sexta-feira, 25 de outubro de 2013

EUROPA-ESTADOS UNIDOS. A NOVA GUERRA FRIA

 

Joana Azevedo Viana – jornal i
 
Chanceler alemã, presidente francês e outros líderes europeus tentam coordenar resposta aos EUA perante escândalo de vigilância ilegal
 
"Espiar amigos é inaceitável." À chegada ao Conselho Europeu, Angela Merkel deu o tom do estado das relações transatlânticas entre os Estados Unidos e a Europa. O escândalo da vigilância ilegal agravou-se quando Angela Merkel telefonou a Barack Obama perante informações "verificáveis" de que o seu telemóvel foi monitorizado pela Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana. Horas depois dessa chamada, a chanceler alemã convocou o embaixador dos EUA em Berlim para exigir mais explicações sobre a alegação.
 
Com Merkel em Bruxelas para um encontro de líderes europeus, foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, que se encontrou com John Emerson, não sendo conhecidos pormenores desse encontro até ao fecho desta edição.
 
Ainda antes da reunião, Thomas de Maizière, ministro da Defesa e um dos mais próximos aliados da chanceler, dizia ao canal público alemão que, sendo os EUA o melhor amigo da Alemanha, "as coisas não podem continuar a funcionar assim".
 
"Se for verdade o que ouvimos [que o telemóvel de Merkel foi espiado], isso será muito mau. Já não podemos simplesmente voltar ao que era", sublinhou Maizière ao ARD numa dura declaração diplomática.
 
Quando a chanceler ligou a Obama exigindo explicações, o presidente americano garantiu-lhe que o seu telemóvel não está a ser nem será espiado, evitando, contudo, falar do passado. Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, recusou-se a comentar possíveis escutas no passado a Merkel.
 
O telefonema coincidiu com a aprovação no Parlamento Europeu de uma recomendação à Comissão (CE) de que suspenda o Programa de Detecção de Financiamento de Terrorismo, acordo de troca de dados bancários com os EUA, perante a suspeita de que o aliado espiou milhões de dados bancários de cidadãos da UE armazenados pela empresa SWIFT.
 
Apesar de a resolução não ser vinculativa, o escândalo da vigilância a Merkel levou ontem a Comissão Barroso a ter a primeira reacção em força desde as primeiras revelações há uns meses. "Chegou o momento de tomar medidas, e não apenas de fazer declarações", disse a vice-presidente da CE e comissária da Justiça, Vivianne Reding.
 
Durão Barroso adoptou um tom mais duro, mesmo sem falar explicitamente dos EUA: comparou o escândalo de espionagem com o que ocorria na antiga República Democrática Alemã. Na segunda-feira, François Hollande tinha já convocado o embaixador dos EUA em Paris para exigir explicações sobre alegações do "Le Monde" - com base em documentos confidenciais que o ex-consultor da NSA Edward Snowden tem divulgado - a dar conta de escutas a milhões de chamadas no país.
 
Ontem, fonte da diplomacia francesa avançou que Merkel e o presidente francês vão reunir-se hoje à margem da cimeira europeia para discutir o caso. "Este encontro bilateral, pedido por Merkel, não foi organizado por causa desse assunto, mas eles vão, evidentemente, falar sobre isso para coordenar uma reacção", indicou a fonte.
 
Foto Reuters
 
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