segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Notícias da Democracia Israelita -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um jornalista desesperado, durante o directo televisivo, tirou o colete à prova de bala onde está escrito “press”, atirou ao chão o capacete de ferro e gritou: “Vamos todos morrer aqui, é uma questão de tempo”. Todos sabem isso mas fingem desconhecer. 

Um fotojornalista, destruído pela dor, afirmou ante a câmara de filmar: “Mataram os meus filhos e o meu sobrinho. Todos meninos tão bondosos!” Os ministros das Finanças dos países apoiantes do genocídio podem tomar nota: Morreram até hoje 480 crianças na Faixa de Gaza. Nesta contabilidade não entra a Cisjordânia. Os vossos investimentos estão a correr bem.

Os bombardeamentos são cirúrgicos. As bombas só caem onde estão concentrados muitos palestinos: Campos de refugiados. Escolas da ONU que servem de refúgios. Hospitais que são igualmente locais de refúgio, para quem não tem onde se esconder. Destroem mesquitas e outros locais de culto, porque abrigam civis. Cirurgicamente matam jornalistas e funcionários da ONU. Fujam daqui. Não queremos testemunhas! Todas sabem que é assim. Todos sabiam que ia ser assim desde que o governo de Israel tomou posse há um ano.

A grande democracia de Israel tem em vigor leis de apartheid como o regime racista da África do Sul. O governo israelita é de extrema-direita. Os mentores das “democracias liberais” sabem que isso nada tem a ver com a democracia. O HAMAS é um movimento político insurgente. Nasceu para lutar contra a ocupação militar da Palestina. Nem interessa quem apoiou os seus primeiros passos e financiou. O que conta é agora. E hoje é isso mesmo, um movimento insurgente. É tão possível acabar com ele como foi exterminar o MPLA, PAIGC e FRELIMO. Exterminar os Vietcongue. Destruir os Talibãs. Eles sabem que é impossível.

Partidos israelitas como o Noam (homofóbico), Shas, Judaísmo Unido da Torá (coligação dos partidos Agudat Israel e Degel HaTorah)), Sionismo Religioso ou Poder Judaico são exactamente iguais ao HAMAS. Vão exterminá-los? Matar todos os seus dirigentes e militantes? Todos conhecem a “democracia” de Israel. Sabem que é dominada por partidos extremistas e fanáticos religiosos. Como o HAMAS, sem tirar nem pôr.

O que aconteceu em 7 de Outubro passado em Israel fazia parte do cardápio do governo de Benjamim Netanyahu. Para os distraídos, relembro as prioridades anunciadas pelo primeiro-ministro: “Impedir os esforços do Irão para adquirir um arsenal nuclear. Assegurar a superioridade militar de Israel na região. Avançar e desenvolver colonatos em todas as partes de Israel, na Galileia, Negev, Montes Golã e Judeia e Samaria”. Todos sabem mas eu recordo aos distraídos. Os nomes bíblicos da Cisjordânia (Palestina) são Judeia e Samaria.

O governo de Israel tem um ano. A imprensa dos EUA mas também do chamado “mundo ocidental” noticiou que Netanyahu “está à frente do mais radical governo de extrema-direita da História de Israel”. O insuspeito Washington Post denunciou que “o novo governo de Israel está a operar mudanças na legislação que enfraquecem o Supremo Tribunal, o que é uma séria ameaça à separação de poderes”. Eles sabem. Todos sabem mas fingem que nunca ouviram falar nisso,

Partido Sionismo Religioso. Extrema-direita. Igual ao HAMAS. Faz parte do governo de Israel. O líder do partido, Bezalel Smotrich, é o ministro das Finanças. O partido também tem o Ministério de Aliá e Integração (ministro Ofir Sofer). Este senhor é tão radical que quer alterar a “Lei do Regresso”. Só judeus reconhecidos pela Halakah (lei judaica ortodoxa) podem ir viver para Israel. Traduzindo: Apenas quem tem mãe judia pode ser cidadã ou cidadão de Israel. Biden, Blinken, Austin, Úrsula, Sunak, Scholtz, Macron e todos os outros assassinos do ocidente alargado sabem disto. Mas fingem que não sabem.

Numa entrevista à Rádio Kol Berama, o ministro do Património, Amichai Eliyahu, do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judaico), opôs-se à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza: Não entra nada. Não sai ninguém! E defendeu a ocupação militar do território “para sempre”. Todos sabem que ele pensa assim. Todos sabem que os membros do governo de Israel pensam assim. Mas fingem surpresa. E garantem que Israel é uma democracia!

