ferramenta sexual quando as futebolistas inglesas foram derrotadas pelas espanholas na final do mundial. Que horror! Ao lado dele estava uma antiga apresentadora de televisão, esposa de um rapagão que usurpou a coroa de lata do pai e agora diz-se rei de Espanha. A filha do casal supostamente real dava saltos de alegria pela vitória das futebolistas espanholas. Imitava o Luís Rubiales mas sem levar as mãos à passarinha. 

Segundo acto desta ópera bufa. Bufões de todo o mundo exigem o enforcamento de Luís Rubiales na trave de uma baliza, com o estádio cheio. O presidente da federação espanhola de futebol, depois de abraçar e beijar cada jogadora, viu-se frente a frente com uma futebolista que falhou um penalti. O seu falhanço podia ter deitado tudo a perder. Face à inditosa marcadora de penaltis, Rubiales abraçou-a efusivamente. Ela levantou-o do chão e mostrou igualmente uma alegria efusiva. Antes de seguir viagem, atleta e dirigente encostaram os lábios. Crime! Agressão sexual! Prendam e enforquem o beijoqueiro! A beijoqueira está absolvida do penalti falhado e do beijo sem língua na boca.

A ONU acaba de se pronunciar sobre o beijo. A ministra do trabalho do governo espanhol exige vingança. Cabrão do homem a beijar uma mulher! Fogueira com ele. A FIFA colocou Rubiales no purgatório. Daqui a 90 dias vai para o inferno. Nunca se tinha visto nada igual. Um dirigente desportivo agredindo sexualmente uma atleta, ao vivo, em directo, à vista de todos. Agressão sexual dolorosa. A maka é que o Rubiales diz que também foi agredido e agora a ferramenta sexual está praticamente morta. Frouxa. Preguiçosa. Um mal nunca vem só.

A futebolista Hermoso nunca mais acerta na bola e falha todos os penaltis. Destruíram a sua carreira desportiva com um beijo instantâneo. Isso de ser campeã do mundo não conta para nada. Não vale nada. O beijo sim é um acontecimento marcante. Acho que os russos estão metidos na tramoia.

Vou fazer uma confissão. As minhas costas excitam-se com muita facilidade. Ao mínimo toque ficam tão excitadas que fico com cãibras nos lombos e nas partes baixas. Ontem contei o dinheiro que tenho até ao final do mês e chegou a quatro euros e 80 cêntimos. Fui comprar fruta. Estava a apreciar os preços das maçãs e verifiquei que eram mais caras que as armas despachadas pelo estado terrorista mais perigoso do mundo para a Ucrânia. Desisti. O custo de vida aumenta e a minha carteira não aguenta.

Os meus pensamentos negativos foram interrompidos quando senti alguém roçar pelas minhas costas. Era uma cliente toda descascada, preparadas para a praia. Senti uma sensação nas costas tão forte que me enlouqueceu. Berrei para o merceeiro: Chamem a ambulância! Chamem a ambulância! A mamuda tentou fazer-me respiração boca a boca e aí desmaiei. Fui agredido sexualmente na mercearia do bairro, em frente à bancada da fruta! Os sacanas da ONU não me defendem. Os ministros e ministras nada. A FIFA silêncio. Nem os amigos mandam uma menagem de solidariedade! O mundo está perdido.

Finalmente as autoridades competentes descobriram que Jonas Savimbi foi um assassino em série, um traidor nato, um criminoso de guerra sanguinário. Passados tantos anos, tomaram consciência de que a UNITA é uma organização criminosa cujos dirigentes cometeram ou encobriram crimes contra a Humanidade. Foram saber das ossadas dos generais Antero, Tarzan, Bock e outras vítimas do assassino cruel Jonas Savimbi. Encontraram os restos de Dona Isabel Paulino. Vão ter muito que procurar e identificar milhares de vítimas. 

Agora têm que ir atrás dos milhares de milhões dos diamantes de sangue. Esse dinheiro tem de ser apreendido e depois investido no Mundo Rural, sobretudo nas zonas onde os assassinos da UNITA cometeram mais crimes. Se os sicários da UNITA tiverem de responder pelos seus crimes, se os milhares de milhões roubados ao Povo Angolano regressarem aos cofres do Estado, somos todos postos em sossego. Porque as e os escribas que se dedicam à mentira, à falsificação e à calúnia mudam de vida. Não têm grandes hipóteses além da droga e da prostituição. Mas isso é lá com elas e com eles.

