sábado, 4 de novembro de 2023

Salários Devorados e Réplica Política -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A inflação em Angola é superior a 15 por cento e o ano pode fechar perto dos 20. Dona Vera Daves, com mais um penteado encimando o cabelo rapado dos lados, fez teatro ao anunciar que em 2024 há cinco por cento de “aumentos salariais”. Falsa notícia. Os trabalhadores angolanos não vão ter qualquer aumento. Vão perder menos cinco por cento do que perderiam se essa medida não fosse inscrita no Orçamento Geral do Estado (OGE). Se o meu salário é comido todos os meses pela inflação muito mais do que cinco por cento, ninguém me diga que vou ser aumentado. Isso é insulto gratuito. Para insultos já bastam os dos sicários da UNITA.

O Jornalismo Angolano levou tremendas quedas e bassulas desde 1975. Começaram por criar um “curso médio” para jornalistas e acabaram “acomodando” na profissão analfabetas e analfabetos de pai e mãe. Nunca mais nos vemos livres dessa teia de incompetência e medidas abusivas de controlo dos profissionais. Assim se desmoronou o sector que teve um papel vital no processo de autonomia e independência, iniciado no Século XIX com a Imprensa Livre e concluído no dia 11 Novembro de 1975.

Um “portal” financiado pela CIA e Irmandade Africâner publicou uma peça assinada por Jorge Eurico onde o autor afirma que foi lançado no mercado papel higiénico com a marca “kikongo”. Alta demência. Irrecuperável. Esta afirmação só pode ser falsa. Impossível. Mas se as autoridades competentes aceitaram registar tal marca nesse produto, não é apenas a tutela que deve ser corrida. É o governo todo juntamente com o Titular do Poder Executivo. 

As marcas têm de ser registadas e ninguém com cabeça, tronco e membros aceitaria tal registo. A não ser que a loucura se tenha generalizado. Um filósofo moderno diz que a repressão psiquiátrica começou, porque os adultos nessa época eram todos loucos e faziam projectar a sua loucura nas crianças. Assim foi garantida a continuidade. Quem escapava ao círculo vicioso de loucura, ia parar aos manicómios. Mas só pode ser mentira, não há papel higiénico com a marca “kikongo”. O que acontece ao portal que publica tal insulto? O que acontece ao autor da aldrabice? Nada. Recebem mais uns dinheiros por baixo da mesa.

A confusão sobre o Direito de Réplica Política continua sob o signo do Galo Negro. Paleio furado. Confusão premeditada. Aquele rapaz rechonchudo que se diz presidente do Grupo Parlamentar da UNITA fez esta declaração à agência noticiosa portuguesa ao serviço da UNITA: 

“A Constituição da República de Angola é clara, assiste à oposição o direito da réplica política. O momento para a escolha de fazer a réplica política depende dos actores políticos.” Afinal no Galo Negro é tudo falso, até os juristas. A mensagem do Presidente da República sobre o Estado da Nação é uma coisa. Réplica política entre parlamentares é outra. Não mintam nem confundam as angolanas e os angolanos.

Portugal perdeu a guerra colonial. Mas os portugueses viram-se livres do regime fascista e colonialista. Viva o MFA! O problema é que 50 anos de banditismo político deixam marcas. Os massacres das tropas portuguesas em Angola, Guiné e Moçambique foram as marcas desse regime de bandidos. E tiveram executantes.

As guerras na Ucrânia e na Palestina ocupada por Israel mostram nos canais portugueses de televisão, militares que ainda chamam terroristas ao “inimigo”. Estendem a mão em bico e rosnam: Viva Salazar! Um tal Isidro de Morais Pereira é uma dessas alimárias. Como deve representar a maioria dos generais está explicado porque perderam em toda a linha e levaram uma tareia militar dos Capitães de Abril. Outra besta insanável, com sorriso sacana, diz que o genocídio na Faixa de Gaza “é apenas a preparação da batalha”. 

Ao fim de um ano de guerra na Ucrânia (de Fevereiro de 2022 a Fevereiro de 2023), segundo a Agência dos Direitos Humanos da ONU, foram registadas 632 vítimas civis, 219 mortos e 413 feridos. Uma tragédia. Os últimos números oficiais das Nações Unidas (este mês) revelam 9.200 vítimas entre mortos e feridos. 

A “preparação da batalha” de Israel na Faixa de Gaza, entre o dia 8 e 31 de Outubro fez 9.500 mortos e 25.000 feridos. Centenas de palestinos estão desaparecidos sob os escombros dos prédios na cidade de Gaza. Os mortos, mais de 70 por cento são mulheres e crianças. As bombas matam uma criança em Gaza cada cinco minutos. São 400 crianças por dia! Em poucos dias, as bombas de Israel já mataram 34 jornalistas palestinos e um libanês. Prenderam alguns que ninguém sabe onde estão encarcerados.

“Isto não é nada. Apenas a preparação da batalha!” Autor desta afirmação: Major general Arnault Moreira. Conheço uma modinha brasileira assim: É boi é boi. Mandem prender esse boi seja esse boi o que for. Nem que seja voador. Estes “generais” têm estrelas de assassinos.

Um general israelita disse que a grande prioridade da “operação” em Gaza é libertar os reféns e prisioneiros. Só pode! Matam à bomba quem mexe e respira. Fingem que avançam por terra. E os combatentes do HAMAS, borrados de meda, entregam logo as pessoas que mantêm sequestradas. Se me dessem um minuto de poder nas brigadas Al Qassam dava apenas uma ordem: Libertem toda a gente, inclusive os militares. Não sejam iguais aos nazis de Telavive. 

Israel empurrou à força, do norte para o sul da Faixa de Gaza, 615.000 palestinos. Vivem apinhados em espaços sem as mínimas condições. Os nazis foram mais comedidos. Para deportar tanto judeu, levaram pelo menos três anos. Eis como a História se repete como uma tragédia ainda maior, 80 anos depois.

Os palestinos autorizados a trabalhar em Israel foram todos presos no dia 8 de Outubro. Mantidos em cativeiro até hoje. Os nazis de Telavive libertaram-nos em Gaza. Sem documentos, sem dinheiro, sem uma explicação. Todos se queixam de espancamentos e torturas diárias. Israel é uma grande democracia!  

* Jornalista

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