domingo, 29 de janeiro de 2012

“SE O TWEETER CENSURA, DEIXO DE TWEETAR” - Weiwei



RTP

O Twitter poderá doravante retirar do éter num só país tweets que colidam com a legislação desse país. A empresa defende esta nova capacidade como contribuição para uma maior transparência, mas entre os utilizadores levantam-se vozes contra o que receiam venha a facilitar práticas censórias. O dissidente chinês Ai Weiwei e a organização "Repórteres Sem Fronteiras" (RSF) destacam-se entre os críticos.

Até agora o Twitter podia retirar de circulação determinados tweets, mas isso implicava que eles deixavam de ser vistos por qualquer utilizador a nível mundial. O recurso a essa medida drástica tornava-se assim raro e sofria os efeitos inibitórios do largo alcance da medida. Se um regime ditatorial tinha queixas contra uma mensagem determinada, o Twitter apenas podia dar-lhe satisfação apagando-a mesmo para utilizadores em países onde essa mensagem nada tinha de ilegal.

Twitter defende-se

O Twitter defende a novidade afirmando no seu portal que "até agora a única forma para podermos adaptar-nos às limitações desses países [de regime ditatorial] era retirar o conteúdo globalmente. A partir de hoje temos a possibilidade de reter conteúdos de utilizadores num país específico ao mesmo tempo que estão disponíveis no resto do mundo".

E acrescenta que, "no nosso esforço constante para fazer que os nossos serviços estejam disponíveis em todo o lado, se recebemos um pedido válido e apropriado por parte de uma entidade autorizada, pode ser necessário impedir o acesso de certo conteúdo num país determinado, de vez em quando".

O Twitter defende-se também prometendo publicar uma notificação de censura sempre que retirar um tweet a pedido de algum governo, alguma empresa ou algum indivíduo, e publicar no site chillingeffects.org o pedido que deu origem a essa medida.

O diretor-geral do Twitter, Alexander Macgilliviray, citado pela Al Jazeera, também defende a novidade, sustentando que "isto é uma coisa boa para a liberdade de expressão. Trata-se de manter o conteúdo sempre que podemos e de ser extremamente transparente com o mundo sempre que o não fazemos. Espero que as pessoas compreendam que a nossa filosofia não mudou".

Defesa nem sempre convence

Mas, ao criar a possibilidade de um apagamento de mensagens apenas no país onde elas são indesejadas, o Twitter está a tornar muito mais provável um apagamento frequente a pedido ou sob pressão dos regimes em causa.

Assim o entendem pelo menos os utilizadores que apelaram a um boicote hoje, sábado, e tiveram para isso o apoio de organizações como a RSF. Esta enviou uma carta ao fundador do Twitter, Jack Dorsey, explicando a sua adesão ao protesto, que se identificava com #TwitterBlackout.

A carta da RSF sublinha, entre outros efeitos da novidade introduzida pelo Twitter, os danos que ela causa aos dissidentes vivendo sob regimes autoritários ou ditatoriais. A carta manifesta a preocupação por uma decisão "que não é mais do que a censura à escala local, em colaboração com as autoridades e em conformidade com as legislações locais que muitas vezes estão em contradição com os padrões internacionais em matéria de liberdade de expressão".

Também a rede de ciberactivistas Anonymous denunciou com veemência esta inovação, mas, ao contrário de alguma informação que chegou a circular, recusou juntar-se ao "apagão" que a RSF e outras organizações promoveram. Na sua conta oficial de Twitter, a Anonymous afirmou que considera "mais importante do que nunca divulgar informação".

Para o famoso dissidente chinês Ai Weiwei, pelo contrário, já bastam os dissabores que a censura oficial traz aos utilizadores do Twitter. Este, visto até agora como um baluarte da liberdade de expressão, torna-se assim um alvo da crítica do dissidente: "Se o Twitter censura, deixo de tweetar".

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