sexta-feira, 1 de março de 2024

Angola | Guerra Civil Contra os Invasores – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O senhor embaixador de Angola, nos EUA, Agostinho Van-Dúnem, concedeu uma entrevista ao Jornal de Angla, conduzida pela jornalista Edna Dala. Revelou que a Defesa e Segurança são “áreas de interesse mútuo com os EUA para manter e promover, em Angola e, sobretudo, na região Austral de África, a paz, a segurança e a estabilidade política como factores que proporcionam o desenvolvimento económico e social dos respectivos povos”.

A jornalista Edna Dala não falseou as declarações do senhor embaixador de Angola em Washington. É uma profissional que sabe, como ninguém, que o Rigor é a marca distintiva do Jornalismo. Assim, o embaixador Agostinho Van-Dúnem só pode estar com um grave problema de memória.

Os EUA, após a II Guerra Mundial, invadiram e destruíram vários países inclusive Angola. Mataram milhões de seres humanos no Japão (com bombas atómicas!), Coreia, Vietname, Brasil e Chile com golpes de estado sangrentos, Iraque, Afeganistão, “primaveras árabes”, Líbia (eliminação do Estado Líbio), Síria (ocupação militar permanente), Somália, Jugoslávia, destruição total do país, e outros teatros de operações nos quais se inclui o genocídio na Palestina, que está a decorrer.

Os EUA não servem de parceiros para “a paz, a segurança e a estabilidade política”. Pelo contrário, são inimigos desses factores essenciais para construir sociedades justas, pacíficas, seguras e estáveis. Se o senhor embaixador fizer contas por alto vai concluir que desde o lançamento das bombas atómicas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki até à Faixa de Gaza, os EUA e seus aliados do ocidente alargado já mataram 12 milhões de seres humanos. Neste número estão incluídos angolanos!

As poderosas associações comerciais, agrícolas e industriais da colónia de Angola defendiam a independência branca. O projecto era ambicioso e passava pela proclamação unilateral da independência, à semelhança do que fez Ian Smith na Rodésia (Zimbabwe) com o apoio do governo de Londres. Lisboa também apoiava os colonos independentistas. Objectivo final: Criar uma África Branca entre a Cidade do Cabo e o Maiombe.

 

No final dos anos 60, pilotos e aviões de guerra da Rodésia e da África do Sul entraram na guerra colonial, contra a guerrilha do MPLA no Leste de Angola. Por terra, Jonas Savimbi incorporou os combatentes da UNITA nos FLECHAS da PIDE/DGS. Todos unidos para destruir a única organização nacionalista que fazia, com sucesso, a luta armada de libertação nacional. Com a entrada do Galo Negro nas operações militares, passámos a ter uma “guerra civil”.

Em finais de 1974, aproveitando o vazio de poder pela partida do Almirante Rosa Coutinho e o seu governo, as forças armadas do Zaire de Mobutu invadiram e ocuparam o Norte de Angola, com a cumplicidade dos generais portugueses Altino de Magalhães (Exército) e Silva Cardoso (Força Aérea). Este foi nomeado alto-comissário e presidente da Junta Governativa, para completar o trabalho na vigência do Governo de Transição. 

Agostinho Neto denunciou no dia 5 de Fevereiro de 1974, em Luanda, a “invasão silenciosa” do Norte de Angola pelas tropas zairenses, os mercenários de várias nacionalidades, o Exército de Libertação de Portugal (ELP), os oficiais e agentes da CIA.

O senhor embaixador Agostinho Van-Dúnem na entrevista fez esta declaração: “Angola conhece o que é a instabilidade gerada por uma guerra civil (…) e pode aproveitar esta experiência para transmitir aos seus parceiros da região que o diálogo é o melhor caminho para resolver os conflitos. Queremos cooperar neste domínio. A conjugação de esforços com os EUA pode levar-nos a atingir estes objectivos”. 

Guerra civil, senhor embaixador? A IX Brigada, com o Comandante Ndozi à frente, os Corvos ao Imbondeiro, comandados pelo Coronel Nelson Gaspar, participaram numa guerra civil! Afinal os zairenses eram angolanos. Os oficiais e agentes da CIA eram angolanos. Os fascistas portugueses do ELP eram angolanos. Os mercenários norte-americanos e britânicos eram angolanos. 

A África do Sul invadiu Angola, desde Namacunde ao Ebo. Do Lobito ao Luena. Da Cacula ao Huambo. Do Lubango ao Namibe. Os Heróis das FAPLA que os enfrentaram e derrotaram participaram numa guerra civil. Afinal os independentistas brancos triunfaram e Angola nos anos 80 já era um satélite dos racistas de Pretória. A Batalha do Cuito Cuanavale foi entre as Gloriosas FAPLA e uns rapazes loiros de olhos azuis, filhos da Pátria Angolana. Não digam isso aos Combatentes da Batalha do Cuito Cuanavale ainda vivos. Eles viram bicho e zangam-se a sério. Não os confundam com karkamanos ou a sua criadagem da UNITA.

