segunda-feira, 6 de novembro de 2023

As Verdades dos Livros Sagrados -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O largo à entrada do Hospital Al Shifa na cidade de Gaza foi atacado com um míssil. Atingiu ambulâncias que iam levar doentes graves para a fronteira com o Egipto. Todos mortos. Nesse momento Antony Blinken, secretário de estado dos EUA, estava reunido com o primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu. Nada se sabe do que ambos trataram. Mas pelo bombardeamento às ambulâncias é fácil concluir. O estado terrorista mais perigoso do mundo quer o genocídio em Gaza. E para o objectivo não falhar, Washington enviou dois porta-aviões e outros navios de guerra para o Mediterrâneo oriental. Notem bem. Foi o único país que mandou forças armadas para a região. Justificação: Temos de evitar o escalar da guerra!

No momento em que Blinken e Netanyahu tratavam dos negócios do genocídio, uma escola da ONU era bombardeada e 15 pessoas foram mortas. Mas o secretário de estado dos EUA, na Jordânia, foi visitar a sede da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos e com ar de rufia (parecia o Aldraberto da Costa Júnior!) disse que lamentava as mortes dos funcionários. Como se não fosse ele o matador. Os matadores têm mesmo coragem. Mas mais coragem têm os ministros árabes, que reuniram com ele em Amã. A falta de vergonha não tem limites. A vida humana para os mentores do banditismo político nada vale.

Os assassinos justificam o genocídio na Palestina com a “lógica do ocidente”. Os cruzados são assim. Matam em nome de um deus cruel. Mas não deixam os outros fazer o mesmo. “Deus” há só um, o dos nazis ocidentais e mais nenhum. Um jovem israelita judeu disse a uma empregada da limpeza na TRP: “Não temos medo. A Torá diz que Israel é a terra mais segura do mundo”. Invocando a Torá cometem crimes sem nome. Nem se lembram que em nome de todos os livros sagrados outros podem fazer o mesmo. E estão a fazer. Ou melhor: A partir de agora nunca mais deixam de fazer. Peço-vos perdão, meus filhos e netos.

Na hora da reunião entre Blinken e Netanyahu os assassinos atacaram à bomba a cidade de Khan Yunis no sul da Faixa da Gaza. Até 8 de Outubro tinha 300.000 habitantes. Agora tem um milhão! Foi para lá que os nazis de Telavive enxotaram os habitantes do norte. Num acto de boa vontade, o governo nazi de Israel suspendeu os bombardeamentos durante três horas para os palestinos irem voluntariamente para o sul. Quando estiverem mais concentrados, são bombardeados e os sargentos cumprem as ordens de Washington, Paris, Londres, Bona e Berlim: Matem-nos até onde for preciso!  

Hoje as forças armadas de Israel informaram que desde o início do genocídio na Faixa de Gaza e Cisjordânia já mataram dez comandantes do braço armado do HAMAS. Para esse resultado fizeram mais de 20.000 feridos palestinos. Dezenas de jornalistas assassinados ou presos. Dezenas de funcionários da ONU mortos à bomba. Mais de 10.000 civis mortos, dos quais 70 por cento mulheres e crianças. Todos assassinados para apanharem dez comandantes do braço armado do HAMAS. Mas o genocídio na Palestina já garantiu ao movimento milhões de apoiantes. Cada qual que tire as suas conclusões. Sobretudo em Israel.

Jornalistas morreram 40 e dez foram presos pelos esbirros de Telavive. O que interessa isso? Ninguém os mandou trabalhar onde eles atiram bombas exactamente para matar civis. A Torá diz que Israel é todo o mundo e quem não é judeu a mãe dele é gato. Tanta loucura! Nisto de religiões não me meto. Não frequento. Nem sequer sou ateu. Ignoro. Mas dos dez mandamentos aprecio imenso a lei “não cobiçarás a mulher do próximo”. Cumpram! Andam sempre a cobiçar a minha mulher! Sou mesmo vítima do imperialismo.

A maka em Portugal é esta. Duas meninas portuguesas, gémeas, de origem brasileira, foram tratadas e salvas em Portugal. O tratamento, segundo uma fossa de televisão, custou quatro milhões de euros. Dizem que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa meteu uma cunha para as meninas serem salvas da morte ou da deficiência vitalícia. Num país de tesos, atirar aos olhos dos telespectadores com quatro milhões dá logo para condenar, mesmo que seja uma coisa tão bonita como é salvar duas vidas preciosas.

Marcelo diz que nunca lhe passou pelo cabeça meter uma cunha para salvar as meninas. Jamais! O processo clínico desapareceu. Ainda bem. As fossas televisivas portuguesas ainda o publicavam como se isso não fosse um crime grave. 

Ninguém quer assumir as responsabilidades de tão belo gesto de amor por duas crianças. Aqui estou eu. Meti a cunha aos médicos neuro-pediatras. Eles torceram o nariz e eu ameacei-os de porrada. Obedeceram. Para escapar ao fétido perfume das fossas televisivas fiz desaparecer o processo clinico. Assaltei os arquivos do hospital pela calada da noite. 

Aas duas gémeas hoje gozam de boa saúde. Têm um futuro risonho. Eu nem por isso. Lamento que o Tio Célito negue ter feito a única coisa decente que teria feito na vida se metesse a cunha pelas meninas. É lá com ele. Estes figurões, para viverem no mundo do Clube Bilderberg, têm de parecer mauzões. Sacanas. Hipócritas. Bandidos de colarinho branco.

O Aldraberto Costa Júnior anda frustrado porque só deixaram os deputados da UNITA fazer pateada e vaiar o Presidente da República João Lourenço. Também queria dar réplica. Não permitiram o palavreado. Mais uma vez a lei da Jamba foi contrariada. O actual líder da UNITA distinguiu-se pelas réplicas que dava a Jonas Savimbi. Se ele não deixava, partia logo para a agressão física. O criminoso de guerra levou algumas pauladas do jovem militante que representava o Galo Negro em Roma.

Quando Jonas Savimbi decidiu queimar vivas, nas fogueiras da Jamba, as elites femininas da UNITA, o Aldraberto pediu logo o direito de réplica: Temos de queimar as elites femininas, as reféns, as escravas sexuais, as esposas e as mães de todos os dirigentes do movimento. Jonas Savimbi implorou que pelo menos Dona Isabel Paulina escapasse à fogueira, porque queria enterrá-la viva no covil de um Jimbo.

Ninguém imagina a discussão que isto deu. Réplicas e tréplicas repetidas 30 vezes. Por fim o actual líder da UNITA concedeu ao Savimbi a suprema graça de não queimar viva a sua esposa. Foi enterrada viva, anos mais tarde, pelos bandidos capitaneados por Abílio Camalata Numa.

Não sei o que dizem os livros sagrados. Mas Angola é a terra mais insegura do sistema solar enquanto existirem os sicários da UNITA!  Juro mesmo.

* Jornalista

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