terça-feira, 21 de novembro de 2023

Angola | As Vidas do Falsário e a Impunidade – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As vidas de Abel Chivukuvuku! Eis as mentiras despudoradas, as falsificações da História Contemporânea der Angola. Ontem, no espaço Camões (perdoa-lhes, poeta, eles não sabem o que te fazem) foi lançada a biografia do ex futuro dirigente da UNITA. Aldraberto, o mentiroso compulsivo e Zeca Mulato, o salvador, são apenas manobras de diversão. 

Na sessão de lançamento das vidas, Marcolino Moco declarou solenemente que foi um acto de grande coragem publicar o livro. Nunca disseste uma verdade tão cristalina! É preciso ser mesmo muito corajoso para mentir tanto e tão irresponsavelmente. Eles massacram Angola impiedosamente mesmo agora, quando João Lourenço se ajoelhou ante o estado terrorista mais perigoso do mundo. Querem mais!

Marcolino Moco podia ter revelado uma vida menos conveniente da vida de Chikuvuku. Era ele o indigitado primeiro-ministro por ser cabeça de lista do MPLA, partido que ganhou as eleições, quando o então dirigente da UNITA Abel Chivukuvuku ameaçou reduzir Angola a pó e balcanizar o país, se fossem publicados os resultados eleitorais.

Eu estive no Sambizanga poucos minutos depois de Abel Chivukuvuku ser levado para o Hospital Militar, gravemente ferido. Ainda encontrei os cadáveres de Jeremias Chitunda, Salupeto Pena, guardas e motoristas. Vou contar duas versões que então recolhi. Primeira. Vários carros de alta cilindrada com dirigentes da UNITA saíram do Miramar e de São Paulo em direcção à estrada de Cacuaco. A população estava armada e vigilante. Sabia-se que os golpistas do Galo Negro iam tentar atingir os locais de acantonamento das suas forças, naquela direcção. 

A coluna entrou na zona do Sambizanga com os guardas disparando pelas janelas das viaturas para os dois lados da estrada. A população emboscada também disparava. Nenhum conseguiu passar. Chivukuvuku ficou gravemente ferido e vários jovens tentaram linchá-lo. Foi salvo pelo oficial das FAPLA Faísca que o recolheu num blindado e levou para a Hospital Militar. Foi imediatamente submetido a intervenções cirúrgicas. Os médicos conseguiram salvá-lo. Ele estava mesmo em mau estado.

Outra versão que na altura desvalorizei mas que sei hoje ser a real. A viatura onde Abel Chivukuvuku seguia foi alvejada. O motorista e os guardas foram atingidos mortalmente. Chivukuvuku ficou gravemente ferido. Também porque o carro capotou. O acidente aconteceu perto do posto da Polícia Nacional. Os agentes socorreram o ferido e pediram a sua evacuação urgente. Tinha ferimentos graves nas duas pernas. Um oficial que na época era o segundo comandante provincial da polícia, foi num carro patrulha recolher o ferido e levou-o para o Hospital Militar.

Ontem os falsários apresentaram um tal “Zeca Mulato” como o seu salvador! E o Chuvukuvuku mais uma vez afirmou que Deus o salvou porque lhe deu a missão de salvar Angola! Numa das vidas de Chivukuvuku ele fez o que não fez e foi o que não era. Contou pormenores do Acordo de Lusaka. Mas nessa altura já era um “traidor” que ficou em Luanda em vez de se juntar aos bandoleiros que seguiram Jonas Savimbi até o longo braço da lei acabar com a sua longa vida de criminoso nas matas do Lucusse.

Chivukuvuu era da UNITA e não era. Mas nunca se sentou à mesa das negociações de Lusaka que deram o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Como a direcção do Galo Negro o rotulou de traidor, não entrou nesse governo. Nada. Nesta altura Deus ainda não queria que ele salvasse Angola.

A UNITA regressou à guerra quando foi derrotada nas eleições de 1992. Ocupou militarmente vastas áreas de Angola porque Deus ainda não tinha dado ao Chuvukuvuku a missão de salvar Angola. Savimbi ocupou as minas da Lunda Norte e todos os dias os seus comparsas no negócio dos diamantes de sangue iam buscar o produto do saque. Milhares de milhões de dólares foram roubados ao Povo Angolano. A extensão da administração do Estado a todas as províncias exigiu que a UNITA saísse também das regiões diamantíferas. Chivukuvuku não nada disso, mas no seu livro diz que o Presidente José Eduardo dos Santos pediu a Lunda!

Mentiras, falsificações, pisoteio da História Contemporânea de Angola. Até quando? Ontem um Tribunal da Federação Russa condenou a “activista” Scochilenko Alexandra a sete anos de prisão por “difundir notícias falsas sobre as Forças Armadas”. A Assembleia Nacional tem que aprovar urgentemente legislação que proteja os órgãos de soberania e seus titulares. Mas acima de tudo que puna falsificações grosseiras e deliberadas da História Contemporânea de Angola. É uma questão existencial.

Os falsificadores da nossa História gozam de total impunidade. O deputado da UNITA Lourenço Lumingo usou da palavra na Assembleia Nacional e chamou ladrões aos membros do Executivo e aos deputados do MPLA “com cara de honestos”. Depois do chorrilho de insultos rematou:

“Eu pergunto a todos cá presentes. Qual é o País onde os Juízes são corruptos? Angola. Qual é o país que as Forças Armadas são partidárias? ANGOLA. Qual é o país onde tem corruptos a trabalharem com o Presidente da República que combate a corrupção? Angola. Qual é o país onde tem comunistas pensando que são democratas? Angola. Qual é o país cujo partido no poder mata, persegue e massacra vozes contrárias? Angola. Qual é o País onde o Serviço de Instrução Criminal faz patrulhas nas redes sociais para prender pessoas inocentes? Angola”. Aconteceu mesmo!

Na Faixa de Gaza continua imparável o genocídio. Os nazis de Telavive têm carta branca para o genocídio. A troco de quê? Ainda não se sabe. Mas a Humanidade assiste em directo ao extermínio de um povo. Sem querer tirar o sono a ninguém, informo que os criminosos não são apenas os nazis de Telavive e os mandantes de Washington com nome e rosto: Biden, Blinken e Austin. Somos todos culpados. Cúmplices desta monstruosa limpeza étnica. Ravachol, o anarquista radical, tinha razão: Sob a luz do sol e o luar não há inocentes.

* Jornalista

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