sexta-feira, 10 de junho de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 20




MARTINHO JÚNIOR

O SAL DE ATÍLIO BORÓN

Enquanto uma parte substancial da esquerda latino americana saudava efusivamente a vitória no Peru de Ollanta Humala, o clarividente sociólogo e politólogo Atílio Borón começou por colocar uma pitada de sal na interpretação da conjuntura corrente, esclarecendo a nova encruzilhada em que se está a tornar o Peru, numa síntese de apenas dois parágrafos.

Nessa síntese, Atílio Borón chama a atenção para o comportamento imediato do sector nevrálgico e tão sensível do capitalismo especulativo controlado pela hegemonia e por via do tentáculo que é a Bolsa de Lima: no caso do Peru, no seu entender, esse sector produziu uma autêntica “mensagem mafiosa” (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=130024).

“La respuesta es bien simple: porque ante el nuevo cuadro político abierto por la elección de Humala los especuladores que se dan cita en todas las bolsas del mundo (y la de Lima no es una excepción) decidieron enviarle un mensaje mafioso al presidente electo haciendo una pequeña demostración de su poderío y su musculatura financiera.

En suma, una especie de golpe de mercado preventivo, una advertencia y un recordatorio de lo que podría llegar a pasarle en caso de que optara por abandonar el camino trazado por sus predecesores.

El capital no descansa y vota todos los días, y sus estratagemas pueden maniatar a cualquier gobierno.

Humala declaró que será respetuoso de la economía de mercado; al mismo tiempo dijo que quiere acabar con la pobreza y la exclusión social.

Pero si mantiene la economía de mercado, tal cual hoy existe en el Perú, lo seguro será que la pobreza y la exclusión social crezcan al ritmo desmesurado en que lo hace la tasa de ganancia de las empresas.

Tendrá que optar, y en la pulseada con los mercados su arma principal, tal vez la única, será su capacidad para promover la organización y concientización del campo popular.

A escasas veinticuatro horas de las elecciones el mercado le arrojó el guante a Humala y se constituyó como su enemigo.

Habrá que ver como éste reacciona ante la inveterada afición de aquél por las prácticas extorsivas a las que apela para defender los intereses del capital”.

Atílio Borón fornece-nos assim elementos preciosos sobre o que se passa um pouco por todo o mundo, com ementas adequadas a cada caso, mas nunca divergindo no essencial que é propiciado pela lógica capitalista neo liberal, quando se evidencia a ditadura financeira em que vivemos mergulhados, salvo algumas poucas excepções de que o Peru pode vir a fazer parte.

Na guerra da Líbia, ao procurar derrubar a ditadura de Kadafi a hegemonia busca a todo o transe implantar sua própria ditadura manipulando com a democracia representativa que nem sequer é obstáculo para a possibilidade de restauração duma monarquia dócil com raízes na Cirenaica a fim de levar as ingerências a limites que só ela poderá determinar…

Para isso, o congelamento de capitais líbios no exterior, numa altura em que os Estados Unidos e a União Europeia se vêem a braços com uma crise incontornável que castiga os Povos do respectivo espaço geográfico e o não pagamento das dívidas correntes em função do fornecimento de petróleo, impõem-se pela sua evidência e são um “aviso à navegação” em relação sobretudo à conjuntura africana do século XXI.

Mas se a pobre África, berço da humanidade e um pouco a primeiro dos sepulcros da hegemonia, a situação evolui assim, na Europa decadente os Povos vêem-se cada vez mais confrontados com o carácter da ditadura financeira.

No caso português, foi o capital financeiro que atraiu José Sócrates para o campo minado que ele próprio ajudou a construir sem alternativa a braços com a “troika” externa, o campo minado das contradições e do embuste, que foi claramente posto a descoberto durante a campanha eleitoral e influenciou na derrota do PS tal como na implantação duma “maioria de direita” que tudo fará para mudar o que resta da Constituição de Abril.

Em Portugal, perante um eleitorado que demonstrou que está longe dos parâmetros da Revolução de Abril, mas ainda muito próximo da mentalidade da época da Inquisição mesclada com a que foi cultivada durante a ditadura fascista e colonial de Salazar, a ditadura financeira, hábil na “pródiga” cosmética da democracia representativa, ajeitou a mudança de moscas da forma mais conveniente e está pronta a seguir a pista do grande pesadelo.

Contrariando Europa e África, a América Latina busca nas suas raízes autóctones a capacidade para, 200 anos depois do içar das bandeiras, lutar pela independência e pela integração.

No Peru, apesar de tudo, com Ollanta Humala respira-se um outro ambiente sócio-político-cultural e no mínimo é para hoje a possibilidade de sonhar!

Martinho Júnior - 9 de Junho de 2011

Sem comentários:

Mais lidas da semana