Joana Azevedo Viana – jornal i
Chanceler alemã,
presidente francês e outros líderes europeus tentam coordenar resposta aos EUA
perante escândalo de vigilância ilegal
"Espiar amigos
é inaceitável." À chegada ao Conselho Europeu, Angela Merkel deu o tom do
estado das relações transatlânticas entre os Estados Unidos e a Europa. O
escândalo da vigilância ilegal agravou-se quando Angela Merkel telefonou a
Barack Obama perante informações "verificáveis" de que o seu
telemóvel foi monitorizado pela Agência de Segurança Nacional (NSA)
norte-americana. Horas depois dessa chamada, a chanceler alemã convocou o
embaixador dos EUA em Berlim para exigir mais explicações sobre a alegação.
Com Merkel em
Bruxelas para um encontro de líderes europeus, foi o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Guido Westerwelle, que se encontrou com John Emerson, não sendo
conhecidos pormenores desse encontro até ao fecho desta edição.
Ainda antes da
reunião, Thomas de Maizière, ministro da Defesa e um dos mais próximos aliados
da chanceler, dizia ao canal público alemão que, sendo os EUA o melhor amigo da
Alemanha, "as coisas não podem continuar a funcionar assim".
"Se for
verdade o que ouvimos [que o telemóvel de Merkel foi espiado], isso será muito
mau. Já não podemos simplesmente voltar ao que era", sublinhou Maizière ao
ARD numa dura declaração diplomática.
Quando a chanceler
ligou a Obama exigindo explicações, o presidente americano garantiu-lhe que o seu
telemóvel não está a ser nem será espiado, evitando, contudo, falar do passado.
Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, recusou-se a comentar possíveis
escutas no passado a Merkel.
O telefonema
coincidiu com a aprovação no Parlamento Europeu de uma recomendação à Comissão
(CE) de que suspenda o Programa de Detecção de Financiamento de Terrorismo,
acordo de troca de dados bancários com os EUA, perante a suspeita de que o
aliado espiou milhões de dados bancários de cidadãos da UE armazenados pela empresa
SWIFT.
Apesar de a
resolução não ser vinculativa, o escândalo da vigilância a Merkel levou ontem a
Comissão Barroso a ter a primeira reacção em força desde as primeiras
revelações há uns meses. "Chegou o momento de tomar medidas, e não apenas
de fazer declarações", disse a vice-presidente da CE e comissária da
Justiça, Vivianne Reding.
Durão Barroso
adoptou um tom mais duro, mesmo sem falar explicitamente dos EUA: comparou o
escândalo de espionagem com o que ocorria na antiga República Democrática Alemã.
Na segunda-feira, François Hollande tinha já convocado o embaixador dos EUA em
Paris para exigir explicações sobre alegações do "Le Monde" - com
base em documentos confidenciais que o ex-consultor da NSA Edward Snowden tem
divulgado - a dar conta de escutas a milhões de chamadas no país.
Ontem, fonte da
diplomacia francesa avançou que Merkel e o presidente francês vão reunir-se
hoje à margem da cimeira europeia para discutir o caso. "Este encontro
bilateral, pedido por Merkel, não foi organizado por causa desse assunto, mas
eles vão, evidentemente, falar sobre isso para coordenar uma reacção",
indicou a fonte.
Foto Reuters
Leia mais em jornal
i
Sem comentários:
Enviar um comentário