O senhor Presidente da República insiste em falar da guerra na Ucrânia como se estivesse ao nível dos “enviados” à Ucrânia disfarçados de jornalistas. Ou comentador pago à peça. Mesmos sabendo que tem gente de alto gabarito na Presidência da República quero sublinhar alguns factos que se não conhece devia conhecer.

Moscovo chama “operação militar especial” à intervenção na Ucrânia porque se declarar guerra aos nazis de Kiev o país desaparece do mapa, mesmo recheado de armas do ocidente alargado. E isso custa a vida a milhões de russos ucranianos.

O conflito armado na Ucrânia começou em 2014, na sequência de um golpe de estado que subverteu a ordem constitucional e derrubou o presidente eleito. Senhor presidente, em Kiev aconteceu o mesmo que no Níger, no Burkina Faso ou no Mali. Mas vossa excelência não diz que o golpe na Ucrânia foi obra do terrorismo internacional, como fez com os nossos irmãos africanos. Fica-lhe muito mal essa dualidade de critérios para o lado dos brancos e loiros.

Em 2014, os golpistas de Kiev iniciaram uma limpeza étnica no Leste do país, onde as elites políticas proclamaram a independência das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. As hordas nazis foram denunciadas pelo Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Leia os relatórios, por favor. Daí a operação militar especial para desarmar e desnazificar a Ucrânia.

A população da Crimeia e do Leste da Ucrânia é russa. A cidade de Odessa é russa. A população da Ucrânia é, em grande número, russa ou falante de russo. Essa parte está a ser exterminada desde o golpe de estado que violou a Constituição e o Direito Internacional, em 2014. 

A OTAN (ou NATO) iniciou um movimento de cerco à Federação Russa, logo no dia seguinte à implosão da União Soviética, onde vossa excelência estudou e se licenciou em História. À medida que o bloco militar ao serviço do ocidente alargado destruía países e assassinava os líderes políticos, governantes de Moscovo perceberam que tinham de travar esses avanços por estar em causa a existência do país. A OTAN (ou NATO) destruiu o Iraque, a Jugoslávia, a Líbia, a Síria. Recordo a vossa excelência que o o apoio do Marechal Tito às FAPLA foi crucial para triunfarmos na II Guerra de Libertação Nacional (entre o 25 de Abril de 1974 e 11 de Novembro de 1975).

Os russos não invadiram a Ucrânia. Os russos nascem, crescem e vivem na Ucrânia há séculos. O ocidente alargado, sim, invadiu. Os nazis de Bruxelas declararam sem gaguejar: “Temos de infringir uma derrota estratégica à Federação Russa”. Ainda ontem o presidente Macron disse empolgado: “A Rússia não pode ganhar esta guerra. Temos de dar à Ucrânia tudo o que for preciso e enquanto for preciso, para ganhar a guerra!” Vossa excelência é general e não ganhou as estrelas fazendo guarda às instalações da OMA. Por isso sabe o que é “uma derrota estratégica”. Os seus novos parceiros do ocidente alargado, que agora descobriram a existência do Direito Internacional, querem mesmo riscar a Federação Russa do mapa.

O Presidente João Lourenço diz que a guerra na Ucrânia causa a fome em África. Está enganado. Os cereais ucranianos eram exportados para os países ricos. A África chegavam umas migalhas. Repetir acefalamente os argumentos de Biden e dos nazis da União Europeia fica-lhe mal. Dá de vossa excelência uma imagem que, eu sei, não corresponde à realidade. Ao rebaixar-se desta maneira, só pode estar fora de si. Aconselho fraternalmente um médico do foro psiquiátrico. 

A Federação Russa não vai retirar da Ucrânia. Nem de territórios habitados por russos, lares dos russos. Sabe como vai acabar este conflito, Presidente João Lourenço? A OTAN (ou NATO), a União Europeia e os EUA vão ter de assinar um papel onde garantem que a Ucrânia jamais fará parte da União Europeia. A Ucrânia jamais será membro da OTAN (ou NATO). Washington não manda nem sequer uma fisga para a Ucrânia. 

Quanto aos nazis esses estão a ser torrados na operação militar especial. Já poucos restam. Espero que vossa excelência não vá ao funeral do último “Bandera”, “Sector Direita” ou “Batalhão de Azov”. Mas fica-lhe bem pedir ao General Foge a Tempo que dê emprego ao Zelensky nas suas comédias. 

*Jornalista

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