quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Portugal: BANQUEIROS DA FOME

 


Luís Rainha – Jornal i, opinião
 
A campanha do Banco Alimentar Contra a Fome correu bem. E parece que as “elites bem-pensantes” levaram uma “lição”: a generosidade dos portugueses é para ser lida como um cheque em branco a Isabel Jonet. Vamos então desculpar a sua atracção doentia por câmaras e microfones, assim como as peregrinas teses segundo as quais “cá em Portugal não existe miséria” e a nossa pobreza só se deve a uma incontrolável vontade de comer “bifes todos os dias”.
 
Esta candidata a madre Teresa, tão amiga dos famélicos que aceitam a vontade de Deus, sabe que a culpa é nossa. Mesmo a fome que muitas crianças hoje levam para a escola e para os hospitais “é inexplicável. Deve-se, em parte, à não responsabilização e falta de tempo dos pais”. Claro. Convém que não nos lembremos de procurar explicações alhures. Convém que a solidariedade se cumpra e esgote nas caixas dos supermercados – se estes ganharem algo pelo caminho, melhor ainda. Senão, as massas ainda se lembram de não se queixar das greves, de não maldizer os estivadores, de não votar nos do costume.
 
A “Mónica” que Sophia caricaturou vive. Agarrada à sua missão de sempre: anestesiar a dor que a miséria alheia nos causa. Dar-lhe um lenitivo fácil e barato. Deixar-nos a consciência limpa, satisfeita, em paz com um mundo cada vez mais impiedoso. Então se já demos uns quilos de arroz, não precisamos de fazer mais, certo?
 
Agora, o patusco ministro da Vespa descobriu que temos 2,6 milhões de quase-pobres. Nada que um cheque à tia Isabel não resolva.
 
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