sexta-feira, 1 de março de 2024

Angola | Devedores de Biliões Exigem Milhões -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os amigos são para as ocasiões. Tenho um que me deu dormida quando não tinha onde dormir. Comida quando estava com fome. Nos apertos adiantou-me dinheiro (a dívida será paga!) e é solidário em todos os momentos maus que são quase todos os da minha vida. Um dia destes fomos tomar café e ele esqueceu-se da carteira. Paguei eu, feito milionário! Esse malandro deve-me um café! Caloteiro. Oportunista. Mau pagador.

Esse meu amigo é um dos grandes economistas angolanos. Sabe tudo de números e contas. Não é apenas aprendiz de tabuada como alguns ministros. Muito antes da Independência Nacional já era grande profissional. Pedi-lhe um grande favor. Calcula quanto a UNITA deve ao Povo Angolano pelos roubos e destruições durante a rebelião armada do Savimbi, entre Outubro de 1992 e Fevereiro de 2002. No mesmo dia ele calculou o montante da dívida: Mais de 20 biliões (dois mil milhões!) de dólares.

Adalberto da Costa Júnior é um obstáculo intransponível ao regime democrático. A política não suporta mentirosos compulsivos, vigaristas vulgares, traficantes de promessas inviáveis, sócios da FLEC e do Protectorado Português da Lunda, vendedores de Angola às fatias. 

A UNITA é o cancro da democracia. Enquanto existir, não há Estado Social que aguente. Não há desenvolvimento económico. Não há reconciliação nacional digna desse nome. Jonas Savimbi vendeu-se aos racistas da África do Sul para vingar a derrota do colonialismo, infringida pelo Povo Angolano, sob a bandeira do MPLA. 

O líder do Galo Negro serviu os colonialistas como sargento ajudante e os seus interlocutores eram agentes da PIDE/DGS ou um capitão miliciano. No meio das bebedeiras escrevia mukandas aos generais do fascismo para pedinchar. Com o 25 de Abril de 1974 ficou desempregado. Ainda tentou apanhar a boleia de Spínola e assumiu oposição frontal à Independência Nacional fazendo propaganda pelo “federalismo”, alegando que “O povo angolano não está preparado para a independência”. Foi pago com o título de Muata da Paz e a UNITA passou a ser o “movimento dos brancos”. Traição mais rasteira não há!

O regime racista de Pretória foi derrotado no Sul e Sudeste de Angola. Ficou atolado nos pântanos do Triângulo do Tumpo. Nas colinas armadilhadas com minas não convencionais. Despedaçado pelas Heroicas FAPLA, o povo em armas pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. La se foi o projecto de Savimbi ser presidente do bantustão a sul do Cuanza. 

O estado terrorista mais perigoso dom mundo pediu ao Presidente José Eduardo dos Santos para dar uma mão à UNITA e a Jonas Savimbi. O argumento tinha peso: “Sem o apoio dos EUA e do regime de Pretória a região corria o risco de ficar com párias armados atentando contra a paz em Angola, Namíbia e África do Sul”. Foi assim que chegámos ao Acordo de Bicesse. A meio do processo, Savimbi propôs a Washington tomar o poder pela força porque o Estado Angolano não estava desarmado. Os norte-americanos rejeitaram apoiar essa aventura. 

Eleições de 1992. O MPLA ganhou com maioria absoluta. A UNITA foi esmagada nas mesas de voto. Jonas Savimbi pôs em marcha o seu plano de tomar o poder pela força. Foi derrotado. Mas entre Outubro de 1992 e Fevereiro de 2002 os seus bandoleiros armados destruíram pontes, vias férreas, portos, aeroportos, barragens, sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, centrais de energia eléctrica, linhas de alta tensão, sedes dos governos provinciais, escolas, repartições públicas, fábricas, casas comerciais, armazéns, tudo o que apanharam pela frente.

Ao mesmo tempo e com o apoio dos restos do regime de apartheid ocuparam minas nas Lundas e no Bié. Todos os dias aviões carregavam diamantes e levavam as pedras preciosas para Antuérpia e Hong Kong. Os turistas da Jamba também entraram na kamanga. Lisboa tornou-se o centro dos kamangistas! Mas também outras capitais europeias onde os rebeldes armados tinham as suas quadrilhas. Adalberto da Costa Júnior era quadrilheiro entre Roma e Lisboa! Só em diamantes, os rebeldes armados roubaram mais de cinco mil milhões de euros! Cinco “bis”. 

