domingo, 10 de março de 2024

No Tempo dos Absurdos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A diversificação da economia é um processo demorado. Durante décadas, a agressão armada estrangeira marcou o ritmo e a vida económica nacional. A indústria não petrolífera desapareceu porque não existia livre circulação de pessoas e bens. Estradas, vias férreas e aeroportos foram destruídos. A agricultura ficou reduzida à mais ínfima expressão e os serviços foram adequados aos esforços de guerra.

A defesa da integridade territorial e da soberania nacional teve elevados custos sociais, económicos e sobretudo humanos. As três décadas de guerra após a Independência Nacional vão marcar os próximos 200 anos das vidas dos angolanos.

A conquista da Independência Nacional só foi possível com a resistência popular generalizada. A defesa da soberania nacional, a guerra contra os invasores estrangeiros, teve custos tão elevados que não há máquinas nem sábios dos números que quantifiquem o valor final. Comparem com o dinheiro que EUA, Reino Unido e União Europeia já despejaram na Ucrânia em dois anos. 

A premência da diversificação económica é evidente. Mas a pressa é inimiga da perfeição. Angola tem todas as condições para diversificar a economia sem pôr em causa o Ambiente e a harmonia entre todos os ecossistemas. Se é preciso empreender, investir e produzir, que tudo seja feito da melhor forma. O ordenamento do território deve estar sempre na primeira linha. 

A exploração equilibrada dos recursos é a garantia de um futuro viável e do respeito pela vida humana. O Papa Francisco avisou os políticos de todo o mundo para uma verdade insofismável: Os números não podem ignorar a vida humana e as pessoas não são descartáveis. Nada justifica o sacrifício da dignidade de um ser humano e muito menos se aceita que em nome da criação de riqueza, o quotidiano das pessoas seja infernizado.

O Estado Social tem padrões que não podem ser hipotecados aos interesses da economia. Primeiro as pessoas, porque só elas justificam as actividades económicas que garantem o bem-estar e o progresso. Sem salários dignos não há justiça social. Um país que capta investimentos estrangeiros porque oferece salários rastejantes não tem futuro. O corredor do Lobito vai desembocar no beco da miséria e só ganha o Grupo Carrinho, a Trafigura e os marimbondos transformados em abutres.

Um perito na matéria, funcionário do Estado, explicou na TPA que o salário mínimo nacional não pode exceder os 45.000 Kwanzas. Uns 40 dólares por mês. Pouco mais de um dólar por dia. Triste realidade. Os angolanos trabalham para ser pobres. Para viverem na miséria. E esses estão cheios de sorte. Porque uma percentagem elevada da população activa nem trabalho tem. Ou está na economia informal, sobretudo as nossas guerreiras que só têm o dia 2 de Março, Dia da Mulher Angolana, e o dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Calendário e folclore. Fortalecimento do Estado Social, nada. Política salarial justa, nem pensar. 

Sim, os 30 anos de guerra após a Independência Nacional destruíram tudo. Significaram uma catástrofe humanitária. Causaram um retrocesso social e económico terrível. Mas convém respeitar aquelas e aqueles que deram as suas vidas pela soberania nacional e a integridade territorial. Aquelas e aqueles que deram os melhores anos das suas vidas em defesa da Pátria Angolana. Nem todos recebem milhões por baixo da mesa. Nem todos aprendem com o estado terrorista mais perigoso do mundo a fazer viveiros. Nem todos comem como o Grupo Carrinho. Nem todos se passeiam no Corredor do Lobito.

Angola mergulhou no absurdo. A UNITA pôs em marcha um programa terrorista que consistiu em tornar a vida impossível às populações nas aldeias. Fugiram em massa para as vilas! Depois tornaram a vida impossível nas vilas e todos fugiram para as cidades. Finalmente tornaram a vida impossível nas cícades e todos fugiram para Luanda e o eixo Lobito-Catumbela-Benguela-Baía Farta. Hoje esses terroristas rasgam as vestes pelas autarquias locais. Querem eleições para o Poder Local onde tornaram a vida impossível!

Mais um absurdo. Dizem que a UNITA representa o grupo étnico ovimbundo. E Savimbi era o líder. Mas a organização nasceu em Muangai, comuna na província do Moxico. A primeira acção armada foi contra o posto da PIDE/DGS no Luau (Vila Teixeira de Sousa). Depois as tropas portuguesas criaram uma “jamba” para Savimbi em Cangombe. Até puseram uma unidade militar a guardá-lo. Terras de Luchazes. 

A UNITA chegou ao Munhango, no Bié, às cavalitas dos portugueses na Operação Madeira. Em terra de ovimbundos lutou contra a Independência Nacional. Em 1974/1975 Savimbi matou jovens das elites ovimbundo. Acabou o serviço queimando vivas as elites femininas da UNITA na Jamba. O Galo Negro acumula tareias eleitorais nas províncias de maioria ovimbundo.

Abel Chivukuvuku disse pela UNITA, em 1992, que ia reduzir Angola a pó. Balcanizar Angola. Abandonou a UNITA para fazer um novo partido. Abandonou o partido e levou os votos para a UNITA em 2022. Quer ser dirigente do Galo Negro. E acredita que o eleitorado vai fazer dele mais do que um deputado catavento. Absurdo mais absurdo não há.

A direcção do MPLA proclamou a Resistência Popular Generalizada. Todos de armas na mão por Um Só Povo Uma Só Nação. O Povo no Poder. Um Governo de Trabalhadores. Aliança de Operários e Camponeses. A República perdeu o Popular. A democracia deixou de ser Popular. O Socialismo virou “economia de mercado”. Os EUA roubam no Corredor do Lobito, no Grupo Carrinho, nos viveiros e o petróleo. Em troca compram-nos paracuca e catatos. 

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Nenhum povo do mundo beneficiou tanto das suas mulheres como o Povo Angolano. Em troca os actuais ocupantes do Poder dão-lhes miséria, angústia, frustração, desemprego, maus tratos. Mas nada está perdido. Poucos países do nundo têm tantas mulheres empoderadas. Carolina Cerqueira é a Presidente da Assembleia Nacional. Poucos parlamentos têm tantas deputadas como o angolano. Esperança da Costa é Vice-Presidente da República. Temos ministras no Executivo. Administradoras de empresas. Empresárias. As mulheres têm um lugar de destaque na Educação, na Saúde, na Justiça.

Neste 8 de Março lanço um apelo ao Presidente João Lourenço: Faça alguma coisa para ser digno da Mulher Angolana. Honre o Março Mulher!

* Jornalista

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