Lisboa, 07 abr
(Lusa) -- O bispo timorense Basílio do Nascimento considerou hoje que os
recentes confrontos entre a polícia e ex-guerrilheiros acantonados em Baucau
resultam de "um ajuste de contas entre irmãos do mesmo ofício" e
mostrou-se confiante de que o assunto ficou resolvido.
No mês passado, uma
operação da polícia timorense em Laga, a leste de Baucau, contra
ex-guerrilheiros ali acantonados provocou um ferido e a detenção de dois
homens.
A operação da
polícia ocorreu no âmbito de uma resolução aprovada pelo Parlamento timorense
que condenava o que considerou serem tentativas de instabilidade e ameaças ao
Estado protagonizadas pelo Conselho de Revolução Maubere, liderado pelo antigo
comandante da guerrilha Mauk Moruk, e pelo Conselho Popular da Defesa
(Democrático) da República de Timor-Leste (CPD-RDTL).
Em entrevista à
Lusa em Lisboa, o bispo Basílio do Nascimento considerou ter-se tratado de
"um ajuste de contas entre irmãos do mesmo oficio que andaram no
mato".
Recordou que Mauk
Moruk, cujo nome civil é Paulino Gama, tinha sido comandante da guerrilha antes
do atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e quando Xanana assumiu funções como
comandante "houve ali embates entre eles".
"Não sei se o
Paulino Gama, ou Mauk Moruk, engoliu esta pastilha", afirmou o bispo.
Segundo Basílio do
Nascimento, Moruk voltou agora para contestar Xanana e fê-lo invocando
"algumas razoes lógicas", nomeadamente o fraco desenvolvimento do
país e a corrupção.
"Como cidadão
tem toda a legitimidade para reclamar isso", afirmou o prelado,
sublinhando que é necessário fazer algumas distinções.
"Divergências
entre Xanana e Mauk Moruk são divergências entre guerrilheiros, não envolvam
nem o Estado nem o país; Divergências entre Paulino Gama e José Alexandre
Gusmão são divergências entre dois cidadãos, também tem o seu modo de resolver;
Agora divergências entre o cidadão Paulino Gama e o primeiro-ministro, isso já
é diferente", sublinhou Basílio do Nascimento.
Para o bispo,
quando alguém quer contestar a legitimidade do primeiro-ministro, a
constituição consagra fórmulas, e tentar ocupar o poder pela força não é uma
delas, por isso o parlamento decidiu aplicar a lei.
"A lei agiu, a
segurança teve de intervir e hoje a coisa está mais ou menos sanada",
disse o bispo, recordando que Mauk Moruk está hoje na prisão.
O prelado afirmou
que Timor-Leste se vai consciencializando de que, goste-se ou não dos
governantes atuais, da política atual, "há formulas, há caminhos que se
devem seguir para que isto seja bem resolvido e não criar outra vez trauma no
povo".
Basílio do
Nascimento mostrou-se confiante de que um novo conflito do género está
"completamente fora" de causa e afirmou que, embora Timor-Leste
funcione muito "com boatos" que fazem parecer que o país vive sempre
em pé de guerra, isso não acontece.
"Muitas vezes
as coisas acontecem apenas em Díli, ou em Baucau também, mas a nível de fim de
conflito creio que está mais ou menos sanado".
Mauk Moruk é o
antigo primeiro comandante das Brigadas Vermelhas das FALINTIL, que abandonou a
guerrilha em 1985. Segundo o próprio, entre 1985 e 1990 esteve internado no
hospital militar de Jacarta, tendo depois seguido para Portugal e daí para a
Holanda.
O ex-comandante
regressou a Timor-Leste em outubro e criou o Conselho de Revolução Maubere, que
exige a dissolução do parlamento, a demissão do Governo, a convocação de
eleições, a restauração da Constituição de 1975 e a alteração para um regime
presidencialista no país.
Lusa, em RTP
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