quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Angola | Economia de Mercado a Sério -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje fui penetrado pelo espírito de Natal. Transpiro felicidade e sou concórdia. Ouvi o líder do MPLA na reunião ordinária do comité central e fiquei deslumbrado. Afinal estava certo. Os quase 700 dirigentes foram chamados à direcção para reforçarem as ligações do partido às bases. João Lourenço hoje lançou essa palavra de ordem: Todos para as bases. Todos para as comunidades! Que seja ouvido, depressa e bem. Para bem do Povo Angolano.

O líder do partido fez uma declaração solene: Estamos a construir uma verdadeira economia de mercado! Fiquei desvanecido. Mas fui assaltado por muitas dúvidas e saltaram-me à boca várias interrogações. O MPLA decidiu liquidar a democracia popular e aderir à democracia representativa. Excomungou o socialismo e aderiu à economia de mercado. Mas não foi conversa afiada. Foi a sério. Verdade verdadeira!

O Estado era dono de tudo e mais alguma coisa. Privatizou tudo o que tinha e o que estava para ter. Unidades industriais entregues a quem quis. Espaços comerciais, desde lojas de bairro a grandes armazéns foram entregues a quem se apresentou. Pequenas, médias e grandes empresas, todos os serviços, passaram para as mãos dos privados. 

O Presidente José Eduardo dos Santos e a direcção do MPLA decidiram e muito bem (aplausos!) que no novo regime era preciso criar uma burguesia nacional detentora dos meios de produção e com nervo financeiro. 

Os cofres públicos foram escancarados a todos os que se apresentaram para iniciar uma carreira de empresários nos sectores industrial, mineiro, comercial, agrícola, pescas e financeiro. Milhares de hectares foram distribuídos pela burguesia nascente, estimulada e apoiada pelo MPLA. Nasceram grandes fazendas mas infelizmente a maioria dos proprietários é absentista. Está quase tudo abandonado!

Uma lei-travão foi aprovada e fazia esta exigência:  Os investidores estrangeiros são obrigados a arranjar um parceiro angolano e este fica com um mínimo de 51 por cento nas empresas a constituir. E assim foi até há pouco tempo.

A habitação era do Estado. No regime da economia de mercado nascido em 1992, quem pagava renda de um simples apartamento ficou com a propriedade a troco de uma verba simbólica. O MPLA, de um dia para o outro, fez de milhões de angolanos donos das suas habitações. Até as casas de função (membros do governo, forças de defesa e segurança, altos funcionários, administradores de unidade económicas públicas) foram privatizadas! Senhor Presidente João Lourenço, a economia de mercado entrou em força e a sério. Vossa excelência sabe disso melhor do que ninguém. Foi um feliz contemplado.

Muitos dos que receberam terras aráveis nem uma semente lançaram à terra. Os que ficaram com empresas acabaram por fechá-las. Venderam espaços comerciais, naves industriais e armazéns. Alugaram as casas por milhares de dólares mensais. Torraram os milhões que receberam para investir. 

Em vez de criarem riqueza e postos de trabalho esbanjaram os fundos. Tiro o meu chapéu a todas e todos os que criaram empresas. Investiram bem. Transformaram os hectares em grandes propriedades agrícolas ou agroindustriais. Às comissões de moradores que cuidaram dos prédios privatizados. Aos que construíram a Angola que temos. Não como na América do assassino Biden mas está feito. Está criado. Trabalharam a sério. E continuam a trabalhar.

Hoje temos empresárias e empresários empenhados na criação de riqueza e postos de trabalho. Mais do que antes? Não sei., Mas temos. E isso já é uma grande vitória. Porque tudo o que se fez desde 1993 foi com contravapor dos sicários da UNITA. E ainda é. Claro que agora vamos ter os milhares de milhões do estado terrorista mais perigoso do mundo. Até agora só investiram os angolanos, os chineses e poucos mais. Mas antes que seja tarde informo que no Corredor do Lobito, só foi investido dinheiro do Estado (e da República Popular da China). 

Os “sócios” do Corredor do Lobito conhecidos, até hoje encheram a pança à custa dos angolanos e só nos deixaram a merda das tripas. A economia de mercado onde os bandoleiros internacionais ganham tudo e os angolanos ficam com os restos, não é a sério. Mas é essa a regra em África. Felizmente está a acabar. Existe um movimento em África no sentido de obrigar os parasitas europeus e norte-americanos a pagarem o que até agora têm roubado aos africanos. Que seja rápido. Fiquem lá com as guerras deles, com as economias falidas deles. Com o fogo de vista deles. Com os Biden deles-

Samuel Chiwale é fundador da UNITA. Durante muito tempo foi apóstolo de Savimbi mas agora remeteu-se ao silêncio. Não porque tenha ganho consciência cívica e patriótica mas porque seu filho, Adriano Abel Sapinãla, faz as despesas da conversa savimbista. Mais um preparado para atirar às fogueiras quem não seguir a seita satânica. Nestas férias natalícias, o sicário disse que Angola está mal governada. É capaz de ser verdade, Mas também é verdade que enquanto a UNITA não for reduzida a um deputado na Assembleia Nacional, é impossível governar bem. Eles sabotam tudo. Destroem tudo.

O Abílio Camalata Numa também aproveitou o espírito do Natal para escrever isto:  “Membros e simpatizantes da UNITA foram mortos no genocídio eleitoral de 1992”. A derrota do Galo Negro e a vitória do MPLA com maioria absoluta foi um “genocídio eleitoral”. E concluiu o matador ao serviço dos racistas sul-africanos: “Infelizmente, o pior disto tudo é os angolanos, sempre tolerantes, terem permitido que o Estado de Angola fosse capturado por um grupo de lumpens do MPLA que transformaram o país num Estado narcotráfico e de corrupção generalizada”.

O sicário escreve o que quer e ninguém reage. Nem as autoridades que têm o dever de reagir. Isto não é liberdade de expressão. Isto não é opinião. Isto não é combate político. É crime grave. Senhor Presidente João Lourenço, tenho uma má notícia para vossa excelência. Enquanto existirem assassinos como Abílio Camalata Numa, enquanto existir a UNITA na sua versão quadrilha de criminosos ou na versão seita satânica, em Angola nada é a sério, nem a economia de mercado. Tudo vai pior água abaixo.

Um dirigente da UNITA diz que um grupo do MPLA fez de Angola um “Estado narcotráfico”. E não acontece nada. Quem tem a responsabilidade da investigação e acção penal mão leva o regime a sério. Só pode.

* Jornalista

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