domingo, 30 de março de 2014

Luta anti-corrupção na China pretende "combater ao mesmo tempo as moscas e os tigres"



António Caeiro, da Agência Lusa

Pequim, 30 mar (Lusa) - O Partido Comunista Chinês (PCC) assumiu há muito o combate à corrupção como "uma luta de vida ou de morte" para a sua permanência no poder, mas a atual campanha é considerada mais persistente e ampla do que era habitual.

Em menos de ano e meio, dezenas de quadros com estatuto de ministro ou vice-ministro foram presos, entre os quais vários líderes regionais e gestores de grandes empresas estatais associados a um antigo membro do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder.

Numa recente entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do ensaio "Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China" (2012), foi perentório: "Esta campanha contra a corrupção de alto nível é a mais sustentada desde o advento das reformas económicas, no início da década de 1980".

Após o XVIII Congresso do PCC, em novembro de 2012, a própria Comissão Central de Disciplina do partido ganhou um protagonismo inédito e o seu sítio na Internet, criado em setembro passado, já foi visitado 230 milhões de vezes.

O princípio enunciado pelo novo secretário-geral do partido e atual Presidente da República, Xi Jinping, tornou-se uma fórmula popular "Combater ao mesmo tempo os tigres e as moscas. Sem exceções".

Em 2013 foram investigados "31 funcionários de elevado perfil" e só este mês, houve mais três vice-governadores provinciais (de Yunnan, Hainan e Jiangxi), afastados por "graves violações da disciplina", a expressão habitualmente utilizada para designar os crimes de corrupção e abuso de poder.

Entre os "tigres" já capturados figuram um ex-vice-ministro da Segurança Pública, Li Dongsheng, e um ex-diretor do gabinete que supervisiona as grandes empresas estatais (SASSAC), Jiang Jiemin.

Ambos têm sido associados a Zhou Yongkang, antigo membro do Comité Permanente do Politburo, que foi responsável pelo aparelho de segurança da China e que segundo a imprensa de Hong Hong, está agora sob detenção domiciliária.

A atual campanha tem sido especialmente incisiva no setor da energia, e em particular na indústria petrolífera, onde Zhou Yongkang fez parte da sua carreira. Quatro administradores da China National Petroleum Corporation foram presos no verão passado.

Se Zhou Yongkang for incriminado será o mais alto líder do PCC a responder em tribunal por corrupção desde a fundação da República Popular da China, em 1949.

Bo Xilai, ex-secretário do PCC em Chongqing, condenado em setembro passado a prisão perpétua por corrupção, fraude e abuso do poder, era um dos 25 membros do Politburo, mas não pertencia ao seu Comité Permanente, na altura composto apenas por nove elementos.

Universidades e Forças Armadas estão também a ser investigadas, numa campanha que visa igualmente os banquetes faustosos, a compra de automóveis de luxo e outras manifestações de "extravagância" contrárias à "frugalidade" defendida pela nova liderança.

Há duas semanas, numa conferência de imprensa em direto pela televisão, o primeiro-ministro, Li Keqiang, prometeu "tolerância zero" com os funcionários corruptos e assegurou que a campanha anticorrupção "vai continuar com perseverança".

"Independentemente da posição que ocupa, quem violar a disciplina do Partido e a lei do país será punido de acordo com a lei", disse Li Keqiang.

O caso não é para menos: "Se não conseguirmos controlar essa questão, isso poderá ser fatal para o Partido e até causar o colapso do Partido e a queda do Estado", alertou o antecessor de Xi Jinping, Hu Jintao, no XVIII Congresso do PCC.

AC // VM - Lusa

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