Nicolau Santos –
Expresso, opinião
Esta semana o país
ficou a saber que nas Finanças se está a cogitar como será possível transformar
em definitivos os cortes nas pensões que o primeiro-ministro, o
vice-primeiro-ministro e a ministra das Finanças tem dito repetidamente serem
temporários.
Aliás, foi com este
argumento - que os cortes seriam temporários - que o Tribunal Constitucional
autorizou que os cortes fossem aplicados até ao final do programa de
ajustamento a 17 de maio deste ano ou, no máximo, até 31 de dezembro de 2014.
Mas como já se
percebeu a redução da despesa pública tem sido conseguida até agora
essencialmente pelo corte nos salários da Função Pública e nas pensões. Se
forem levantados esses cortes, regressa o pecado consumista: ele serão os
funcionários públicos a comprar roupa, sapatos novos e a jantar fora, os
reformados a viajar e a dar dinheiro aos netos, que por sua vez irão comprar
ténis e bermudas de marcas internacionais e, está-se mesmo a ver o que
acontece: regressam de imediato os desequilíbrios financeiros que nos conduziram
ao pedido de ajuda internacional.
Como é óbvio, os
nossos credores não vão gostar que tudo volte à estaca zero. O Governo não vai
gostar de perceber que afinal todo o seu esforço para mudar a alma dos
portugueses foi em vão. E o povo não vai gostar de perceber que nunca mais vai
ver as pensões, reformas e salários que lhes foram tirados.
Ora, para
transformar os cortes temporários em definitivos o Governo quer indexá-los à
evolução da demografia e da economia. São dois enormes riscos. No caso da demografia,
o dr. Passos já anunciou que todos os que emigraram podem desde já voltar
porque o país está muito melhor. Se isso acontecer, alguns virão já com filhos
mas outros começarão a procriar com grande afinco dada a rede social que o
Estado português lhes oferece. E isso fará crescer a população e irá
inflacionar as pensões. Por sua vez, ninguém garante que a economia, em vez de
crescimentos abaixo de 2% até 2016, não toma o freio nos dentes e não desata a
crescer a taxas de 4% ou mais - o que inflacionará de novo as pensões.
Penso que é mais
seguro utilizar outro indexante, que seja mais claro para todos e menos
passível de conduzir aos resultados que o Governo não quer. Assim, proponho que
as pensões fiquem congeladas enquanto o Arouca estiver no campeonato principal
de futebol do país. Quando cair de divisão, as pensões descem. E quanto o
Arouca for campeão, então finalmente as pensões subirão. Mas só se o Arouca for
campeão três vezes e todas seguidas. Assim toda a gente percebe quando é que
serão repostas as pensões que foram temporariamente cortadas.
Ler mais em PG
Sem comentários:
Enviar um comentário