Por falar no Galo Negro. Xavier Figueiredo diz que o MPLA tem complexos de inferioridade com o Savimbi. Também tu jogas com a falta de memória? Truque baixíssimo. Quem diz isto sabe tudo. Em 1974, a UNITA era uma dúzia de dirigentes e o Tenente Sabino. Os combatentes foram para os FLECHAS e andavam a fazer operações militares contra a Independência Nacional.

A UNITA não estava reconhecida como movimento de libertação, nem pela OUA (hoje União Africana) nem pelo Comité de Descolonização da ONU. Holden Roberto, líder da FNLA, recusava qualquer conversação com a potência colonial se Savimbi e o Galo Negro participassem. Um problema muito sério. 

O Almirante Rosa Coutinho e o MFA-Angola, representado pelos majores Pezarat Correia e José Emílio da Silva, convenceram Manuel Pedro Pacavira e Hermínio Escórcio a promoverem um acordo do MPLA com a UNITA. Agostinho Neto reuniu com a direcção algures no Leste de Angola e aceitou um encontro com uma delegação do Galo Negro na cidade do Luena. Foi assinado um acordo.

A diplomacia do MPLA (tão excelente como é hoje a Diplomacia Angolana) fez corredores em Adis Abeba e a UNITA foi reconhecida como movimento de libertação mesmo a tempo de seguir para Mombaça, onde os três movimentos de libertação concertaram uma posição comum, para levarem à mesa das negociações com a potência colonial. Foi assim que chegámos ao Acordo de Alvor. 

A UNITA não tinha militares para integrar nas forças conjuntas previstas no acordo! Porque os “Flechas” foram escorraçados pelas populações de Cangamba, Cazombo e Lumbala Ngimbo (Gago Coutinho). Savimbi não podia meter na tropa Nzau Puna, Tony da Costa Fernandes e Chiwale. Os outros fundadores que tiveram treino militar estavam ao serviço dos FLECHAS da PIDE/DGS. Xavier Figueiredo sabe disto. Mas diz que o MPLA tem complexos de inferioridade. Se o ridículo matasse, o Xavier morria mil vezes.

As ravinas são o negócio que está a dar. Os aguaceiros tropicais são violentos. As enxurradas causam sulcos no solo. Se ninguém os tapar, nascem as ravinas. Quando chegam a abismos vem o negócio. Ficava mais barato se as administrações comunais e municipais, os governos provinciais, destinassem verbas para pagar a voluntários que, depois de cada aguaceiro, percorriam as vias nas suas áreas a tapar os sulcos profundos causados pelas enxurradas dos aguaceiros. 

Se fizessem isso, o acesso à ponte do rio Mucozo não tinha ruído. E uma das mais importantes estradas da Rede Nacional não estava fechada ao trânsito entre Maria Teresa e o Dondo. Negligência criminosa. Irresponsabilidade suprema. Incompetência alarmante. Impunidade chocante. Cumplicidade. Corrupção à vista. Deixam as ravinas ameaçar casas e cortar vias para depois fazerem o negócio. A UNITA tem muitos seguidores!

O acesso à ponte sobre o rio Mucozo na via Luanda-Dondo ruiu também por uma razão que tem igualmente a ver com negócios criminosos. O director provincial do Cuanza Norte do Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA), Miguel Nelembe, disse aos jornalistas que o deslizamento de terras no acesso à ponte se deve também à extracção ilegal de areia! Disse mais: “O processo erosivo dos encontros da ponte sobre o rio Mucozo foi provocado pela retirada das pedras que serviam de protecção dos solos e para amortecer a força das águas”. 

Senhor director, apresentou queixa-crime ao Serviço de Investigação Criminal ou no Ministério Público? Denunciou quem extrai os inertes ilegalmente? Ele não respondeu mas pelos vistos também ninguém lhe perguntou. Assim vai o combate à corrupção.

 Mas sei que um nababo trilionário está à pega. Antes de ser dirigente partidário, deputado e membro do governo já tinha uns milhões. Agora tem triliões. A sua mansão no Mussulo é o mais evidente sinal exterior da riqueza roubada. Depois de 2027, a senhora que estiver à frente da recuperação de activos e o substituto de Pita Grós tratam-lhe da saúde. O melhor é fugir para Miami antes do final do mandato!

O Mussulo não é lugar para mansões. O máximo que a ilha aguenta são casas dos pescadores. Mas um dia a natureza resolve o problema. A Ilha do Cabo ficou reduzida à língua de terra que é hoje porque violentas calembas lamberam mais de dois terços do território. A ilha do Mussulo hoje é uma imensa fossa a céu aberto. Vai ruir como o acesso à ponte do rio Mucozo na estrada Luanda-Dondo. 

* Jornalista

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