Luís Rainha –
Jornal i, opinião
A campanha do Banco
Alimentar Contra a Fome correu bem. E parece que as “elites bem-pensantes”
levaram uma “lição”: a generosidade dos portugueses é para ser lida como um
cheque em branco a Isabel Jonet. Vamos então desculpar a sua atracção doentia
por câmaras e microfones, assim como as peregrinas teses segundo as quais “cá
em Portugal não existe miséria” e a nossa pobreza só se deve a uma
incontrolável vontade de comer “bifes todos os dias”.
Esta candidata a
madre Teresa, tão amiga dos famélicos que aceitam a vontade de Deus, sabe que a
culpa é nossa. Mesmo a fome que muitas crianças hoje levam para a escola e para
os hospitais “é inexplicável. Deve-se, em parte, à não responsabilização e
falta de tempo dos pais”. Claro. Convém que não nos lembremos de procurar
explicações alhures. Convém que a solidariedade se cumpra e esgote nas caixas
dos supermercados – se estes ganharem algo pelo caminho, melhor ainda. Senão,
as massas ainda se lembram de não se queixar das greves, de não maldizer os
estivadores, de não votar nos do costume.
A “Mónica” que
Sophia caricaturou vive. Agarrada à sua missão de sempre: anestesiar a dor que
a miséria alheia nos causa. Dar-lhe um lenitivo fácil e barato. Deixar-nos a
consciência limpa, satisfeita, em paz com um mundo cada vez mais impiedoso.
Então se já demos uns quilos de arroz, não precisamos de fazer mais, certo?
Agora, o patusco
ministro da Vespa descobriu que temos 2,6 milhões de quase-pobres. Nada que um
cheque à tia Isabel não resolva.
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