sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Vamos Matar Jornalistas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No início do Século XX, entre 1905 e 1907, as tropas de ocupação alemãs massacraram mais de 300.000 tanzanianos, que se revoltaram contra o domínio colonial. Um massacre tão ao gosto das potências coloniais. O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, hoje abriu as comportas dos intestinos e bufou: “Eu curvo-me ante as vítimas do domínio colonial alemão. Peço perdão. Tenho vergonha do que os soldados coloniais alemães fizeram”. Daqui a 120 anos um Hitler qualquer vai pedir perdão pelos massacres na Faixa de Gaza, executados pelos EUA e União Europeia, com o apoio entusiasmado da Alemanha. Bons brancos!

Peço perdão por ter escrito reiteradamente que o Jornalismo acabou. Os jornalistas foram todos para escriturários e os arrumadores de carros são agora donos e senhores das Redacções a troco de uma moedinha. Perdão! Há Jornalistas na Faixa de Gaza.

Graças a profissionais abnegadas e corajosos o mundo conhece o genocídio na Faixa de Gaza. As condições para trabalhar são praticamente impossíveis. Mas essas e esses profissionais não viram costas aos acontecimentos. A organização Repórteres Sem Fronteiras apresentou queixa no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de guerra de Israel contra Jornalistas. Os nazis de Telavive já mataram dezenas de profissionais da comunicação social! Nunca antes aconteceu tal catástrofe com essa dimensão. 

Na Guerra do Vietname morreram 63 jornalistas entre 1955 e 1975 (20 anos). Na Guerra do Iraque, em três anos, também morreram 63 jornalistas e dois continuam desaparecidos. Os assassinos dos EUA chamam-lhes “danos colaterais”. Os bombardeamentos de Israel à Faixa de Gaza mataram 31 jornalistas, entre os dias 8 e 31 de Outubro de 2023. Dos assassinados 26 são profissionais palestinos. Estes números são do Comitê de Protecção dos Jornalistas. Israel diz que os profissionais da comunicação social é que cometem crimes de guerra porque andam no meio dos terroristas do HAMAS. EUA, Reino Unido e União Europeia confirmam.

Este vosso criado informa que nenhum jornalista foi morto entre 4 de Fevereiro de 1961 e o 25 de Abril de 1974. Nem os que se “embebiam” nas operações militares dos ocupantes, como Fernando Farinha. Nada lhes aconteceu. Mas activistas do MPLA tinham a morada de todos os jornalistas em Luanda, Lobito, Benguela e Huambo. Todos. Era fácil fazer-lhes o que Israel faz aos jornalistas na Faixa de Gaza. E nem era necessário gastar bombas de aviação ou outras. Canivetes suíços, mãos nuas à volta do pescoço ou cabeçadas chegavam e sobravam para matar quem vivia, confiante e despreocupado, nas cidades angolanas. 

Aldraberto da Costa Júnior, o aldrabão compulsivo, ainda acredita que é presidente da UNITA. Acaba de afirmar publicamente que nenhum país se constrói sem justiça nem liberdade. Ele afinal sabe! Mas tardiamente. Devia explicar isso a Jonas Savimbi quando mandou queimar vivas as elites femininas do Galo Negro nas fogueiras da Jamba. 

O Aldraberto devia dizer isso ao Savimbi quando matou à paulada generais e dirigentes da UNITA. Devia dizer isso ao criminoso de guerra quando violou mulheres reféns. Quando fez das esposas de vários dirigentes suas escravas sexuais. O monstro violou várias vezes a esposa de Jeremiais Chitunda na presença do marido, “para castiga-lo”. O Aldraberto devia dizer a Savimbi que um país não se constrói sem justiça nem liberdade, quando o criminoso de guerra mandou matar crianças e mulheres dos dirigentes que assassinou. 

Os chupistas portugueses da comunicação e imagem que sugam os últimos euros dos diamantes de sangue meteram na cabeça do Aldraberto, aldrabão compulsivo, que tem o direito de replicar, na Assembleia Nacional, à mensagem sobre o Estado da Nação com a qual o Presidente da República abre o ano parlamentar.

Ante os jornalistas, Aldraberto disse que em Angola existe uma ditadura. Perdeu o tino. Acha mesmo que a UNITA ganhou as eleições e Savimbi não foi babado no Lucusse. Informo o Aldraberto, aldrabão compulsivo, que se em Angola existisse uma ditadura, ele nem em Lisboa ou Roma se aguentava vivo, quanto mais em Luanda. O nosso regime democrático não é perfeito, mas está longe de ser uma ditadura. O nosso Estado de Direito está um pouco torto mas ainda não estamos na presença de um ditador sanguinário tipo Savimbi.

O chefe da UNITA insiste que tem direito à réplica da mensagem sobre o Estado da Nação. Não tem. O Presidente da República é ao mesmo tempo Titular do Poder Executivo e comandante supremo das Forças Armadas. Verdade. Mas não adquiriu esses poderes pela via de um golpe de estado como a UNITA tentou fazer em 1992. Recordo o que diz o Artigo 108º da Constituição da República (Chefia do Estado e Poder Executivo):

“O Presidente da República é o Chefe de Estado, o titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas (1). O Presidente da República promove e assegura a unidade nacional, a independência e a integridade territorial do País e representa a Nação no plano interno e internacional (4). O Presidente da República respeita e defende a Constituição, assegura o cumprimento das leis e dos acordos e tratados internacionais, promove e garante o regular funcionamento dos órgãos do Estado (5)”.

Sobre a Mensagem à Nação, o Artigo 118.º diz: “O Presidente da República dirige ao País, na abertura do Ano Parlamentar, na Assembleia Nacional, uma mensagem sobre o Estado da Nação e as políticas preconizadas para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem-estar dos angolanos e desenvolvimento do País”.

Os deputados da UNITA fugiram da Assembleia Nacional quando foi aprovada a Constituição da República, em 2010. O chefe da UNITA tem razão, em nenhum ponto se diz que as elites femininas devem ser queimadas vivas. Os que pensam pela sua cabeça têm de ser mortos à paulada ou a tiro. Famílias inteiras têm de ser dizimadas por capricho do chefe Savimbi. As mulheres só servem para escravas sexuais. Mas o Artigo 118º também não diz que o líder da oposição pode fazer no parlamento a sua Mensagem à Nação em réplica ao Chefe de Estado. Isso só é possível na cabeça dos sicários da UNITA. O problema é que não têm cabeça. 

O Presidente da República tem os poderes que a Constituição lhe confere. Se alguém acha que a estabilidade política não interessa, só tem que propor uma Revisão Constitucional. Se tiver votos para isso, altera a Lei Fundamental. Até lá, ninguém pode dizer que em Angola existe uma ditadura. Muito menos o chefe da UNITA, antro repleto de criminosos de guerra e de delito comum que usam e abusam das liberdades da democracia.

* Jornalista

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