O senhor ministro do governo de Israel, Amichai Eliyahu, também fez esta declaração muito democrática:  “Os palestinos podem ir para a Irlanda ou para os desertos, os monstros em Gaza devem encontrar uma solução por si próprios. Qualquer pessoa que abane uma bandeira da Palestina ou do Hamas não pode continuar a viver na face da Terra". 

Amichai Eliyahu pôs a cereja no topo do bolo: “Se for preciso atiramos uma bomba atómica na Faixa de Gaza”. Netanyahu, grande democrata, apressou-se a esclarecer a ameaça da bomba atómica: "As declarações do ministro Amchai Eliyahu não são baseadas na realidade”.

O líder da oposição israelita, Yair Lapid, exigiu a demissão do ministro Eliyahu, porque "prejudicou as famílias dos que estão sequestrados, a sociedade civil e a imagem internacional de Israel”. Isso mesmo é preciso cuidar da imagem. Matar 480 crianças e 10.000 civis está bem. Ameaçar com bombas atómicas prejudica a imagem. Cuidado!

O líder de extrema-direita israelita e ministro da Segurança Nacional, Itamar Bem Gvir, quando tomou posse, fez soar os alarmes nas “democracias liberais”. E com razão. A imprensa internacional (mesmo a domesticada!) disse, em uníssono, que a atribuição de um papel tão sensível a um extremista pode provocar uma nova escalada nas tensões entre Israel e a Palestina. Aconteceu o 7 de Outubro. Nada acontece do nada.

Ninguém se esqueceu, nem na imprensa dos EUA, que o líder do principal partido da extrema-direita de Israel, Itamar Bem Gvir, tem um longo histórico de terrorista. O Supremo Tribunal de Israel condenou-o por racismo e pertencer a uma organização terrorista. O aseu partido (Poder Judaico) aliou-se ao partido Sionismo Religioso, liderado por Bezalel Smotrich, ministro das Finanças. E assim entraram no governo “democrático” de Israel.

Ben Gvir é discípulo do rabino Meir Kahane. O seu partido (Kach) é considerado uma organização terrorista pelos EUA. Percebe-se porquê. O rabino Meir Kahane, de nacionalidade norte-americana, imigrou para Israel nos anos 70. Eis o que ele defende:

Não-Judeus residentes em Israel só têm autorização de residência temporária, sem cidadania, sem direitos políticos ou qualquer posição de autoridade. 

Nenhum não-judeu tem permissão de habitar nos limites municipais de Jerusalém. 

Judeus e não-judeus não podem casar-se, em Israel ou no estrangeiro. Tais relações não são reconhecidas pelo Estado de Israel. 

Relações sexuais entre judeus e não-judeus são proibidas por lei e punidas com prisão até 50 anos. 

Instituições educacionais mistas, actividades colectivas entre grupos mistos são ilegais.

Criação de praias separadas para judeus e não-judeus.

Todos sabem disto mas fingem que não sabem. Matem os palestinos até onde for preciso! É o triunfo do nazismo no ocidente alargado. Biden, Scholtz, Úrsula, Macron, Sunak e todos os outros assassinos de crianças palestinas têm inveja do rabino Meir Kahane.

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, nega a “identidade nacional palestiniana”. Diz que os verdadeiros palestinos são as pessoas que habitaram Israel há séculos. Este não nega a existência do Estado da Palestina. Nega também a existência dos palestinos! Todos sabem disto. Mas fingem que não sabem. Assim podem mostrar surpresa com o 7 de Outubro!

A polícia israelita, a mando do ministro terrorista (segundo sentença do Supremo Tribunal de Israel) Ben Gvir, foi à Rádio Voz da Palestina, instalada em Jerusalém Leste, e procedeu ao seu encerramento com selagem das instalações. O director foi preso. Os jornalistas que se encontravam no seu posto de trabalho foram igualmente presos. Todos sabem disto mas fingem que não sabem. Um regime que encerra os Media incómodos e prende jornalistas é aliado dos grandes democratas do ocidente alargado.

Matem os palestinos até onde for preciso! Rapidamente. Nem que seja com uma bomba atómica. Os extremistas políticos e os fanáticos religiosos estão no governo de Telavive. Um gabinete de nazis. Exterminem o HAMAS rapidamente! Washington, Bruxelas, Londres, Paris e Berlim aguardam ansiosos o final do genocídio na Faixa de Gaza. Sejam rápidos e competentes. Problema. O comandante Yasser Arafat dizia que a luta do povo é invencível. O MPLA provou isso. 

* Jornalista

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