As destruições dos párias armados, só em equipamentos sociais, ascendem a 15 mil milhões de euros. São 15 “bis” como dizem os bilionários. Nestas contas não entram as elites femininas da UNITA queimadas vivas na Jamba. Não entram dirigentes do movimento, assassinados por Savimbi e seus sequazes por criticarem a sua liderança. Não entram as crianças e mulheres raptadas nas aldeias e vilas. Não entram os milhares de mortos. Não entram as viúvas e órfãos. 

Também não entram os milhões de angolanas e angolanos que hoje vivem em grandes dificuldades porque os sicários do Galo Negro partiram tudo, destruíram tudo. Não entram os milhões de desalocados que hoje se amontoam em Luanda e outras grandes cidades do interior, sem qualquer perspectiva de vida. A dívida da UNITA ao Povo Angolano é como a dívida externa dos EUA: Impagável!

Face a esta dívida incomensurável, Adalberto da Costa Júnior chamou a criadagem da Voz da América (camarada presidente, o estado terrorista mais perigoso do mundo joga com pau de dois bicos…) para lhes dizer que o governo está contra a reconciliação nacional. Porquê? 

Adalberto responde: “O Orçamento Geral do Estado é um desastre completo, não há um único kwanza para a reconciliação nacional, não está concretizada, temos pendentes que vieram dos acordos de paz. Este governo está completamente de costas viradas para a conclusão daquilo que é devolução do património da UNITA. Aliás, o governo diz mesmo que não tem nada para devolver”.  A UNITA deve muitos biliões e diz que lhe devem uns terrenos e outros imóveis!

A criadagem da Voz da América analisou uns “documentos” e concluiu que a direcção da UNITA “está agarrada aos Acordos de Bicesse, Lusaka e Luena. Reivindica vivendas, apartamentos para os seus dirigentes e edifícios para sedes, muitos, como salienta, ocupados para departamentos ministeriais, estruturas do MPLA e moradias de altas figuras do Estado. Só em Luanda, segundo ainda os documentos, está um património que o segundo maior partido avalia em mais de 25 milhões de dólares, sem ter em conta as indemnizações que exige”.

Então é assim. Angola deve 25 milhões aos ladrões de diamantes de sangue, aos assassinos do Povo Angolano, aos destruidores de tudo e mais alguma coisa, aos que rasgaram os acordos de Bicesse, Lusaca e Luena. Tem que indemnizar os bandoleiros pelas destruições que fizeram e ainda fazem! O Executivo tem de devolver aquilo que ofereceu aos sicários da UNITA para se integrarem no regime democrático, que eles depois tentaram matar ainda no ovo. 

A criadagem da Voz da América pediu uma declaração sobre este tema ao secretário do Bureau Político do MPLA para Informação, Esteves Hilário. Avisadamente não respondeu à provocação rasteira. Mas respondo eu. 

O MPLA impediu que a UNITA fosse uma organização pária, um bando de assassinos armados cometendo crimes na África Austral. O MPLA salvou centenas de dirigentes do Galo Negro e seus familiares quando Savimbi tentou tomar o poder pela força em Luanda. O MPLA protegeu os sicários da UNITA da fúria popular. O MPLA não deve nada a ninguém. Todos os patriotas lhe devem tudo o que são e tudo o que têm.

Xavier Figueiredo diz que Savimbi “foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e ações encobertas de segurança com o objetivo de o desacreditar e isolar. Mas as suas qualidades políticas e humanas são de amplo reconhecimento”. 

Ó Xavier! Só tu e o João Soares reconhecem essas qualidades ao assassino e criminoso de guerra. Como diz o outro, os diamantes de sangue fizeram muitos amigos à UNITA e ao Savimbi. Os familiares das elites femininas queimadas vivas na Jamba não encontram essas qualidades. Os sobreviventes das famílias exterminadas pelo assassino Savimbi não reconhecem essas qualidades. Pior do que um jornalista morto é um jornalista vendido! Mata a classe toda. Os diamantes de sangue ainda pingam para os bolsos da canalha savimbista.

* Jornalista

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