António Caeiro, da
Agência Lusa
Pequim, 30 mar
(Lusa) - O Partido Comunista Chinês (PCC) assumiu há muito o combate à
corrupção como "uma luta de vida ou de morte" para a sua permanência
no poder, mas a atual campanha é considerada mais persistente e ampla do que
era habitual.
Em menos de ano e
meio, dezenas de quadros com estatuto de ministro ou vice-ministro foram
presos, entre os quais vários líderes regionais e gestores de grandes empresas
estatais associados a um antigo membro do Comité Permanente do Politburo do
PCC, a cúpula do poder.
Numa recente
entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do ensaio
"Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China" (2012),
foi perentório: "Esta campanha contra a corrupção de alto nível é a mais
sustentada desde o advento das reformas económicas, no início da década de
1980".
Após o XVIII
Congresso do PCC, em novembro de 2012, a própria Comissão Central de Disciplina
do partido ganhou um protagonismo inédito e o seu sítio na Internet, criado em
setembro passado, já foi visitado 230 milhões de vezes.
O princípio
enunciado pelo novo secretário-geral do partido e atual Presidente da
República, Xi Jinping, tornou-se uma fórmula popular "Combater ao mesmo
tempo os tigres e as moscas. Sem exceções".
Em 2013 foram
investigados "31 funcionários de elevado perfil" e só este mês, houve
mais três vice-governadores provinciais (de Yunnan, Hainan e Jiangxi),
afastados por "graves violações da disciplina", a expressão
habitualmente utilizada para designar os crimes de corrupção e abuso de poder.
Entre os
"tigres" já capturados figuram um ex-vice-ministro da Segurança
Pública, Li Dongsheng, e um ex-diretor do gabinete que supervisiona as grandes
empresas estatais (SASSAC), Jiang Jiemin.
Ambos têm sido
associados a Zhou Yongkang, antigo membro do Comité Permanente do Politburo,
que foi responsável pelo aparelho de segurança da China e que segundo a
imprensa de Hong Hong, está agora sob detenção domiciliária.
A atual campanha
tem sido especialmente incisiva no setor da energia, e em particular na
indústria petrolífera, onde Zhou Yongkang fez parte da sua carreira. Quatro
administradores da China National Petroleum Corporation foram presos no verão
passado.
Se Zhou Yongkang
for incriminado será o mais alto líder do PCC a responder em tribunal por
corrupção desde a fundação da República Popular da China, em 1949.
Bo Xilai,
ex-secretário do PCC em Chongqing, condenado em setembro passado a prisão
perpétua por corrupção, fraude e abuso do poder, era um dos 25 membros do
Politburo, mas não pertencia ao seu Comité Permanente, na altura composto
apenas por nove elementos.
Universidades e
Forças Armadas estão também a ser investigadas, numa campanha que visa
igualmente os banquetes faustosos, a compra de automóveis de luxo e outras
manifestações de "extravagância" contrárias à "frugalidade"
defendida pela nova liderança.
Há duas semanas,
numa conferência de imprensa em direto pela televisão, o primeiro-ministro, Li
Keqiang, prometeu "tolerância zero" com os funcionários corruptos e
assegurou que a campanha anticorrupção "vai continuar com perseverança".
"Independentemente
da posição que ocupa, quem violar a disciplina do Partido e a lei do país será
punido de acordo com a lei", disse Li Keqiang.
O caso não é para
menos: "Se não conseguirmos controlar essa questão, isso poderá ser fatal
para o Partido e até causar o colapso do Partido e a queda do Estado",
alertou o antecessor de Xi Jinping, Hu Jintao, no XVIII Congresso do PCC.
AC // VM - Lusa
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